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Microsoft cancela contrato com Israel usado para vigiar palestinos

A gigante da tecnologia Microsoft anunciou, nesta quinta-feira (25), o cancelamento de seus contratos com o Ministério da Defesa de Israel. A decisão veio após investigação do jornal inglês The Guardian revelar que um software da empresa americana vinha sendo empregado para a vigilância em massa de palestinos.
Em uma carta endereçada aos funcionários da empresa, o presidente da Microsoft, Brad Smith, afirmou que a companhia confirmou a veracidade de partes da reportagem do The Guardian. Ele destacou que as medidas adotadas têm como objetivo garantir que os serviços da empresa não sejam utilizados para monitoramento em massa de civis, em conformidade com seus termos de serviço.
Brad Smith ressaltou que essa decisão não compromete o trabalho da Microsoft na proteção da segurança cibernética em Israel e outras nações do Oriente Médio. Ele também enfatizou que a empresa não fornece tecnologia para facilitar a vigilância em massa de civis, princípio que a empresa mantém globalmente há mais de vinte anos.
Para o sociólogo Sérgio Amadeu, especialista em tecnologias digitais, o comunicado não esclarece se a Microsoft possui mecanismos eficazes para impedir que suas tecnologias sejam utilizadas para espionagem em massa por forças militares. Sérgio Amadeu comentou que a empresa afirma não armazenar dados obtidos dessa vigilância, mas questiona como ela pode garantir isso. Ele também destacou o envolvimento das grandes empresas de tecnologia no fornecimento de sistemas de Inteligência Artificial para atividades de segurança e defesa.
Segundo a reportagem do The Guardian, Israel estaria utilizando uma nuvem da Microsoft para armazenar um vasto banco de dados com gravações de chamadas telefônicas de palestinos, com capacidade para armazenar até um milhão de chamadas por hora. O sistema teria sido utilizado para facilitar ataques militares na região de Gaza e na Cisjordânia. A Microsoft informou que, devido a compromissos de privacidade, não tem acesso aos dados usados pelo Ministério da Defesa de Israel.
O uso das tecnologias das grandes empresas de tecnologia está inserido no complexo militar-industrial dos Estados Unidos e seus aliados, como alerta o sociólogo Sérgio Amadeu. Ele explica que a Inteligência Artificial vem sendo empregada para identificação e eliminação de alvos na Faixa de Gaza, que teria sido o primeiro grande campo de testes desse tipo de tecnologia.
Sérgio Amadeu detalha que a IA coleta dados de redes sociais, bases geográficas e registros telefônicos para identificar padrões que indicariam possíveis militantes ou simpatizantes do Hamas. A partir dessas informações, alvos são selecionados para ações militares, inclusive fora das áreas de combate.
Em julho deste ano, a relatora especial da ONU para os Direitos Humanos na Palestina, Francesca Albanese, denunciou que várias empresas, incluindo gigantes da tecnologia como Microsoft, Alphabet (controladora do Google) e Amazon, têm apoiado a instalação de assentamentos ilegais em territórios palestinos e contribuído para operações militares na região. Ela alertou que, enquanto líderes políticos evitam assumir responsabilidades, algumas corporações têm lucrado com a economia da ocupação, apartheid e o que chamou de genocídio.

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