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ONG aluga gerador caro para proteger videogames em projeto social

Uma organização que recebeu milhares de reais por meio de emendas de vereadores na cidade de São Paulo gastou R$ 70 mil do dinheiro público no aluguel de um gerador para um projeto social com aulas de videogame para jovens. O propósito dessa locação foi evitar que os equipamentos, cujo valor médio é de aproximadamente R$ 3 mil, fossem danificados devido a quedas de energia.
Conforme apurado, este é um exemplo de despesas elevadas promovidas por entidades contempladas com recursos de emendas parlamentares para promover iniciativas e eventos sociais na capital paulista.
Uma das instituições beneficiadas é a Federação Estadual das Ligas de Esportes Amadores do Estado de São Paulo (Felfa-SP), que desde o ano passado recebeu mais de R$ 8,5 milhões da prefeitura. Em 2024, a instituição foi contemplada com uma emenda de R$ 300 mil do vereador Marcelo Messias (MDB), destinada a patrocinar o evento de jogos de videogame chamado Fifa Pro E Sports 6, voltado a jovens das periferias.
Mais de 20% desse montante (R$ 70,4 mil) foi utilizado para alugar um gerador por 32 diárias ao custo diário de R$ 2,2 mil. O equipamento tem a função de proteger os aparelhos eletrônicos de eventuais falhas no fornecimento de energia, ainda que o custo de compra dos mesmos seja muito inferior ao valor da locação.
Uma rápida pesquisa indica que um console Playstation 4, utilizado no projeto, custa em média R$ 3 mil no mercado.
Além disso, os videogames foram alugados durante o projeto, que aconteceu entre maio e agosto do ano passado e beneficiou 320 jovens. A prestação de contas divulgada pela ONG aponta um gasto de R$ 63 mil referente a 32 diárias de 10 Playstations 4, com a diária de cada equipamento custando R$ 199, valor que é mais alto do que o preço médio mensal encontrado na internet, que é em torno de R$ 350.
Caso a entidade tivesse optado pela compra dos consoles, seria possível adquirir cerca de 20 unidades, que poderiam ser reaproveitadas em futuras edições do programa.
Além do aluguel do gerador, os custos incluíram 32 diárias pagas a um técnico eletricista, totalizando R$ 12,1 mil, e a uma fotógrafa profissional, com gastos de R$ 17,5 mil.
Embora a locação seja comum em parcerias, a aquisição de bens é permitida quando apresenta menor custo e está de acordo com critérios legais.
Ressalte-se que quase todos os contratos para o projeto foram firmados com a empresa Dmix Produções e Eventos, que oferece uma variedade de serviços e fornecedores, como gerente do projeto, técnico eletricista, coordenador, auxiliar administrativo, auxiliar de limpeza, fotógrafo e professor. Essa mesma empresa forneceu o gerador, os videogames, as TVs e as vans para transporte dos participantes.
Do total de R$ 300 mil da emenda, R$ 287,8 mil foram destinados à Dmix, representando 96% dos recursos. Essas informações constam na prestação de contas encaminhada à Prefeitura de São Paulo.
Posicionamentos dos envolvidos
Em nota, a Felfa-SP informou que os serviços e custos foram analisados e aprovados pela Secretaria Municipal de Esportes, com parecer técnico favorável, e que os valores são compatíveis com a natureza das atividades, a estrutura requerida e os critérios técnicos estabelecidos nos editais públicos.
Quanto à locação dos videogames, a entidade justificou que, além do uso dos equipamentos pelos jovens, os custos englobam seguro, manutenção, montagem e assistência técnica. Segundo a organização, a compra dos aparelhos poderia bloquear patrimônio com alto índice de desvalorização e demandaria estrutura para armazenamento e manutenção contínua.
Sob a perspectiva do custo de R$ 70 mil pelo aluguel do gerador com o intuito de proteger os consoles, a entidade destacou que o investimento assegura a continuidade das atividades, a segurança dos participantes e a integridade dos bens alugados.
A Dmix destacou que todas as suas operações são realizadas conforme contratos, termos de referência e planos de trabalho aprovados por órgãos públicos competentes.
A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer afirmou que todos os processos estão alinhados à legislação vigente e que eventuais irregularidades poderão resultar em sanções às organizações sociais. A pasta também mencionou que está desenvolvendo uma tabela de preços detalhada para as despesas das entidades conveniadas, visando estabelecer critérios de controle e fortalecimento da governança e fiscalização dos recursos públicos destinados ao esporte.
O vereador Marcelo Messias declarou, por meio de sua assessoria, que seu objetivo é promover políticas públicas que ampliem o acesso ao esporte, cultura e lazer, especialmente nas regiões periféricas. O parlamentar ressaltou que não é viável acompanhar minuciosamente todos os detalhes técnicos ou contratuais dos projetos apoiados.
“O gabinete está disponível para esclarecimentos adicionais aos órgãos de controle e à sociedade, reafirmando seu compromisso com a transparência e o uso adequado dos recursos públicos”, afirmou o vereador.

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