Cientistas americanos descobriram um ‘novo’ órgão no corpo humano: o interstício. Segundo uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Scientific Reports, o tecido conjuntivo, estrutura que preenche os espaços entre os diferentes tecidos do corpo, é na verdade o interstício, uma rede cheia de fluído localizada abaixo da superfície da pele, que interliga diversas partes do corpo, como o trato digestivo, os pulmões e o sistema urinário, além dos músculos e vasos ao seu redor.
De acordo com os autores, essa rede cheia de linfa, substância rica em glóbulos brancos, poderia ser a chave para compreender como alguns tipos de câncer se espalham tão rápido, por órgãos que aparentemente não são interligados. Além disso, a descoberta ajuda a explicar para onde vai a maior parte do fluido do nosso corpo.
Metade do líquido existente no corpo reside dentro das células, e cerca de um sétimo está no coração, vasos sanguíneos, gânglios linfáticos e vasos linfáticos. Porém o um terço restante não havia sido identificado e foi nomeado pelos cientistas como “intersticial”, porque acreditava-se que apenas flutuava entre órgãos e células. No entanto, no novo estudo, os pesquisadores da Escola de Saúde Langone, ligada a Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, afirmam que o “interstício” é na verdade um órgão independente.
O verdadeiro tecido conjuntivo
Até então, acreditava-se que o tecido conjuntivo era apenas uma “parede” densa de colágeno – uma forte proteína estrutural encontrada no tecido conjuntivo. No entanto, no novo estudo, em vez de uma “parede”, os pesquisadores encontraram uma “estrada aberta e cheia de líquido”, sustentada por feixes de colágeno e elastina.
A descoberta
A descoberta aconteceu por acaso. Enquanto buscavam sinais de metástase no canal biliar de pacientes com câncer, os cientistas identificaram uma estrutura com cavidades nunca observada antes, nem documentada anatomicamente. Ao investigar melhor essa estrutura, eles perceberam que ela sempre esteve presente, mas nunca havia sido identificada porque o processo tradicional de preparação de amostras de tecidos drenam o fluido, fazendo com que as cavidades existentes entrem em colapso e desapareçam. Com isso, a estrutura fica semelhante a uma parede.
A técnica utilizada na busca pelas biópsias só foi capaz de encontrar a cavidade porque permitiu observar tecidos vivos em um nível microscópico.
Estudos anteriores
A descoberta vai ao encontro de um estudo realizado em publicado em 2011 por pesquisadores da Universidade Yale, também nos Estados Unidos. Na época, eles encontraram uma rede de fibras escuras, mas não conseguiram descobrir exatamente o que era.
“Fiquei satisfeito que eles substanciaram nossa impressão de que esta rede existe e foram capazes de defini-la. Anteriormente, os médicos tinham uma compreensão um pouco nebulosa do espaço intersticial. Eles sabiam que era um espaço com fluido encontrado fora das células, mas ninguém nunca explicou inteiramente o que isso significa. O novo estudo ‘fez um bom trabalho’ ao tentar defini-lo”, comentou Michael Nathanson, chefe da seção de doenças digestivas da Faculdade de Medicina de Yale, que participou do estudo anterior.
Nathanson ainda disse que essa nova descoberta permite aos cientistas fazer todos os tipos de perguntas que até então não sabiam que existiam. “Essa área pode ser alterada na doença ou desempenhar um papel na transmissão de doenças”, completou ele.
Implicações nos estudos sobre câncer
Independente da designação oficial, as descobertas podem ter implicações para vários campos da medicina, incluindo a pesquisa sobre o câncer. Segundo os pesquisadores, os resultados encontrados poderiam explicar porque os tumores que entram nessa camada chegam aos linfonodos e se espalham pelo corpo.
Os linfonodos são os canais que filtram a linfa, um fluido rico em glóbulos brancos, células vitais para o corpo humano, responsáveis por combater infecções, que circula pelo interstício.
Descoberta extra-oficial
Apesar de já ter sido nomeada pelos pesquisadores como interstício, o novo órgão ainda não é oficial. “Para que uma parte do corpo se torne oficialmente um órgão, a presença desses espaços cheios de fluido também deve ser confirmada por outros grupos de cientistas”, explicou Neil Theise, professor de patologia da Universidade de Nova York e um dos autores do estudo.
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