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Paciente diz ter sido vítima de preconceito por equipes do HRT e Hran
Jovem teria sido expulso de hospital, além de ser agredido
“Eu me senti um vira-lata”. A frase dita por um estudante de arquitetura se refere a um atendimento no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) prestado na noite da última quarta (23). Ele relata ter sofrido preconceito e agressões após ter crises convulsivas. Conforme o relato do paciente, o acusaram de drogado, o chamaram de “veado” e o expulsaram. A versão é contestada pela Secretaria de Saúde.
Segundo Kennedy Vidal, 23 anos, tudo começou após uma manifestação popular ocorrida no último dia 17, na Esplanada. Ele explica que desmaiou ao inalar uma bomba de gás lacrimogêneo. Na data, foi encaminhado ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde a discriminação teria começado.
“Quando meus pais chegaram me procurando, os funcionários se referiam a mim como o ‘drogadinho barbudo de piercing’ e disseram a eles que eu era usuário de drogas. Listaram até o nome de algumas para que pudessem identificar. Minha mãe ficou chocada, porque sabe que nunca sequer fumei um cigarro e também não bebo. Para afirmar isso, deveriam ter sido feitos exames, mas julgaram apenas a minha aparência. Perguntaram em qual faculdade estudava e disseram que, se eu fosse da UnB, dava para ter certeza”, narra.
Piercings
Para o estudante, o preconceito e o descaso aconteceram por conta do seu estilo, que inclui barba e piercings. E o constrangimento se repetiu. O jovem desmaiou na faculdade após sentir uma forte dor de cabeça. Ele foi levado pelo Samu ao HRT. Enquanto aguardava atendimento, sofreu outra convulsão.
“Estava todo mundo desesperado, gritando por socorro, e os funcionários diziam que nada podiam fazer. Contei com a ajuda de pacientes. Depois, alguém apareceu, me colocaram numa maca e me medicaram. Quando eu acordei, fiquei desorientado. Expulsaram minha acompanhante e, ao levantar para procurá-la, me empurraram de volta na maca com agressividade, apertando o meu braço”, lembra o estudante.
Ele conta que levantou-se novamente querendo saber da amiga. “Ameaçaram me amarrar. Saí gritando por ela para que filmasse tudo. Daí, chegaram quatro seguranças, que me expulsaram”, continua.
De acordo com ele, o médico teria dito “deixe esse drogado. Temos mais o que fazer”, enquanto ele gritava para que não o tocassem: “Vocês estão me agredindo!”, eu dizia, e um ainda recomendou que eu fosse à Delegacia da Mulher fazer a denúncia. Me empurraram até que eu saísse do hospital”.
Versão oficial
Em nota, a Secretaria de Saúde informa que o paciente foi atendido e medicado e que não há registro sobre mau atendimento. Reclamações sobre a conduta de servidores devem ser formalizadas na Ouvidoria, pelo 160, ou na corregedoria, para apuração.
O órgão ressalta que preza pelo atendimento humanizado e não compactua com qualquer destrato a pacientes. O JBr. questionou sobre o exame toxicológico, mas a pasta diz que não pode divulgar informações sobre o prontuário nem disponibilizar imagens, mesmo com a autorização do paciente.
“Delegado não podia fazer nada”, disse
O estudante Kennedy Vidal reclama que não o deixaram entrar no Hospital de Taguatinga, mesmo a unidade sendo pública: “Foi humilhante ouvir piadinhas. Um descaso total. Todo o tempo me chamando de veadinho, drogado”. Ao sair de lá, ele diz ter tentado registrar boletim de ocorrência na 11ª DP (Núcleo Bandeirante). “O delegado disse que não podia fazer nada, que eu deveria ter aberto reclamação no próprio hospital. Mas eu fui expulso, como ia fazer?”, questiona.
Ele publicou um desabafo em uma rede social. A amiga Lara Monalisa, 23 anos, que o acompanhou no hospital, confirma as agressões: “Foi o pior atendimento que eu já vi, sem falar do desrespeito. Se referiam a ele com palavras horríveis. Eu tinha saído para comprar água e, quando voltei, ele estava do lado de fora, e os seguranças barrando a entrada. Eu tentei filmar, mas eles ameaçaram quebrar meu celular”.
Hospital de Base
No dia seguinte (ontem), Kennedy foi ao Hospital de Base do DF, onde foi prontamente atendido. Ele conta que o objetivo agora é cuidar da saúde, mas que tomará as providências judiciais cabíveis.
“Estou mais tranquilo porque consegui atendimento. Fizeram exames de tomografia e encontraram um pequeno cisto, mas a hipótese de tumor está descartada. Agora estou correndo atrás para descobrir do que se trata. Mas vou entrar na Justiça contra os dois hospitais”, garante o estudante.
Para ele, foi muito estressante. “Fui julgado pela minha aparência, agredido verbal e fisicamente. Isso acontece porque todo mundo deixa para lá. Esse pode ser apenas mais um caso, mas quem passa por isso deve buscar seus direitos. Tem que reclamar. Aos profissionais de saúde, peço que sejam mais humildes e éticos”, conclui.
Fonte: Jornal de Brasília
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