Centro-Oeste
Passagens mais caras para o Entorno a partir de domingo (23/2)
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Resolução da ANTT determinou reajuste de 2,919% sobre a tarifa de transporte rodoviário semiurbano interestadual
As passagens de ônibus para quem se desloca entre o Entorno e o DF ficarão mais caras a partir de domingo (23/2). O reajuste será de 2,919% sobre a tarifa de transporte rodoviário semiurbano interestadual, conforme deliberação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) publicada nesta terça-feira (18/2). O aumento valerá para as empresas de ônibus que têm autorização especial, que são a maioria das operadoras na região do Entorno.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o governador de Goiás em exercício, Daniel Vilela (MDB), vão se reunir hoje para tratar do tema. Prefeitos do Entorno também participarão da discussão. “Os moradores que trabalham em Brasília estão perdendo seus empregos, porque nem o trabalhador nem o empregador dão conta de assumir o novo valor da tarifa do semiurbano interestadual entre o Entorno e Brasília”, alertou a secretária de Estado do Entorno do DF, Caroline Fleury.
No início do mês, o Governo de Goiás enviou ofícios aos ministérios dos Transportes, à Casa Civil e à ANTT solicitando medidas emergenciais para evitar o aumento. Entre elas, a suspensão do reajuste e/ou o subsídio do governo federal. No entanto, não houve resposta. “Queremos que esses benefícios também cheguem aos moradores do Entorno do DF. São pessoas que ajudam a movimentar a economia de Brasília e que merecem um tratamento mais digno no deslocamento para o trabalho”, frisou o governador Ronaldo Caiado.
O aumento no preço das passagens preocupa o governador goiano, que criticou a falta de medidas para conter o reajuste. “O governo federal segue ignorando as soluções viáveis já apresentadas pelo Governo de Goiás para evitar essa alta, que penaliza os trabalhadores da região”, afirmou.
Integração
Em 11 de fevereiro, o governador Ibaneis recriou a Secretaria do Entorno do Distrito Federal, antes chamada de Secretaria de Desenvolvimento da Região Metropolitana, e nomeou o advogado Cristian Viana como titular. Com a recriação da pasta, o chefe do Executivo reforçou a importância de um trabalho colaborativo de integração para melhorar a mobilidade urbana dos passageiros que se deslocam diariamente entre os municípios do Entorno e o Distrito Federal.
Todos os dias, cerca de 175 mil passageiros utilizam as mais de 400 linhas que conectam o Entorno ao DF. O GDF tem trabalhado na ampliação do terminal do BRT de Santa Maria para atender a demanda local e, consequentemente, o Entorno. No BRT Oeste, as linhas de ônibus vão ser atendidas pelo terminal do Setor O. Na região norte do DF, o futuro terminal do BRT de Planaltina, a ser construído na região do Posto JK, também vai alimentar cidades próximas.
O prefeito de Planaltina de Goiás, Cristiomário de Sousa Medeiros, acredita que a criação da nova pasta vai ajudar nas tratativas para uma integração da mobilidade entre DF e Entorno. “A recriação dessa secretaria vai ser um elo importante para estimular nossa comunicação. Um dos maiores planos que temos na região é o transporte que, hoje, é gerido pela ANTT e que custa muito caro no bolso da população. A entrada do DF com mais força nesse assunto pode ajudar quem mora no Entorno e se desloca todos os dias para Brasília”, apontou Medeiros.
O economista Jadson Xavier acredita que o aumento impactará diretamente a economia do DF, pois diversas empresas estão evitando contratar trabalhadores que moram em Goiás por causa do alto preço da passagem. “Hoje em dia, a passagem custa quase o mesmo do auxílio-alimentação. Por exemplo, se pegar um sindicato de escritórios, eles têm uma auxílio-alimentação de R$ 25,50, uma passagem para Planaltina de Goiás, com esse reajuste, vai para R$ 23. Então, quase dobra o custo desse empregado. Se você contrata um empregado no DF, tem o custo só de uma passagem”, argumenta Xavier.
Reflexo no bolso
Paulo Ricardo, 28 anos, trabalha no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e mora no Mansoes Village, em Águas Lindas. Ele pega dois ônibus por dia e paga a passagem em dinheiro. Ricardo alega que o aumento da passagem vai impactar sua vida financeira. “Parece não ser muita coisa, mas ao longo da semana vai acumulando e, consequentemente, será um gasto maior. Vou ficar mais apertado e terei que me desdobrar. Fico indignado, porque encarece a tarifa dos ônibus, mas os ônibus não melhoram. É sempre lotado, é sempre cheio, não tem ar-condicionado, é meio precário. Sem falar das vezes em que o ônibus quebra no meio da avenida. Tenho que esperar meia hora para chegar outro e ainda me atraso para o trabalho”, relatou.
A técnica em secretariado do Ministério das Relações Exteriores Nadma Neves, 38, mora em Luziânia e tem as passagens subsidiadas pela empresa terceirizada na qual trabalha. Ela tem medo de ser demitida caso o patrão ache que o aumento da passagem pode impactar significativamente no bolso dele. “Eu fico em uma situação vulnerável. Além disso, o governo não disponibiliza um transporte melhor para nós. O ônibus é pequeno, não tem assento para todo mundo, tem mais transporte quebrado do que funcionando, não tem nenhum conforto e a passagem só aumenta a cada dia”, afirmou.
Nadma tem medo de perder o emprego pois as passagens diárias são pagas pela empresa onde trabalha(foto: Caio Ramos)
O eletricista Rodrigo Lacerda, 39, mora em Planaltina de Goiás e faz duas viagens de ônibus por dia. “É muito difícil trabalhar fora do Entorno, e quando a empresa vê o valor mais caro da passagem, praticamente não pensa em nos contratar, já que moramos longe. Os ônibus do DF pelo menos têm boa qualidade, muitos com ar-condicionado, e o nosso não tem nenhum desses benefícios”, reclamou. “Os bancos são duros, todos ruins, sem conforto nenhum, além da dificuldade de vir trabalhar no Plano Piloto, porque as empresas normalmente não contratam quem é do Entorno”, acrescentou.
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Rodrigo acha que o aumento das passagens pode impedir empresas do DF de contratar gente do Entorno(foto: Caio Ramos)
(Colaborou: Darcianne Diogo)
Como ficam os preços das passagens
PLANALTINA
– Antes: R$ 11,05
– Com reajuste: R$ 11,35
LUZIÂNIA
– Antes: variava entre R$ 10,35 e R$ 11,65
– Com reajuste: passa a variar entre R$ 10,70 e R$ 12,05 (trecho até Taguatinga)
NOVO GAMA
– Antes: R$ 11,70
– Com reajuste: R$ 12,05
ÁGUAS LINDAS
– Antes: R$ 10,85
– Com reajuste: R$ 11,15
SANTO ANTÔNIO DO DESCOBERTO
– Antes: R$ 10,20
– Com reajuste: R$ 10,45
VALPARAÍSO
– Antes: variava entre R$ 4,90 e R$ 8,85
– Com reajuste: passa a variar entre R$ 5,05 e R$ 9,15
CIDADE OCIDENTAL
– Antes: variava entre R$ 5,75 e R$ 9,75
– Com reajuste: passa a variar entre R$ 5,95 e R$ 10,00
Correio Braziliense
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