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Macron e o reconhecimento da Palestina: desafios diplomáticos

O presidente francês Emmanuel Macron mudou sua postura diplomática ao passar de um forte apoio a Israel para reconhecer o Estado da Palestina, uma decisão que gerou reação negativa do governo israelense e de parte da própria França.
Com o segundo mandato previsto para terminar em 2027, Macron anunciou em Nova York que a França reconhece oficialmente a Palestina, considerando esse ato um marco significativo de sua administração, conforme destacou um de seus colaboradores.
Este gesto pode ser visto como uma conquista para a França, rememorando o posicionamento contrário à intervenção americana no Iraque em 2003, segundo Michel Duclos, ex-embaixador e especialista do Instituto Montaigne.
Logo após o ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, Macron apoiou firmemente Israel, afirmando o direito do país à defesa contra grupos terroristas. Contudo, ele também ressaltou a importância de proteger civis e indicou que a paz duradoura dependeria da existência de um Estado palestino.
Com o agravamento da ofensiva israelense em Gaza, o presidente francês passou a pedir um cessar-fogo e a criticar as operações militares de Israel. No início de 2024, indicou que a França não vê a questão do reconhecimento palestino como um tabu, mesmo que a implementação efetiva desse reconhecimento tenha demorado meses para acontecer.
A decisão de reconhecer a Palestina é vista como um instrumento diplomático para pressionar o governo de Benjamin Netanyahu. A preocupação era de que Macron pudesse ser criticado por não agir diante da crise humanitária em Gaza.
Embora outros países como Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal também estejam reconhecendo o Estado palestino, a medida da França pode ter impacto reduzido sem o apoio dos Estados Unidos.
Michel Duclos complementa que o real efeito do reconhecimento dependerá da participação eleitoral do ex-presidente Donald Trump, que tem interesse em avançar os acordos de normalização entre países árabes e Israel, conhecidos como os Acordos de Abraão.
Esta decisão provavelmente vai congelar ainda mais as relações entre França e Israel, que já anunciou medidas retaliatórias. A situação dos palestinos também pode ser prejudicada por essa reação.
Em agosto, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu acusou Macron de fomentar sentimentos antissemitas, enquanto o presidente francês defende que o reconhecimento da Palestina pode ser um meio eficaz para isolar o Hamas, que resiste a uma solução de dois Estados.
A comunidade judaica da França, que é a maior da Europa, demonstrou descontentamento com esta decisão, expressando preocupação e desconfiando do comprometimento do presidente com a segurança deles. Marc Sindres, um membro da comunidade, afirmou que atualmente há uma total falta de confiança no presidente como protetor da segurança judaica.

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