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Microsoft cancela contrato com Israel usado para vigiar palestinos

A gigante da tecnologia Microsoft anunciou, nesta quinta-feira (25), que cancelou contratos com o Ministério da Defesa de Israel após o jornal inglês The Guardian revelar que um software da companhia dos Estados Unidos (EUA) vinha sendo usado para monitoramento e vigilância em massa de palestinos.
Em carta enviada aos trabalhadores da big tech, o presidente da Microsoft, Brad Smith, disse que a empresa encontrou evidências que confirmam “elementos” da reportagem do The Guardian.
“As medidas que estamos tomando são para garantir a conformidade com nossos termos de serviço, com foco em garantir que nossos serviços não sejam usados para vigilância em massa de civis”, afirmou Brad Smith.
Ainda segundo o chefe da Microsoft, a decisão não afeta “o importante trabalho que a Microsoft continua a fazer para proteger a segurança cibernética de Israel e outros países no Oriente Médio”.
Brad Smith destacou ainda que a empresa não fornece tecnologia para facilitar a vigilância em massa de civis. “Aplicamos esse princípio em todos os países do mundo e insistimos nele repetidamente por mais de duas décadas”, acrescentou.
Para o sociólogo Sérgio Amadeu, especialista em tecnologias digitais, o comunicado da Microsoft não esclarece se a empresa dispõe de mecanismos eficazes para impedir a vigilância em massa de civis por forças militares.
“A empresa afirma que não armazena dados obtidos por meio da vigilância de palestinos por Israel. Como ela tem essa certeza? Obviamente, a Microsoft colabora com outras big techs na oferta de sistemas de IA (Inteligência Artificial) com fins de segurança e defesa. Isso já havia sido denunciado antes de 2023. A Microsoft mantém essas negativas até que um vazamento a obrigue a pedir desculpas”, opinou Sérgio Amadeu.
The Guardian
Em reportagem publicada no dia 6 de agosto, o The Guardian afirmou que Israel utiliza a nuvem da Microsoft para vigilância em massa de palestinos, armazenando um vasto arquivo de ligações telefônicas em servidores localizados na Europa.
O software Azure da Microsoft possui uma capacidade quase ilimitada de armazenamento, funcionando como uma poderosa ferramenta para vigilância em massa, capaz de guardar 1 milhão de chamadas por hora.
“Um sistema abrangente e intrusivo que coleta e armazena gravações de milhões de chamadas diárias feitas por palestinos em Gaza e na Cisjordânia”, destacou o jornal.
A plataforma de armazenamento teria facilitado a preparação de ataques aéreos mortais e influenciado as operações militares em Gaza e na Cisjordânia. Segundo a Microsoft, a empresa não tem acesso aos dados utilizados pelo Ministério da Defesa de Israel devido a compromissos de privacidade com seus clientes.
Big techs e conflito
As grandes empresas de tecnologia fazem parte da estrutura militar dos Estados Unidos e seus aliados, alertou o sociólogo Sérgio Amadeu em entrevista exclusiva para Agência Brasil.
Em seu estudo intitulado “As big techs e a guerra total: o complexo militar-industrial-dataficado”, o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) explica como a Inteligência Artificial (IA) está sendo usada para eliminar indivíduos na Faixa de Gaza, que teria sido o primeiro grande laboratório do uso de IA para seleção de alvos militares.
“A IA pode criar uma máquina de alvos que reúne dados de toda a população. Afinal, as big techs detêm informações do uso das redes sociais pelas pessoas em Gaza, além de outras bases de dados geográficos e telefônicos”, afirmou o professor.
Ainda conforme Sérgio Amadeu, a IA trata os dados e cria padrões para identificar supostos militantes ou simpatizantes do Hamas.
“A partir dos rastros digitais nas redes sociais, a IA identifica, com base em padrões prévios, quem seria militante do Hamas, apoiador ou simpatizante. A partir daí, eliminam alvos fora das áreas de combate”, explicou.
Lucros com conflito
Em julho deste ano, a relatora especial da ONU para os Direitos Humanos na Palestina, Francesca Albanese, alertou sobre o apoio de empresas, incluindo gigantes da tecnologia como Microsoft, Alphabet (controladora do Google) e Amazon, na instalação de assentamentos ilegais israelenses em territórios palestinos na Cisjordânia e em operações militares em Gaza.
“Enquanto líderes políticos e governos evitam suas responsabilidades, diversas corporações lucram com a economia israelense baseada na ocupação ilegal, segregação e atualmente em atos considerados genocidas”, afirmou a especialista.

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