Lula vai à Argentina para encontro do Mercosul e visita Kirchner

O presidente argentino, Javier Milei, receberá seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira (3), para uma cúpula do Mercosul marcada por um clima tenso entre os dois líderes e a autorização para que Lula visite a ex-presidente Cristina Kirchner, que está cumprindo prisão domiciliar.

Esta será a primeira vez que Lula visita a Argentina desde que Milei assumiu o cargo em dezembro de 2023, e não está prevista uma reunião bilateral entre eles.

Porém, o presidente brasileiro encontrará Cristina Kirchner, condenada a seis anos de prisão por corrupção, à qual já manifestou apoio público. A visita pode ocorrer na quinta-feira, conforme autorização do tribunal.

O Mercosul, que inclui Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia, realiza sua cúpula semestral de chefes de Estado nestes dias no Palácio San Martín, em Buenos Aires.

Durante as reuniões, foi finalizado o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), formada por Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, o que deve ampliar o comércio entre os blocos.

A cúpula contará com a presença de Javier Milei, Lula, do paraguaio Santiago Peña, do uruguaio Yamandú Orsi e do boliviano Luis Arce.

Milei e Lula têm uma relação marcada por tensões. Admirador do americano Donald Trump, Milei já chamou Lula de “ladrão” e “corrupto”, enquanto Lula afirmou que o argentino fala “muita bobagem”.

Nos últimos meses, eles se evitaram em vários encontros, apesar de terem se encontrado em fóruns internacionais como o G20 no Rio de Janeiro.

A Argentina está à frente da presidência rotativa do Mercosul até esta quinta-feira, data em que Milei a passará para Lula durante a cúpula.

Visita a Cristina Kirchner

O foco político estará na reunião entre Lula e Cristina Kirchner, líder do Partido Justicialista e forte oposicionista a Milei. Kirchner teve sua sentença confirmada pela Suprema Corte e anunciou sua candidatura ao Legislativo da província de Buenos Aires.

Condenada a seis anos de prisão e inabilitação política permanente por administração fraudulenta, ela está em prisão domiciliar em um apartamento no bairro Constitución, em Buenos Aires.

Recebeu o benefício da prisão domiciliar por conta da idade, 72 anos.

Manifestantes demonstraram apoio a ela em uma grande marcha na Praça de Maio no dia 18 de junho deste ano, um dia após o início do cumprimento da sentença.

O tribunal avisou que não aceitará desordem nas proximidades da residência da ex-presidente, que se tornou um ponto frequente de manifestações de seus simpatizantes.

A visita de Lula só foi autorizada pelo tribunal, pois Cristina Kirchner tem permissão para receber apenas familiares, médicos e advogados.

Desentendimentos

Este encontro ocorre em um momento delicado para as relações entre Brasil e Argentina, que vivem um dos períodos de maior conflito político nos últimos anos, segundo Ariel González Levaggi, diretor do Centro de Estudos Internacionais da Universidade Católica Argentina.

Juliana Peixoto, especialista em Relações Internacionais da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, também concorda que as divergências políticas são profundas.

Apesar das diferenças, os países fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) concordaram em aumentar em 50 itens por país a isenção da tarifa externa comum.

Gisela Padovan, secretária para América Latina e Caribe do Itamaraty, explicou que o acordo atende a um pedido da Argentina em razão das condições globais relacionadas às tarifas.

Além disso, a cúpula pretende reafirmar a relevância do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, firmado em dezembro do ano passado após 25 anos de negociações, mas que precisa ser ratificado pelos países europeus e enfrenta resistência da França.

A Comissão Europeia anunciou que nos próximos dias apresentará o texto legal do acordo para iniciar seu processo de ratificação.

Atualmente, o avanço do acordo depende da posição da Europa, ressaltou González Levaggi.