Centro-Oeste
Pai relata terror em clínica onde filho morreu carbonizado: história de sofrimento e descaso

Dione Silva, pai de João Pedro Costa dos Santos Morais, 26 anos, descreveu como “crueldade” o tratamento que seu filho recebeu na Comunidade Terapêutica Liberte-se, uma clínica de reabilitação para dependentes químicos que sofreu um incêndio na madrugada do domingo, 31 de agosto, localizada no Núcleo Rural Desembargador Colombo Cerqueira, no Paranoá. João Pedro foi uma das cinco vítimas fatais dessa tragédia.
A mãe do jovem pretendia transferi-lo para outra unidade da mesma rede de clínicas. O irmão de João Pedro também estava internado em uma clínica do grupo, próxima à que foi atingida pelo fogo. João Pedro desejava mudar para onde o irmão estava para poder acompanhá-lo e protegê-lo, pois tinha descoberto que ele estava sendo mantido trancado em um quarto.
O incêndio começou perto das 3 horas da manhã e causou danos significativos na clínica. Parte do telhado desabou e a estrutura do prédio foi comprometida. Ao todo, 11 pessoas ficaram feridas, muitas com queimaduras graves e sintomas de intoxicação.
As vítimas fatais são:
- Darley Fernandes de Carvalho, 26 anos;
- José Augusto Rosa Neres, 39 anos;
- João Pedro Costa dos Santos Morais, 26 anos;
- Daniel Antunes Miranda, 28 anos;
- Lindemberg Nunes Pinho, 44 anos.
A unidade encontrava-se trancada no momento do incêndio, e as janelas possuíam grades de ferro, dificultando a fuga dos pacientes, segundo testemunhas. Esses fatores complicaram o resgate das vítimas.
Segundo Dione Silva, João Pedro não apresentava comportamento agressivo ou que indicasse qualquer risco à vida dele ou de outros. “Meu filho não era perigoso para ser tratado dessa forma. Ele sofria de depressão após o fim de um relacionamento duradouro. Isso não justifica mantê-lo preso como um criminoso”, lamentou o pai.
“Imagine o estado do irmão dele: já estava muito abalado e agora perdeu o irmão dessa maneira. Como posso confiar em deixar meu filho em uma clínica dessas?”, questionou Dione Silva.
Um dos pacientes que conseguiu escapar narrou o pesadelo vivido durante o incêndio. Daniel Fernandes, 24 anos, relatou que estava dormindo quando pessoas de outro quarto pediram ajuda. “Vi um rapaz sendo queimado e outro se arrastando com o corpo em chamas. Um paciente quase perdeu a consciência devido à fumaça quando o fogo atingiu sua área.” Ele descreveu o momento como chocante e muito triste.
Outro interno, Luís Araújo do Nascimento, 57 anos, disse à reportagem que essa tragédia já era esperada. “Não faltaram alertas: o local estava fechado, sem portas de emergência, sem extintores e sem quaisquer medidas de segurança. Nenhum dos internos recebeu treinamento para lidar com incêndios,” declarou.

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