O Canadá acabou de aprovar proposta bastante controversa para tentar combater o vício em heroína: legalizar a prescrição da droga. De acordo com informações do site de notícias Vox, embora pareça estranho, o projeto está baseado em sólidas evidências científicas.
Segundo informações do jornal americano Washington Post, em agosto, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau promulgou novas regras que permitirão que os médicos prescrevam heroína de grau farmacêutico para viciados resistentes ao tratamento. A mudança permite que a clínica Crosstown em Vancouver, no Canadá, financiada pelo governo local, expanda um programa já existente que permite que esses pacientes frequentem a clínica para injetar a droga com segurança.
Embora controverso, esse não é um conceito totalmente novo. O programa, conhecido como manutenção com heroína, já foi experimentado nos Estados Unidos, no Canadá e em vários países europeus. Consiste em permitir que pessoas viciadas tenham acesso a drogas sem um grande risco de overdose fatal. Com o fornecimento legal, os usuários não precisam recorrer a crimes como roubo e furto para obter a substância. Além disso, uma vez parte do programa, os participantes devem fazer tratamentos de reabilitação. Muitos continuam, contudo, a utilizar a droga pelo resto da vida.
O tratamento de manutenção é geralmente permitido apenas como um último recurso para viciados em heroína depois de tentar alternativas tradicionais. Por isso, os especialistas esclarecem que o tratamento não será acessível para qualquer pessoa que queira apenas injetar heroína sem ter problemas com a lei.
Base científica
A Suíça foi o primeiro país a adotar esse sistema em nível nacional. Após a implementação do programa, houve uma redução de crimes relacionados com a droga e melhorias sociais, como estabilidade de habitação e emprego desses usuários. Estudos canadenses também consideram que a manutenção é eficaz para tratar viciados graves em heroína. Uma revisão, que incluiu ensaios clínicos randomizados e controlados da Suíça, Holanda, Espanha, Alemanha, Canadá e Reino Unido, mostrou uma queda acentuada no consumo de heroína na rua entre as pessoas em tratamento.
“Neste ensaio, tanto o tratamento de manutenção com diacetilmorfina [heroína] quanto com metadona otimizada resultou em altas taxas de retenção e de resposta. A metadona, fornecida de acordo com as diretrizes de melhores práticas, deve continuar a ser o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes. No entanto, continuará a existir um subgrupo de pacientes que não será beneficiado. O uso prescrito e supervisionado de diacetilmorfina parece ser um tratamento adjuvante seguro e eficaz para esta população severamente afetada de pacientes que, de outra forma, permaneceria fora do sistema de saúde”, escreveram autores canadenses em um estudo publicado no periódico científico New England Journal of Medicine.
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