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Papa rejeita antissemitismo e se compromete a enfrentá-lo em meio a crise em Gaza
Papa Leão XIV reconheceu nesta quarta-feira, 29, que houve desavenças e conflitos com a comunidade judaica devido à guerra em Israel e Gaza. No entanto, o pontífice reafirmou com firmeza a condenação da Igreja Católica ao antissemitismo e seu compromisso de combatê-lo, reforçando a amizade entre cristãos e judeus conforme determinado pelo Evangelho.
Em meio a um aumento do antissemitismo provocado pelo conflito em Israel, Leão XIV assumiu a posição oficial do Vaticano que condena veementemente o antissemitismo, comemorando o 60º aniversário de um documento histórico que transformou as relações entre a Igreja Católica e o povo judeu.
Durante sua audiência geral, dedicada ao aniversário da declaração “Nostra Aetate”, o Papa falou para uma grande audiência que incluía líderes judeus e representantes de outras religiões, reunidos em Roma para as comemorações.
O documento “Nostra Aetate”, que em latim significa “Em Nosso Tempo”, expressou o arrependimento da Igreja pelo antissemitismo em todas as suas formas e rejeitou a acusação de “deicídio” atribuída ao povo judeu pela crucificação de Cristo.
A ideia da culpa coletiva judaica por esse evento alimentou o antissemitismo por séculos. O Vaticano elaborou o documento para repudiar essa visão enquanto a Igreja refletia sobre o papel dos ensinamentos cristãos tradicionais no Holocausto.
Leão XIV destacou que a Igreja deplora o ódio, perseguições e manifestações antissemitas direcionadas aos judeus em qualquer tempo e por qualquer pessoa, ressaltando que todos seus predecessores condenaram claramente o antissemitismo.
“Assim, reafirmo que a Igreja não tolera o antissemitismo e luta contra ele, com base nos ensinamentos do Evangelho”, afirmou.
Ele reconheceu que embora tenham existido divergências e dificuldades neste período, isso nunca deteve o diálogo entre as comunidades. “Mesmo hoje, não devemos permitir que circunstâncias políticas ou injustiças nos afastem da amizade que já construímos”, completou.
Este aniversário acontece num cenário de aumento dos atos antissemitas ligados às operações militares israelenses em Gaza, após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. Somente nos Estados Unidos, a Liga Anti-Difamação registrou um número recorde de incidentes antissemitas relacionados ao conflito.
Além disso, o conflito tem tornado as relações do Vaticano com a comunidade judaica mais delicadas. O Papa Francisco causou insatisfação entre líderes judeus e israelenses com comentários que foram interpretados como uma equiparação moral entre os ataques do Hamas e a resposta militar israelense.
Francisco encontrou-se com familiares de reféns capturados pelo Hamas e pediu reiteradamente sua libertação. Também solicitou investigação para apurar possíveis atos de genocídio e criticou a resposta proporcional de Israel em Gaza.
Por sua vez, Leão XIV não minimizou as tensões ao se reunir com líderes judeus e religiosos durante sua posse em maio. Ele ressaltou a importância da relação especial entre cristãos e judeus e afirmou que é essencial preservar o diálogo mesmo em tempos difíceis.
Rabino Noam Marans, diretor de assuntos inter-religiosos do Comitê Judaico Americano, considerou esse reconhecimento um avanço significativo. Participando das celebrações em Roma, ele expressou esperança de que o Vaticano mantenha uma posição firme contra o antissemitismo.
“Desde a “Nostra Aetate”, o povo judeu nunca precisou tanto de aliados comprometidos em combater o antissemitismo com determinação”, declarou Marans.
Ele também ressaltou o poder de comunicação moral da Igreja Católica e a importância de suas ações para intensificar esses esforços.

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