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Maria Cândida nasceu em 1903 e morava em São Paulo desde 1969. Ela morreu de parada respiratória na manhã desta sexta-feira (14).
A idosa Maria Cândida, de 114 anos, morreu de parada respiratória na manhã desta sexta-feira (14), em casa, na Cangaíba, Zona Leste de São Paulo. Ela nasceu em 1903 em Minas Gerais e morava em São Paulo em 1969. Maria deixa 12 filhos e um sem número de netos, bisnetos e tataranetos.
No mês passado, a família comemorou seus 114 anos, completados no dia 7 de junho. Uma grande festa reuniu parentes na Cangaíba, e um bolo e balões infláveis ostentavam sua idade.
Da infância na roça à parteira de si mesma
Maria Cândida recebeu a equipe de reportagem do G1 na varanda da sua casa em setembro do ano passado. Ela passava os dias sentada em uma cadeira, olhando a rua e recebendo visitas. “Sei combinar com todo mundo. Não faço inimizade com ninguém. Sou assim, o que me darem eu como, o que me der eu bebo. Minha vida é viver sentada, caçoando com os outros, brincando, comendo feito uma doida”.
Na juventude, a rotina de Maria Cândida era bem diferente. Ela começou a trabalhar com 10 anos de idade, na zona rural de Minas Gerais, “no cabo da enxada, num sol”, ela diz, se demorando ao dizer sol. “[Trabalhava]Na roça, plantação, colheita, tudo. A diversão que eu tive de solteira foi roça”.
Ela também já foi parteira, só que… dela mesma. Cândida teve 12 filhos em casa. Nos primeiros, a parteira era sua mãe. Depois da morte da mãe, ela não confiava em mais ninguém para trazer seus filhos ao mundo. “Aprendi a ser parteira, cortei umbigo do meu filho, meu marido arregalava os olhos.”
Se no nascimento dos últimos filhos ela já tinha experiência até para ser a própria parteira, faltava muita informação quando nasceu o primeiro filho. “No dia que eu ganhei o menino, eu tenho até vergonha de contar”. Quando o bebê nasceu e Maria Cândida bateu o olho nele, ela caiu para um lado e a criança para outro. “Eu caí porque eu pensava que meu filho ia chegar vestido, enroladinho e de vestido, carapuça [uma espécie de gorro], calça jeans”.
“Daí de lá para cá eu fui virando gente, né, fia. Acho que não havia moça burra igual eu fui não”. Quando casou, no início do século XX, ela conta que não tinha nem “carro de gasolina”. “Cheguei em casa de tarde com o enxoval todo cheio de cinza, do trem”. Depois do casamento e dos filhos, vieram os netos, que já perdeu a conta, e os tataranetos. “O que vem depois de tataraneto?”, ela pergunta.
O casamento acabou com 35 anos de união. “Me largou com a filharada formada”, conta Maria. “Aí foi embora, aproveitou da vida nesse mundo. Eu, quieta com meus filhos, trabalhando, trabalhando”. Quando estava no fim da vida, o ex-marido disse para um dos filhos dizer a Maria Cândida que ele queria voltar para casa. “Falei que não, na minha casa não tem lugar. Passou dia, passou outro, ele morreu. Que voltar o que, ele me largou para lá. Largar é muito feio, né?”.
Hoje ela brinca que quer “um gato mais ou menos, e rico”. No bairro tem algum? “Aqui no bairro não tem gente rica”, e ri mais uma vez. Ao final da entrevista com a centenária, a pergunta clichê não poderia faltar. Qual o seu segredo? “O segredo é Deus, né. Deus que olha pela gente”.
Maria Cândida nasceu em 7 de junho de 1903, três dias antes que a catarinense Alida Rudge, considerada ‘a mais velha da América do Sul’de acordo com o ranking atualizado dos “supercentenários” da organização americana Gerontology Research Group.
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