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Economia

Nova alta dos juros é discutida por pressão do mercado financeiro, dizem economistas

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Para Antonio Corrêa de Lacerda, professor de economia da PUC-SP, análises se baseiam em premissas distorcidas e geram visão equivocada sobre economia

Grande parte do mercado espera que o Banco Central (BC) eleve a Selic nesta quarta-feira (18). Como justificativa para o início de um novo ciclo de alta, a autoridade monetária vem destacando, sobretudo, a desancoragem das expectativas de inflação.

Para economistas, o sinal por trás da palavra é claro: o BC avalia uma potencial alta dos juros.

E após falas recentes das autoridades da autarquia, o mercado aponta que o aperto monetário deve acontecer de fato. A tal pressão do mercado viria nesse sentido, de que se o BC não seguir o que os investidores esperam, a autarquia perderia sua confiança.

“Avaliamos que seria mais coerente o BC deixar os juros estáveis por um período suficientemente longo, em vez de subir um pouco para depois reduzir a taxa Selic. No entanto, como o próprio BC guiou o mercado para uma elevação dos juros, seria difícil justificar agora uma manutenção sem perder credibilidade”, conclui o estrategista-chefe da Warren Rena.

“Vale notar que o placar rachado do Copom de maio e as dúvidas sobre a condução da política monetária com a troca de comando do BC – que ocorrerá no início de 2025 – geraram dúvidas sobre a autonomia de fato do BC. Nesse sentido, o futuro presidente, Gabriel Galípolo, passou a adotar um tom bastante duro nas suas comunicações, na busca por ganhar credibilidade, levando o mercado a precificar de forma amplamente majoritária um ciclo de aumento da Selic, começando já em setembro”, explica.

Além da desancoragem das expectativas, Antonio Corrêa de Lacerda, professor de economia da PUC-SP e ex-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), acrescenta ainda a recente mudança da meta inflacionária e questões fiscais à lista de justificativas do BC para subir os juros.

“O uso distorcido do regime de metas de inflação, a indexação da economia e a pressão do mercado financeiro [nos levaram a esse momento de juros altos]”, avalia Lacerda.

Para ele, porém, um aumento agora não viria num bom momento. “Há uma visão equivocada de que a economia está crescendo acima do potencial, o que geraria pressões inflacionárias. Na verdade, saímos de uma situação de capacidade ociosa. Pelo segundo ano consecutivo, a economia deve crescer 3%, mas os riscos estão cobertos pela recente elevação do investimento”, conclui.

Os impactos de um aumento dos juros

Além da questão da credibilidade da autarquia, fatores como a desvalorização do real, a inflação próxima do teto da meta e os gastos públicos elevados são apontados como motivadores para a possível alta.

Mas ainda vale destacar a confiança do órgão como uma das principais pressões do mercado uma vez que Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, aponta a credibilidade na política monetária como o mais imediato impacto do movimento.

O problema é que, além disso, o aperto monetário traz por consequência um aperto à economia.

“Em geral, quando a gente eleva os juros, realmente o que o Banco Central está buscando é desacelerar a atividade econômica e o mercado de trabalho para que a inflação recue. O funcionamento da política monetária para trazer a inflação para perto da meta passa pela desaceleração da economia”, explica Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores.

E com o encarecimento do crédito, toda a estrutura da economia é colocada em risco. Com o custo maior dos empréstimos e prestações, o risco de inadimplência cresce no país.

Então, além de aumentar seus juros em consonância com o BC, as demais instituições financeiras passam a ficar mais restritivas quanto a empréstimos. Zara aponta que a consequência disso é o atraso de investimentos, empresas contratando menos e salários com crescimento menor.

“A nossa expectativa é de uma desaceleração na economia no ano que vem, justamente por esse mecanismo que vai ser acionado para a gente trazer a inflação para baixo. Está longe de ser uma recessão, mas é uma desaceleração”, pontua a economista sênior da LCA Consultores.

Além da desaceleração, Goldenstein, da Warren Rena, aponta que com a alta dos juros – que já são restritivos hoje – o Brasil pode passar por um “arrefecimento do consumo e dos investimentos, além de gerar um relevante impacto fiscal devido aos juros reais muito elevados”.

CNN

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