Lula destaca respeito na relação do Brasil com Cuba

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quinta-feira (14) o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba e defendeu o Programa Mais Médicos, iniciado em 2013 com a cooperação cubana, ressaltando que o Brasil mantém uma relação de respeito com Cuba.

Na quarta-feira (13), o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou a revogação de vistos de servidores públicos brasileiros e ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) que participaram do programa de cooperação médica cubana, incluindo familiares desses profissionais.

Os vistos revogados incluem os de Mozart Julio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, ex-assessor de relações internacionais do ministério e atual coordenador-geral da COP30.

Lula afirmou em evento em Goiana, Pernambuco: “Eles revogaram o visto do Mozart por causa de Cuba. É importante que saibam que nossa relação com Cuba é de respeito a um povo que sofre um bloqueio injustificado há sete décadas. Os Estados Unidos deveriam aceitar a derrota e deixar os cubanos viverem em paz e liberdade, sem tentativas de controle global.”

O bloqueio que os EUA impõem desde a Revolução Cubana, em 1959, tem como objetivo alterar o regime político da ilha. Diante dessa situação, Cuba tem como uma das principais fontes de recursos a exportação de médicos. Desde o início do segundo mandato de Donald Trump, os EUA vêm tentando pressionar países que recebem profissionais cubanos.

Países do Caribe, como São Vicente e Granadinas, Barbados e Trinidad e Tobago, defenderam os acordos de cooperação médica com Cuba frente às críticas dos EUA.

O programa de cooperação médica cubana existe desde os anos 1960, tendo mais de 600 mil médicos atuando em 165 países, incluindo Portugal, Ucrânia, Rússia, Espanha, Argélia e Chile. No Brasil, a participação dos médicos cubanos no Mais Médicos, via OPAS, durou de 2013 a 2018.

Lula destacou que o Mais Médicos foi criado para suprir faltas de atendimento médico em regiões carentes do país, muitas vezes negligenciadas por médicos brasileiros devido à precariedade ou isolamento. O programa foi reformulado e ampliado em seu terceiro mandato.

“Ao criar o Mais Médicos, enfrentamos críticas de setores elitistas da medicina que negavam a falta de médicos. No entanto, prefeitos sabem que a carência é real, especialmente em áreas periféricas e violentas, onde profissionais não desejam trabalhar. Cabe ao governo decidir onde alocar esses médicos”, afirmou Lula.

Soberania na saúde

Lula participou da inauguração de unidades produtoras de medicamentos hemoderivados da Hemobrás em Goiana, Pernambuco. Esses blocos permitirão ao Brasil alcançar autonomia na produção de medicamentos obtidos a partir do plasma humano doado em hemocentros pelo país.

Investindo R$ 1,9 bilhão, a planta produzirá medicamentos essenciais para tratamento de queimaduras graves, pacientes em UTIs, hemofilias, doenças raras e grandes cirurgias. Lula ressaltou que esta é uma conquista importante para a soberania nacional e a autossuficiência do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A Hemobrás chegou para ficar e comprovar que o Brasil é soberano, sem temer sanções recentes dos Estados Unidos”, afirmou Lula.

A Hemobrás hoje abastece o sistema público por meio de tecnologia transferida. Em 2024, entregou um recorde de 552 mil frascos de hemoderivados e 870 milhões de unidades internacionais de medicamentos recombinantes. A nova fábrica permitirá atingir a produção anual de 500 mil litros de plasma fracionado e seis tipos diferentes de medicamentos.

Após a inauguração dos blocos de fracionamento, envase e liofilização, a fábrica iniciou a qualificação de processos, exigência da indústria farmacêutica. Espera-se que no próximo ano a produção nacional de plasma fracionado inicie, produzindo as proteínas base para os medicamentos.

Vinculada ao Ministério da Saúde, a Hemobrás coleta plasma excedente de 72 hemocentros públicos no Brasil, que antes era processado no exterior. Em 2023, inaugurou a fábrica de medicamentos biotecnológicos, onde já empacota o Hemo-8r, medicamento vital para hemofilia A.

Após as inspeções e certificações da Anvisa, a planta está apta para realizar as etapas de produção nacional, com previsão de entrega de 300 mil frascos do Hemo-8r ao SUS até o fim de 2024. Seguem-se etapas para envase do lote inicial e fabricação de insumos ativos até 2026.

No mesmo dia, Lula visitou o Recife para anunciar novas ações do programa Agora Tem Especialistas e entregar títulos de regularização fundiária à comunidade de Brasília Teimosa.