Um organização criminosa suspeita de tráfico interestadual de travestis para exploração sexual foi desarticulada na manhã desta terça-feira (26) pela Polícia Civil do Distrito Federal. Até a última atualização desta reportagem, dez cafetinas – que também são travestis – haviam sido presas por liderar o esquema. Uma delas está foragida.
Além de 11 mandados de prisão, a Operação Império cumpre 19 de busca e apreensão em Taguatinga e no Riacho Fundo, nas casas onde as vítimas eram “abrigadas”. Segundo a delegada Elisabete Morais, responsável pelas investigações na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes por Orientação Sexual (Decrin), nos locais foram encontrados revólveres, facas, “muitas drogas”, anabolisantes e dinheiro – ainda não contabilizado.
As cafetinas vão responder por organização criminosa, rufianismo – obtenção de lucro a partir da prostituição alheia –, tráfico interestadual de pessoas, redução à condição análoga à escravidão, extorsão e ameaça. As suspeitas foram levadas ao Departamento de Polícia Especializada, na Asa Sul.
Uma delas, conhecida como “bombadeira”, também deve responder por exercício ilegal da medicina, porque injetava silicone industrial no quadril das vítimas. “A aplicação era feita em casa. É um procedimento muito doloroso, que demora sete dias para passar a dor, porque é silicone de avião”, disse Elisabete.
Segundo a delegada, as investigações começaram depois que algumas travestis registraram ocorrências de extorsão e ameaça, mas não é possível estimar há quanto tempo a organização atuava. “Desde janeiro, tudo é muito volátil, muito dinâmico. Uma hora tem uma liderança, outra hora aparece uma pessoa que é mais forte e consegue tomar o território.”
Como funcionava
Segundo as investigações, em curso há nove meses, a organização cooptava travestis em outros estados para trabalhar com prostituição na capital, principalmente no Pistão Sul em Taguatinga. Como é comum em esquemas de tráfico de pessoas, as vítimas são financiadas pelos próprios criminosos para aceitar uma promessa de emprego.
Quando chegam ao destino, tornam-se dependentes do esquema e, no caso investigado pela Operação Império, são obrigadas a se prostituir para pagar as dívidas. De acordo com a polícia, as travestis eram forçadas a viver em espécie de “repúblicas” administradas pela organização e precisavam pagar uma diária de R$ 50 a R$ 70.
“A travesti que não quisesse morar na república, tinha que pagar o mesmo valor”, disse a delegada Elisabete.
Para atrair mais clientes, as criminosas submetiam as vítimas a cirurgias plásticas e intervenções estéticas, como injeção de silicone industrial nos glúteos e implante nos seios. Segundo a polícia, eram as próprias líderes do esquema que realizavam os procedimentos.
Para ‘entender melhor’
Outro braço da Operação Império coletava, por volta das 9h30 desta terça (26), depoimentos de travestis e mulheres que se prostituem nas proximidades do Pistão Sul de Taguatinga. Elas foram abordadas por policiais civis nas ruas e em frente a motéis e conduzidas à 21ª DP, que fica na região.
Segundo os policiais informaram o objetivo da ação é tentar “entender melhor” como funciona a rede de prostituição na região e a extensão do esquema investigado pela Operação Império.
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