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Mulheres jovens são mais abertas a mudanças que homens

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Mulheres jovens brasileiras demonstram ser mais progressistas em comparação aos homens, que apresentam posturas mais conservadoras, segundo a pesquisa Juventudes: Um Desafio Pendente, divulgada pela Fundação Friedrich Ebert Stiftung no Brasil (FES Brasil) em 5 de abril de 2023.

A pesquisa inédita entrevistou 2.024 jovens de 15 a 35 anos, utilizando metodologia online com painéis web.

Embora existam diferenças, o estudo mostra que jovens de ambos os gêneros concordam na importância de políticas públicas e na redução das desigualdades no país. Entre as mulheres, 65% enfatizaram a necessidade de ações nas áreas de saúde, educação e combate à pobreza.

Willian Habermann, diretor de Projetos da FES Brasil, comentou que a tendência maior de conservadorismo entre os homens está presente em vários dos 14 países onde a pesquisa foi realizada, especialmente sobre temas como aborto e questões sociopolíticas. Ele observou que as jovens priorizam problemas relacionados à pobreza, acesso a direitos e emprego com mais intensidade do que os rapazes.

Posicionamento político

De acordo com o levantamento, no Brasil, 38% dos jovens se identificam com a direita, 44% com o centro e 18% com a esquerda. As mulheres tendem a se posicionar mais à esquerda (20%) em comparação aos homens (16%).

No entanto, ao analisar valores e percepções sobre democracia, essa classificação pode ser questionada. Habermann acrescenta que, embora alguns jovens se identifiquem com posições à direita, suas visões não são necessariamente conservadoras. Eles reconhecem o papel estatal em educação, emprego e segurança pública.

Para ele, o grande grupo no centro (44%) representa uma juventude que se sente desinteressada ou pouco representada pela política tradicional. Apesar disso, predominam valores progressistas em temas como igualdade e direitos: 66% apoiam a liberdade de orientação sexual e identidade de gênero, 58% aceitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo e 59% concordam com o acesso de pessoas transgênero a cuidados de saúde relacionados à afirmação de gênero.

Sobre o aborto, prevalece uma postura mais conservadora, com apenas 33% a favor da legalização, 51% contrários e 16% sem opinião. Habermann ressalta que há uma narrativa contra o aborto em toda a América Latina.

Desconfiança nas instituições e temas sociais

A maioria dos jovens (66%) considera a democracia o melhor regime, embora 49% acreditem que ela poderia funcionar sem partidos, indicando tensões entre valores democráticos e autoritários. Além disso, 58% preferem um líder forte para resolver problemas, enquanto somente 29% apoiam um governo autoritário.

Os jovens mostram baixa confiança em partidos políticos (57%), Presidência (45%) e Legislativo (42%), enquanto confiam mais em universidades, igrejas e meios de comunicação. A desigualdade racial reflete em maior desconfiança de jovens negros em relação à polícia e ao sistema judiciário.

Temas como educação e saúde (86%), proteção ambiental (85%), direitos dos povos indígenas (75%), regulação das plataformas digitais (71%) e tributação adicional para os ricos (60%) são prioritários para a juventude. Apesar desse engajamento, há insatisfação com a economia (46%) e situação do país (55%), ainda que 88% estejam otimistas quanto ao futuro.

Conexão digital e cenário na América Latina

Os jovens brasileiros são bastante conectados às redes sociais para buscar informação e mobilização política: 60% acessam diariamente, com 57% identificando esses canais como a principal fonte de notícias, seguidos pela televisão (45%). Plataformas como YouTube, WhatsApp e outros sites também se destacam, embora a verificação da veracidade das informações seja incerta.

A pesquisa, que abrange 14 países da América Latina e Caribe, foi coordenada regionalmente pela professora Elisa Guaraná da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Os resultados auxiliam a entender as demandas dos jovens por democracia, direitos sociais e políticas públicas eficazes.

De modo geral, a juventude na região tende a apoiar a democracia e o papel do Estado na garantia dos direitos sociais, posicionando-se majoritariamente no centro político, seguida pelo alinhamento à direita e, por último, à esquerda.

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