Economia
Logística no Brasil: empregos em alta e setor em expansão

De acordo com o Banco Nacional de Empregos (BNE), de janeiro a outubro de 2024, o aumento do número de vagas foi de 94,7% em relação ao mesmo período de 2023
Por Genivaldo Henrique e Tarsila Castro/Folha de Pernambuco
Versátil e em constante expansão, a área de logística vem se desenvolvendo em ritmo acelerado com investimentos crescentes e abertura de novas vagas de emprego. De acordo com o Banco Nacional de Empregos (BNE), de janeiro a outubro de 2024, o aumento do número de vagas foi de 94,7% em relação ao mesmo período de 2023, passando de 34,2 mil para 66,7 mil.
Segundo o Mapa do Trabalho Industrial, estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre 2025 e 2027, a expectativa é que a área oferte cerca de quatro milhões de vagas de emprego.
No Brasil, nos próximos 10 anos, serão desenvolvidos 500 novos projetos, com capacidade de investimento da ordem de R$ 750 bilhões em todos os setores da infraestrutura, de acordo com o Livro Azul da Infraestrutura 2024, lançado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB).
Em Pernambuco, ainda este ano, os investimentos serão da ordem de R$ 20 bilhões em novos projetos de infraestrutura na área de saneamento e no projeto do Arco Metropolitano, revelou o estudo.
Segundo o diretor de Economia e Planejamento da ABDIB, Roberto Guimarães, por meio dos dois projetos, a expectativa é de que, no Estado, sejam gerados 100 mil novos empregos.
“Usando a métrica do Fundo Monetário Internacional que cada um milhão de dólares investido em infraestrutura, gera em média 30 empregos, devem ser gerados em torno de 100 mil novos empregos no Estado de Pernambuco com esses dois projetos”, destacou.
Destaque
Referência no setor de logística, Pernambuco registrou um aumento de 17% na área locável de condomínios industriais e logísticos, superando a média nacional de 10,5%, entre o terceiro trimestre de 2023 e 2025, segundo dados do Serviço Nacional da Indústria (Senai) no Estado.
Para seguir nessa crescente, no entanto, há um avanço ainda mais importante a ser feito: investir na formação de uma mão de obra qualificada. De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial, o Brasil precisará qualificar 14 milhões de pessoas em ocupações industriais de 2025 a 2027.
Desses, 2,2 milhões são destinados à formação inicial – para reposição de inativos e preenchimento de novas vagas -, enquanto os demais 11,8 milhões deverão ser treinados e desenvolvidos, seja para atualização dos trabalhadores ou formação de novos.
Esse investimento pode vir em diversas frentes, mas é essencial, já que a área é estratégica para a economia. Uma força de trabalho qualificada impacta diretamente na eficiência operacional, redução de custos, segurança e sustentabilidade das operações logísticas.
Em entrevista à Folha de Pernambuco, a docente do Senai Cabo de Santo Agostinho, Taciany Pádua, explicou que o crescimento do setor no Estado ocorreu por conta da mudança no modelo de consumo brasileiro.
“Essa mudança foi confirmada no período de pandemia de Covid-19. Mudamos nosso hábito, comprando cada vez mais pela internet. Graças a isso o mercado também teve que se adaptar. Não temos mais essa preocupação de receber um produto daqui 20 ou 30 dias, desde que esse produto venha com qualidade. Então, com a alteração dessa dinâmica, houve a necessidade de ampliar essa atividade”, revelou.
Busca por qualificação
Para atender a essa mudança do modelo de consumo, houve um crescimento nas vagas de emprego no setor de logística. Essa realidade, no entanto, é relativamente nova. De 2023 para trás a área enfrentou diversos desafios para atrair mão de obra, com questões relacionadas, por exemplo, à infraestrutura das rodovias, aos incentivos fiscais e espaço para construção de centros logísticos.
Taciany Pádua explicou como esses dilemas foram enfrentados, ressaltando a importância de qualificar a mão de obra.
“O empecilho nisso está na mão de obra qualificada, então atuamos nessa formação. Se o mercado tem necessidade de mão de obra técnica, no Senai, ofertamos o curso de técnica em logística, em formatos EAD e o NEM – Novo Ensino Médio. Atendemos a modalidade de aprendizagem por meio do Jovem Aprendiz, que é um programa do Governo Federal. Com ele, temos um jovem trabalhando diretamente naquela área, já se preparando para o mercado de trabalho”.
Grande parte dos trabalhadores do setor de logística passam por cursos de formação ou especialização, como os mencionados por Taciany Pádua. No Senai, a carga horária varia entre 160 e 510 horas para qualificação, voltado para quem não tem conhecimento na área; 960 e 1200 horas para o nível técnico; 960 e 1360 horas com o programa Jovem Aprendiz; e 14 e 32 horas na modalidade de Formação Continuada.
A última formação oferece cursos voltados para quem já está empregado na área, mas precisa se atualizar para desempenhar as funções de forma mais qualificada.
“Muitos acabam tendo o interesse de fazer outros cursos aqui no Senai. Temos muitos alunos migrando, buscando um curso técnico, porque viram que são áreas com um potencial de crescimento. Um dos nossos objetivos é desenvolver capacidades, e uma delas é análise crítica. E eles conseguem ver essa nossa realidade de distribuição e crescimento no mercado”, completou.
Para o diretor da ABDIB, Roberto Guimarães, com o aumento dos projetos na área de infraestrutura, o mercado sente falta de mão de obra qualificada em todos os níveis, desde operários de construção civil até gerência e diretoria de empresas.
“Agora, as grandes empresas estão criando e executando cursos de aperfeiçoamento de mão de obra para melhor qualificar e poder dar conta de todos esses projetos. Sem uma mão de obra adequada, treinada e qualificada, não adianta ter projetos e dinheiro. Precisamos ter mão de obra para tocar tudo isso”, ressaltou.
A Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) também oferece formações para quem deseja atuar na área. Com duração de dois anos (quatro semestres), o curso de Tecnologia em Logística EAD oferece ao estudante um ensino detalhado sobre o setor da logística.
Durante a formação, o estudante também recebe duas certificações intermediárias por competências para os cargos de Assistente em Logística e Analista em Logística.
Segundo o coordenador do curso, Silas Figueira, a formação mescla a teoria e a prática, com webaulas que abordam temas diversos da logística e projetos integradores extensionistas.
“A gente tem três blocos. O primeiro bloco da formação básica o estudante vai estar fazendo administração básica, planejamento estratégico empresarial, inovação nas organizações, matemática financeira. Nas específicas de logísticas, vamos ter cadeia de suprimento, logística empresarial, logística internacional, comércio exterior, sistemas de transporte. E, por fim, a terceira parte reúne os projetos integradores com os conhecimentos adquiridos nas disciplinas em uma atividade prática e extensionista”, disse.
Ainda de acordo com Figueira, o cenário de empregos na logística é crescente com oportunidades não só em Pernambuco e no Nordeste, mas em todo o Brasil e no exterior.
“É um cenário de expansão em toda a cadeia. A gente vê um aumento na movimentação de carga e investimentos sendo realizados no polo de Suape. E isso nos traz uma perspectiva de geração de postos de trabalho e emprego muito boas”, destacou.

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