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Ministra cubana renuncia após negar existência de moradores de rua

Marta Elena Feitó, ministra do Trabalho e da Previdência Social de Cuba, entregou sua renúncia na terça-feira (15), depois de afirmar que não há moradores de rua no país, mas sim pessoas que se passam por eles, declaração que provocou grande repercussão nacional.
A renúncia foi avaliada pelas autoridades do Partido Comunista de Cuba, que decidiram pela liberação da ministra, citando sua falta de sensibilidade e objetividade, conforme divulgado pela imprensa estatal.
A controvérsia teve início em uma reunião parlamentar em que Marta Elena contestou a ideia de que aqueles que vasculham lixo estejam em busca de comida e criticou os trabalhadores que limpam para-brisas nas ruas, acusando-os de buscar um caminho fácil na vida.
“Temos visto pessoas que aparentam ser moradores de rua. Quando observamos suas mãos e as roupas, constatamos que estão apenas fingindo ser moradores de rua, não são realmente”, declarou a ministra durante a apresentação dos programas sociais voltados para o combate à pobreza.
As palavras ditas durante uma sessão televisada causaram indignação entre os cubanos, especialmente num momento em que o país enfrenta uma inflação recorde. De acordo com o Centro de Estudos da Economia Cubana da Universidade de Havana, a inflação entre 2018 e 2023 chegou a 190,7%.
Pedro Monreal, economista, ironizou no X que talvez também existam pessoas se passando por ministra em Cuba. O presidente do país, Miguel Díaz-Canel, comentou na mesma rede social que a falta de sensibilidade ao tratar da vulnerabilidade social é bastante questionável.
Durante uma sessão no Parlamento, o presidente dedicou cerca de 20 minutos para tratar do tema. “Nenhum de nós pode agir com arrogância, soberba ou desconectado da realidade que enfrentamos”, afirmou, ressaltando que os moradores de rua representam as desigualdades e os problemas sociais reais que assolam Cuba.
A pobreza tem aumentado no país durante a pior crise econômica dos últimos trinta anos, marcada por frequentes apagões, falta de alimentos, medicamentos e combustível, agravada pelas sanções dos Estados Unidos.
Miguel Díaz-Canel evitou usar o termo pobreza, preferindo se referir a pessoas em estado de vulnerabilidade ou indigência, uma terminologia habitual do governo cubano para esses casos.
Em 2024, o governo declarou beneficiar cerca de 189 mil famílias, totalizando 350 mil pessoas em condições vulneráveis, dentro de uma população de 9,7 milhões de habitantes.
Nos últimos dois anos, a AFP constatou um crescimento no número de indigentes e indivíduos que pedem ajuda nas ruas e recolhem comida do lixo em Cuba.

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