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Economia

Mais idosos trabalhando: o que isso revela sobre o mercado?

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José Alberto Soares Lins, aos 60 anos, é avô e pai de dois filhos adultos, mas ainda precisa trabalhar por mais cinco anos para alcançar a aposentadoria. Mesmo após isso, ele não planeja parar. Com o Ensino Médio completo, trabalhou com limpeza urbana e há mais de uma década atua como porteiro. Ele aprecia seu trabalho e sabe que a aposentadoria não será suficiente para manter as despesas da casa, por isso planeja continuar trabalhando para somar a renda futura.

— Quando eu me aposentar, pretendo continuar trabalhando por mais um tempo. É tranquilo — comenta seu Alberto, conhecido por seu sorriso e simpatia no prédio residencial onde trabalha em Brasília, durante o turno da noite.

De maneira similar, um número crescente de pessoas maduras permanece no mercado de trabalho, seja por necessidade ou por vontade própria. A população de trabalhadores com 60 anos ou mais cresceu 76% em pouco mais de uma década, aumentando de 4,9 milhões no segundo trimestre de 2012 para 8,6 milhões neste ano. Entre aqueles de 40 a 59 anos, o crescimento foi de 32%, passando de 31 milhões para 41 milhões no mesmo período.

Estes dados foram apurados por Rogério Nagamine, ex-secretário do Regime Geral da Previdência, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.

Segundo Nagamine, esse fenômeno é consequência da combinação do envelhecimento acelerado da população com a introdução da idade mínima para aposentadoria (65 anos para homens e 62 anos para mulheres) estabelecida pela Reforma da Previdência de 2019. Além disso, o contexto econômico também incentiva os brasileiros a trabalharem por mais tempo.

Mais vida, mais gastos

Com o aumento da expectativa de vida, cresce a necessidade financeira das pessoas em idade de se aposentar que ainda têm muitos anos pela frente. Paralelamente, a redução no número de jovens faz com que os profissionais mais experientes se tornem cada vez mais valiosos no mercado de trabalho.

— O grupo que mais aumentou entre os ocupados é o das pessoas com 60 anos ou mais — explica Nagamine. — Parte disso se deve ao envelhecimento populacional. Contudo, a taxa de participação dos idosos no mercado está em crescimento gradual.

Quando consideramos trabalhadores com 40 anos ou mais, esses profissionais representam quase metade do total de ocupados no Brasil. A funcionária pública Eloisa Biasuz planejara se aposentar em maio de 2020, mas foi surpreendida pela Reforma da Previdência, entrando numa regra de transição. Aos 57 anos, pretende seguir ativa até 2029 para evitar uma redução de 20% na aposentadoria:

— Antes da reforma, teria que trabalhar mais seis meses, agora são nove anos a mais para garantir uma pensão melhor.

Fátima Xavier, 55 anos, decidiu não esperar mais. Aposentou-se em janeiro de 2024 e, diante da queda na renda devido às novas regras, investiu em um negócio próprio para complementar seus ganhos. Ela abriu uma corretora de seguros e continua trabalhando. Com 19 anos de experiência bancária, capta clientes para seguros e consórcios.

— Enquanto trabalhei no banco, fiz um curso online de seguros e decidi abrir a corretora para complementar a renda, que cairia para um terço após a aposentadoria — relata Fátima, que tentou cargos melhores no banco, sem sucesso.

Menos jovens, mais idosos

O perfil demográfico indica que as empresas não poderão perder essa força de trabalho mais experiente tão facilmente. A faixa etária entre 25 e 39 anos cresceu apenas 3,6% em 13 anos, causando uma redução da sua participação no total de ocupados. O número de trabalhadores entre 18 e 24 anos diminuiu 6% desde 2012, e entre 14 e 17 anos houve uma queda de quase 50%, reflexo da menor taxa de natalidade e maior permanência dos jovens na escola. A redução da gravidez na adolescência, especialmente entre meninas, também contribui para o aumento dos anos estudados, comenta o professor visitante da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Eduardo Rios.

Uma tendência natural

O economista e doutorando em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Alexandre Oliveira Ribeiro, destaca que o aumento na ocupação de pessoas mais idosas é uma consequência natural do envelhecimento da população, associada às mudanças econômicas, comportamentais, políticas, legislativas, tecnológicas e de saúde, que juntas aumentam a participação desses trabalhadores no mercado.

Para ele, esse cenário exige políticas públicas que melhorem as condições de trabalho para pessoas mais velhas, em todos os segmentos socioeconômicos:

— Além de incentivar um envelhecimento ativo, é fundamental combater o preconceito etário e garantir que o Brasil se adapte rapidamente à nova realidade demográfica mundial.

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