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Microsoft ajuda Israel a monitorar palestinos na Europa, revela jornal
A vigilância em grande escala contra palestinos por Israel conta com o suporte da gigante mundial de software, Microsoft. Esta informação foi divulgada em uma investigação conjunta realizada pelo jornal britânico The Guardian, o canal hebraico Local Call e a Revista +972, com sede em Israel, publicada em 6 de dezembro.
De acordo com a apuração, a Unidade 8200 do Exército israelense mantém um acordo desde 2022 para guardar dados de vigilância, especialmente gravações de chamadas telefônicas, em servidores localizados na Europa. O objetivo é armazenar aproximadamente um milhão de gravações por hora.
Esse acordo foi estabelecido após uma reunião em Seattle, EUA, no final de 2021, entre o presidente da Microsoft, Satya Nadella, e o comandante da Unidade 8200, Yossi Sariel. Sariel obteve a garantia de acesso a uma área dedicada na plataforma de nuvem Azure da Microsoft.
A Microsoft afirmou desconhecer as especificidades dos dados armazenados, mas documentos internos e testemunhos indicam que o Azure foi usado para arquivar inúmeras comunicações diárias entre palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Fontes da Unidade 8200 revelaram que o sistema facilitou ataques aéreos e operações militares nesses territórios. Israel tem controle das telecomunicações palestinas, mas o uso da infraestrutura da Microsoft ampliou significativamente a capacidade de interceptação.
Frente à limitação de espaço nos servidores militares israelenses, foi escolhida a Microsoft para hospedar os dados, os quais são protegidos por sistemas avançados de segurança desenvolvidos conforme orientações da Unidade 8200. Essa informação sugere que arquivos sensíveis estão armazenados em servidores na Holanda e Irlanda.
Esses registros ajudam a identificar alvos de ataques e permitiram, por exemplo, mapear comunicações em áreas densamente povoadas antes de ataques aéreos. O uso intensificou-se durante a campanha militar na Faixa de Gaza, que resultou em mais de 60 mil mortos, em sua maioria civis, incluindo 18 mil crianças.
Inicialmente o foco foi a Cisjordânia, onde três milhões de palestinos vivem sob ocupação militar. Documentos indicam que os dados obtidos foram usados para chantagem, prisões e assassinatos, muitas vezes sem motivos legítimos.
Um porta-voz da Microsoft declarou não possuir informação sobre o conteúdo exato dos dados e destacou que o envolvimento da empresa se limita ao reforço da segurança cibernética e proteção contra ataques cibernéticos.
Funcionários da Microsoft e investidores pressionam a empresa devido a esse envolvimento, com protestos contra o papel da tecnologia da Microsoft nos conflitos em Gaza.
Vigilância Contínua
Yossi Sariel, que comandou a Unidade 8200 entre 2021 e 2024, liderou o projeto que expandiu o monitoramento depois de uma sequência de ataques jihadistas em 2015, priorizando a vigilância em massa com auxílio de inteligência artificial para extrair informações.
Quando assumiu a liderança da Unidade 8200, estabeleceu parceria com a Microsoft para ampliar as capacidades de armazenamento e análise. Registros internos indicam que ele não explicou explicitamente que as chamadas telefônicas seriam registradas, apenas mencionou dados confidenciais de ‘trabalhos sensíveis’.
Documentos indicam que engenheiros da Microsoft compreendiam que o Azure armazenaria informações brutas, incluindo arquivos de áudio, e que alguns funcionários da Microsoft em Israel, com passado na Unidade 8200, estavam cientes dos objetivos do projeto.
Até julho de 2024, estima-se que 11.500 terabytes de dados militares israelenses estão armazenados no Azure, equivalendo a 200 milhões de horas de áudio, embora parte desses dados possa pertencer a outras unidades militares além da Unidade 8200.
Fontes dizem que a parceria permitiu prevenir ataques fatais contra israelenses, sendo a proteção de vidas um motivo central para Sariel. Contudo, a vigilância não conseguiu evitar o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que causou quase 1.200 mortes e centenas de sequestros em Israel.
Yossi Sariel enfrentou críticas por priorizar tecnologias sofisticadas em detrimento de métodos tradicionais, o que, segundo críticos, contribuiu para falhas graves. Ele renunciou em 2023, assumindo parte da responsabilidade pelo fracasso da inteligência.

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