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Economia

Lula e Haddad reagem às críticas do mercado financeiro

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Presidente renova as críticas a quem vincula suas falas à alta do dólar e volta a atacar especuladores. Ministro procura contemporizar e reafirma compromisso em cortar gastos, mantendo a atenção do governo aos vulneráveis

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reagiram ontem às críticas do mercado financeiro como “policial bom e policial mau”. Se Haddad adotou um tom conciliador e reconheceu a necessidade de ajustar a comunicação, Lula chamou de “cretinos” os que relacionam suas falas contra o corte de gastos à subida do dólar — incluindo jornalistas.

Os dois discursaram durante reunião do Conselhão, no Palácio do Itamaraty, para um público formado por boa parte dos ministros e representantes dos setores produtivo e financeiro. O governo também recebeu apoio público dos presidentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), embora tenham destacado a necessidade de cortar gastos — os dois fazem parte do Conselhão como representantes da sociedade civil.

“Ontem (anteontem), depois da minha entrevista ao Uol, saíram algumas manchetes de alguns comentaristas dizendo que o dólar tinha subido por causa da entrevista do Lula. Os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar a entrevista. Ou seja, esse mundo perverso de as pessoas colocarem para fora aquilo que querem, sem medir as consequências, é muito ruim”, discursou, irritado, o presidente Lula.

Já pressionada por fatores externos, a cotação do dólar acelerou logo após a entrevista do presidente na quarta, fechando o dia em R$ 5,519 — maior patamar dos últimos dois meses. Operadores apontam que as declarações públicas de Lula descartando o corte de gastos têm causado temor nos investidores, e não é de hoje. Críticas à independência do Banco Central na semana passada também foram malvistas.

Na avaliação de aliados do presidente, porém, ocorre um “ruído” entre o governo e o mercado financeiro, já que os indicadores econômicos concretos, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o desemprego, estão em bons patamares.

Lula também fez um alerta aos especuladores. “Pode ter certeza: quem estiver apostando em derivativo (especulando o mercado futuro) vai perder dinheiro. As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar e no fracasso do real. Eu vi isso em 2008. As pessoas achavam que era importante ganhar dinheiro apostando no dólar e quebraram a cara. Vão quebrar outra vez”, disse.

Após três dias em alta, o dólar fechou ontem em queda de 0,22%, cotado a R$ 5,5075. Contribuíram para acalmar os investidores as declarações de Lula de que “sempre há lugar para cortar no orçamento” e que o “Brasil tem muito subsídios e desoneração”.

Defesa

O presidente da República também saiu em defesa de Haddad, alvo de críticas após propor a limitação de créditos do PIS/Cofins como alternativa para compensar a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores e das prefeituras. Lula argumentou que não é contra a isenção de impostos, mas que as empresas deveriam apresentar contrapartidas aos trabalhadores, como a garantia de emprego. Quando a desoneração foi aprovada pelo Congresso, Lula vetou, mas os parlamentares reagiram.

“Foi derrubado o meu veto. Nós entramos na Suprema Corte, que deu um prazo para os empresários, Congresso e Fazenda darem uma alternativa. O Haddad pensou em uma alternativa. Você (Haddad) tomou tanta porrada, que eu jamais achei que esse moço tão bondoso seria tão achincalhado. E foi”, relatou o presidente. O chefe do Planalto aproveitou para passar outro recado. “Não fica nervoso não, Haddad. A responsabilidade de apresentar a compensação é dos empresários e do Senado. Se não apresentar, fica mantido o veto. É simples assim”, comentou.

Coube a Haddad, que discursou antes de Lula, apaziguar os investidores. Ele citou que incertezas no cenário externo, como a manutenção da taxa de juros americana e as eleições nos Estados Unidos e na França, estão causando turbulências no mercado brasileiro. Porém, defendeu que o país está no caminho certo, e citou a possibilidade de cortar gastos, apesar das ressalvas de Lula.

“A forma de proteger a nossa própria economia é acelerar a agenda de reformas econômicas, acelerar o desenvolvimento de políticas públicas. Buscar o ajuste fiscal, sim, pelo lado da receita e pelo lado da despesa, com inteligência”, explicou o ministro. Para o chefe da equipe econômica, é “absolutamente possível” Lula terminar o mandato com uma inflação média de 4% ao ano, e um crescimento médio de 3% do PIB. Assim, para Haddad, o país caminha para a menor inflação média de um mandato desde o Plano Real.

O ministro fez uma apresentação PowerPoint com diversos dados positivos da economia, incluindo os históricos de inflação, crescimento econômico e desemprego. Ainda assim, Haddad admitiu dificuldades do governo em comunicar o que está sendo feito.

“Nós reconhecemos a necessidade de encerrar as pressões dos gastos públicos. Desde que, como sempre lembra o presidente, cuidemos dos mais vulneráveis. Reconhecemos os desafios internos e externos. Temos que calibrar nossa comunicação, emitir os sinais corretos para toda a sociedade brasileira, de sustentabilidade social, fiscal e ambiental”, discursou o ministro da Fazenda.

O presidente da Febraban, Isaac Sidney, atribuiu a reação do mercado a ruídos e defendeu a atuação do governo. “Me parece que podemos afirmar que nós estamos distantes de um descontrole fiscal, mas nenhum país está imune. Não podemos baixar a guarda, e eu confio que o governo está atento a isso”, disse o banqueiro. Porém, frisou que é preciso controlar a inflação e ajustar as contas.

Já o presidente da CNI, Ricardo Alban, disse que a dívida pública brasileira em relação ao PIB é pequena se comparada com outros países, e fez um discurso alinhado com a visão de Lula. “Temos que, talvez, fazer uma reflexão entre a dívida pública boa e a ruim. Dívida pública boa é aquela que permite fazer investimento, geração de riqueza, emprego e desenvolvimento social”, afirmou.

Correio Braziliense

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