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Economia

Mais da metade dos brasileiros fica sem dinheiro antes do mês acabar

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A constatação antiga de que o salário não dura até o fim do mês continua verdadeira para a maioria dos trabalhadores brasileiros. Em 2025, 54% dos trabalhadores registrados ou que atuam como Pessoa Jurídica (PJ) não conseguem manter o saldo em conta até o final do mês, segundo levantamento feito pela SalaryFits, empresa ligada à Serasa Experian.

Apesar de ser o menor índice desde 2018, quando a pesquisa teve início, ainda é preocupante que mais da metade dos brasileiros enfrente essa dificuldade. Para comparação, em 2024 esse percentual era de 62%, mostrando uma melhora de oito pontos percentuais.

A pesquisa ouviu 1.029 pessoas, entre funcionários de empresas públicas e privadas, sob regimes CLT e PJ, e revelou dados alarmantes. Por exemplo, 75% dos entrevistados não conseguem arcar com uma despesa inesperada de R$ 10 mil. Além disso, 66% passaram por algum problema financeiro nos últimos cinco anos, e 33% ficaram negativados no último ano, sendo que 17% ainda enfrentam dificuldades financeiras.

Délber Lage, CEO da SalaryFits, observa que “a maioria das pessoas está no limite do seu orçamento, e apenas 25% têm uma margem para despesas extras”. Para ele, a falta de opções de crédito acessível no curto prazo, especialmente diante dos juros altos, agrava a situação.

Crédito em curto prazo e impactos sociais

Nos anos 1990, os brasileiros contavam com instrumentos de crédito que facilitavam o controle financeiro, como a caderneta da mercearia e o cheque pré-datado, que hoje não existem mais. Atualmente, apenas a parcela mais rica da população que tem limites razoáveis no cartão de crédito pode usar esse tipo de recurso para equilibrar suas contas.

Segundo a economista Camila Abdelmalack, da Serasa Experian, o peso das dívidas básicas aumentou de 25,8% da renda em maio de 2024 para 27,3% em abril de 2025, conforme dados do Banco Central. Além disso, a inflação elevada em itens essenciais e serviços continua pressionando os orçamentos domésticos, mesmo com a melhora no mercado de trabalho e o crescimento real da renda.

Destinação do salário

Os gastos mais imediatos com itens essenciais, como alimentação e contas básicas — luz, água e gás —, consomem grande parte do salário dos brasileiros, segundo a pesquisa, alcançando 77% e 71%, respectivamente.

Despesas como financiamento de imóveis e veículos (52%), empréstimos (36%), compra de roupas e utensílios (33%) e educação (20%) também comprometem o orçamento.

Jeanderson dos Santos, 32 anos, que trabalha em telemarketing com carteira assinada e recebe R$ 1.800 por mês, relata que seu dinheiro desaparece rapidamente: “Recebo no quinto dia útil e no sexto já não sobra nada”. Entre suas principais despesas estão luz, água, celular, internet, cartão de crédito e empréstimos.

Para conseguir alguma folga financeira, realiza trabalhos extras como DJ aos fins de semana, conseguindo complementar sua renda em cerca de R$ 1.000 a R$ 1.400, o que ajuda a equilibrar sua conta.

Fontes de renda extra e educação financeira

A pesquisa aponta que, entre os 54% que não conseguem chegar ao fim do mês com o salário, 49% recorrem a fontes complementares para evitar o vermelho. Muitos usam linhas de crédito, como cartão de crédito (23%), cheque especial (12%) ou empréstimos, e outros contam com a ajuda financeira familiar.

Além disso, alguns trabalham como freelancers (8%) ou solicitam adiantamento salarial (3%). Porém, um grupo de 5% está em situação ainda mais crítica, sem conseguir dinheiro suficiente ou fontes extras de renda.

Délber Lage indica que o risco de inadimplência é maior entre aqueles que não conseguem fechar o mês com o salário. Ele enfatiza a necessidade de educação financeira e melhores produtos de crédito de curto prazo para aliviar a pressão momentânea e fortalecer o poder de compra.

Jeanderson dos Santos já enfrentou inadimplência e atualmente paga um financiamento para renegociar uma dívida de cerca de R$ 2 mil, contraída principalmente para compras de vestuário.

Apesar das dificuldades, ele percebe uma melhora na sua condição financeira com o passar do tempo e pretende buscar uma nova oportunidade de trabalho para aumentar seus ganhos. Além disso, busca capacitação financeira para controlar melhor seus gastos e evitar futuras inadimplências, problema que afeta especialmente os mais vulneráveis.

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