Economia
Mais da metade dos jovens saiu do Bolsa Família em 12 anos
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) revelou que, dos 15,5 milhões de jovens com idades entre 7 e 16 anos que recebiam benefícios do Bolsa Família como dependentes em dezembro de 2012, 10,3 milhões (aproximadamente 66,5%) conseguiram deixar o programa ao longo dos 12 anos seguintes, até 2024, demonstrando uma melhora na condição socioeconômica desses jovens.
Ainda assim, 5,2 milhões de jovens (33,5%) continuavam recebendo os benefícios no ano passado, evidenciando a permanência da pobreza e a complexidade dos processos de mobilidade social no Brasil.
De acordo com o IMDS, esses dados reforçam a importância da transferência de renda para o alívio imediato da pobreza, além de apontar para a necessidade de políticas adicionais nas áreas de educação, saúde e emprego para romper o ciclo da vulnerabilidade social.
Paulo Tafner, presidente do IMDS, destacou que “o estudo mostra que o Bolsa Família é essencial para garantir condições mínimas de vida, mas não basta para promover uma mobilidade social ampla e sustentável, pois não foi projetado para isso. É necessário combinar a transferência de renda com estratégias que fortaleçam a formação educacional e a inserção produtiva dos jovens”.
Ele também mencionou que a saída da pobreza pelos beneficiários está relacionada ao contexto macroeconômico do país, à escolaridade dos pais e à infraestrutura municipal. “Educação de qualidade e saneamento básico no município são fatores historicamente ligados à superação da pobreza”.
Sobre o Cadastro Único
O estudo também indicou que, dos 15,5 milhões de jovens analisados, 7,6 milhões se desligaram completamente do sistema de proteção social, deixando o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) até 2024. O CadÚnico é um banco de dados com informações detalhadas sobre famílias de baixa renda em todo o país, e essa saída sugere trajetórias significativas de ascensão social.
Foi observado que o desligamento do Cadastro Único estava associado às condições iniciais das famílias em 2012: famílias com responsáveis mais escolarizados e com renda um pouco maior tinham maior probabilidade de sair do cadastro, indicando um avanço social. No entanto, a baixa escolaridade dos jovens aumentou as chances de permanência no cadastro ao longo dos 12 anos.
Além disso, homens tiveram maior probabilidade de deixar o cadastro em comparação com mulheres, enquanto jovens negros e pardos apresentaram maior probabilidade de permanecer na rede de proteção social.
Desigualdades regionais e perfil dos beneficiários
O estudo também mostrou diferenças regionais significativas nas taxas de desligamento tanto do Bolsa Família quanto do CadÚnico. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentaram maiores taxas de saída do programa e do cadastro, enquanto no Nordeste e em parte da Amazônia Legal a permanência era maior, refletindo vulnerabilidades históricas.
No Nordeste, que concentrava a maior parte dos beneficiários em 2012, uma proporção maior de crianças e jovens ainda estava vinculada ao CadÚnico em 2024. Em contrapartida, o Sul e o Sudeste registraram mais desligamentos, indicando maior mobilidade social, embora existam áreas vulneráveis em regiões metropolitanas e rurais. O Centro-Oeste apresentou um cenário intermediário, com altas taxas de saída em áreas fronteiriças agrícolas e municípios economicamente mais ativos.

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