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Maioria da América Latina expressa receio com presença dos EUA no Caribe

A maior parte dos países membros da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), incluindo Brasil, México e Colômbia, demonstrou uma profunda apreensão quanto à movimentação militar de origem extrarregional no Caribe.
O comunicado alude indiretamente ao deslocamento de embarcações navais, submarinos e tropas dos Estados Unidos (EUA) nas imediações da costa venezuelana. Argentina, Equador, Peru e Paraguai optaram por não endossar essa declaração.
O documento enfatiza que a América Latina e o Caribe foram declarados Zona de Paz, um compromisso firmado por todos os países membros, baseado em princípios como a rejeição da ameaça ou uso da força, a resolução pacífica de conflitos, o incentivo ao diálogo e ao multilateralismo, além do respeito absoluto à soberania e integridade territorial.
A carta foi assinada por países como Brasil, México, Colômbia, Bolívia, Chile, Suriname, Uruguai e Venezuela; pelos países da América Central Honduras, Guatemala, Belize e Nicarágua; e por nações caribenhas como República Dominicana, Cuba, Barbados, Antígua e Barbuda, Granada, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Dominica.
Países como Argentina, Equador, Paraguai, Peru, Costa Rica, El Salvador, Guiana, Jamaica e Trinidad e Tobago não apoiaram o documento. O atual presidente da Celac, Gustavo Petro, líder da Colômbia, informou que essa minoria divergiu da posição adotada pela maioria.
Tensão crescente
A nota da Celac foi divulgada em meio a um aumento nas tensões diplomáticas entre os EUA e a Venezuela. Durante a gestão do ex-presidente Donald Trump, navios e submarinos militares foram posicionados perto da costa venezuelana sob a justificativa de combater o tráfico de drogas, enquanto acusava o governo de Nicolás Maduro de comandar uma rede narcotraficante.
Maduro rejeitou essas alegações, acusando os EUA de utilizarem a luta contra o narcotráfico para tentar promover uma substituição do regime governamental de seu país, que possui as maiores reservas petrolíferas do mundo. Especialistas consultados desconsideram o rótulo de “narcoestado” atribuído à Venezuela pelo governo americano.
Recentemente, o Departamento de Defesa dos EUA acusou a Venezuela de operações aéreas militares próximas a um navio americano em águas internacionais, classificando a ação como provocativa e destinada a prejudicar os esforços antinarcóticos norte-americanos. Até o momento, a Venezuela não respondeu a essa acusação.
Fontes apontaram que os EUA enviaram 10 caças F-35 para Porto Rico, parte do território estadunidense no Caribe, para fortalecer a presença militar na região e realizar operações contra cartéis de drogas.
No início do mês, Donald Trump divulgou imagens de um ataque a um barco suspeito de tráfico próximo à Venezuela, que resultou na morte de 11 pessoas. O governo venezuelano acusou o uso de inteligência artificial na montagem do vídeo pelo lado americano. Paralelamente, Maduro convocou civis para integrarem as Milícias Bolivarianas, uma força auxiliar paramilitar, envolvendo cerca de 8 milhões de pessoas em todo o território.
Posição da Celac e contexto regional
Os países que endossaram a nota ressaltaram que o combate ao crime organizado e ao tráfico de entorpecentes deve ocorrer mediante cooperação e coordenação regional e internacional, respeitando o Direito Internacional. Também destacaram a importância do Tratado de Tlatelolco, que proíbe armas nucleares na região, como símbolo do compromisso coletivo com a paz e a segurança.
Repercussões diplomáticas
Em meio ao aumento das tensões, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, visitou México e Equador, reforçando críticas ao governo de Maduro e desconsiderando avaliações da ONU que minimizam o papel da Venezuela no tráfico global de drogas. Rubio afirmou categoricamente que Maduro é um traficante de drogas condenado nos EUA e um fugitivo da justiça.
O chanceler venezuelano, Yván Gil, respondeu às declarações de Rubio, defendendo a eficácia do país no combate ao narcotráfico e condenando acusações que classificou como infundadas e odiosas.
Gil também criticou a cooperação dos EUA com Equador, mencionando o presidente equatoriano Daniel Noboa e sua relação com o combate às drogas, em meio a acusações feitas pela Venezuela sobre o contrabando de cocaína em cargas de banana.
Noboa tem adotado uma postura rigorosa contra o crime organizado e apoia as iniciativas dos Estados Unidos no Caribe próximas à Venezuela.

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