Economia
Lula leva empresários à Ásia e busca encontro com Trump

Após defender o multilateralismo e a soberania na última Assembleia Geral da ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para uma viagem à Ásia visando ampliar mercados para produtos brasileiros. Isso ocorre em meio à imposição de uma sobretaxa de 50% aplicada pelos Estados Unidos sobre os produtos do Brasil.
No final do mês, Lula participará de uma reunião organizada pela Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que ocorrerá na Malásia. O governo brasileiro também está empenhado em transformar Kuala Lumpur no possível local do aguardado encontro entre Lula e o presidente americano, Donald Trump. Ambos foram convidados para a cúpula da Asean, que reúne ainda líderes de países da União Europeia, China, Índia, Rússia e Japão. Caso ocorra, essa reunião poderá abrir caminho para negociações visando a eliminação da sobretaxa americana.
O convite para a cúpula foi realizado em julho pelo primeiro-ministro malásio, Anwar bin Ibrahim, marcando a primeira participação de um chefe de Estado brasileiro no evento.
A Asean, composta por países como Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Vietnã, Laos, Mianmar e Camboja, possui uma população de 680 milhões de habitantes e uma economia rápida crescente, com evolução tecnológica constante. Com PIB consolidado de US$ 4 trilhões, se fosse um país, seria a quarta maior economia mundial, atrás apenas dos EUA, China e Japão. Nas últimas duas décadas, o bloco asiático manteve um crescimento econômico estável de cerca de 5% ao ano.
Entre janeiro e agosto de 2025, o Brasil alcançou um superávit comercial de US$ 7,3 bilhões com os países da Asean. As exportações totalizaram US$ 5,2 bilhões, destacando-se produtos como óleos combustíveis, petróleo, farelo de soja e milho. As importações da região somaram US$ 7,9 bilhões, lideradas por transistores, válvulas, equipamentos de telecomunicações e óleos vegetais.
O governo brasileiro encara como desafios a eliminação de barreiras não tarifárias sobre produtos agropecuários e a diversificação da pauta exportadora, incluindo vendas de aviões civis e militares, produtos do setor de defesa e máquinas principalmente para produção de biocombustíveis, como o etanol.
Marcos Caramuru, ex-embaixador do Brasil na Malásia e na China, destaca que todas as oportunidades abertas possuem valor agregado neste cenário atual. Os países da Asean mantêm tarifas baixas e regulação enxuta, estando fortemente integrados à China.
Para competir na Asean, é necessário oferecer produtos que os membros não produzem ou aproveitar tarifas reduzidas decorrentes de acordos de livre comércio. Produtores de carne, que enfrentam tarifas elevadas nos Estados Unidos, estão conquistando espaço no Sudeste Asiático, merecendo apoio renovado na região, afirma Caramuru.
Antes de chegar à Malásia, Lula deve visitar Jacarta no dia 23 de outubro para receber o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, que visitou o Brasil em julho. O Mercosul, que recentemente fechou acordo comercial com Singapura, busca um tratado semelhante com a Indonésia, visando aproximar o bloco sul-americano da Asean, à semelhança das relações com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio.
Em Kuala Lumpur, onde chegará no dia 25 de outubro, Lula será recebido com honras pelo primeiro-ministro malásio, Anwar bin Ibrahim. O Brasil tem interesse numa parceria na área de semicondutores e na conquista do mercado halal, que demanda conformidade com preceitos islâmicos. A presença de empresas malaias como a estatal petrolífera Petronas e a Yinson é estratégica para setores de petróleo e gás.
A cúpula da Asean acontece no dia 26 de outubro, quando Lula deve defender o fortalecimento dos laços entre o Brasil e o bloco asiático.
Kuala Lumpur é um dos locais considerados para o encontro entre Lula e Donald Trump. Após o discurso do presidente brasileiro na ONU em defesa da soberania nacional, Trump anunciou a intenção de se reunir com Lula ainda esta semana. Os governos ainda definem a data e o local da reunião, a ser presencial ou não.
O gesto do presidente americano surpreendeu e trouxe alívio ao governo brasileiro, pelo menos temporariamente. Isso porque, até pouco tempo atrás, cidadãos brasileiros ligados à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro — incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e sua esposa, Viviane — enfrentavam sanções dos EUA que proibiam negócios e operações financeiras, além do cancelamento de vistos para entrar no país.

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