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Pequenos mercados de São Paulo descumprem nova lei das sacolinhas

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Donos de pequenos mercados de capital paulista dizem que ainda não estão preparados para atender as novas exigências impostas pela “lei das sacolinhas”. A nova regra passou a vigorar neste domingo (5) e os comerciantes podem receber multa se forem flagrados distribuindo as antigas sacolas plásticas.

Percorremos nesta segunda-feira (6) várias unidades em três regiões de São Paulo (Zona Norte, Zona Oeste e Zona Sul) e constatou que muitos comerciantes não se adequaram ou ainda têm dúvidas sobre a nova lei. Problemas com fornecedor foi um dos motivos do atraso relatado. A falta de material é apontada como uma das possíveis causas.

Em um mercado da Lapa (Zona Oeste), as sacolas plásticas ainda eram distribuídas nesta segunda (6), um dia após a proibição passar a valer. O comerciante Wagner Deng, de 52 anos, alega que as novas embalagens chegarão só daqui a três dias e enquanto isso irá fornecer as sacolas plásticas.

Ele diz que o custo que terá com a compra de embalagens biodegradáveis será 4 vezes  maior. “O gasto vai ser muito maior. A venda de saco de lixo aumentou após a lei, pois a grande maioria dos clientes usavam as sacolinhas para descartar lixo”, afirmou.

Apesar do gasto, Deng disse que irá arcar com o valor da embalagem. “É inviável repassar o custo para o cliente. O preço das mercadorias já está muito caro, não tem como repassar mais do que isso”, disse. Ele também ressaltou que a entrega das mercadorias com caixas de papelão sempre foi prioridade do estabelecimento.

No bairro da Freguesia do Ó, na Zona Norte de São Paulo, uma funcionária relatou que estava sem embalagens para fornecer aos clientes e que seu patrão teve que ir comprar algumas unidades para não deixar os clientes na mão.

“Por enquanto, a gente não está dando sacolinhas. Fizemos o pedido e vai chegar mais tarde. A gente teve dificuldade com o fornecedor, porque já era para estar aqui desde sábado”, afirmou a caixa Mira de Souza Almeida, de 51 anos.

“Como a gente não recebeu a entrega, a solução foi comprar algumas unidades. Se a pessoa comprar em quantidade como vai fazer para levar?”, questiona. O estabelecimento em que trabalha irá cobrar R$ 0,08 a unidade da embalagem.

O atraso na entrega das embalagens também foi o motivo apresentado pelo comerciante Rafael Valdrigue, de 54 anos, dono de um mercado no Brooklin, na Zona Sul de São Paulo.“Nós estamos aguardando o fornecedor entregar. Eu solicitei há 15 dias e ele pediu prazo de um mês”, afirmou.

O comerciante conta que costuma fornecer 2 mil sacolinhas por semana e que apesar disso arcará com o preço cobrado pelas sacolas ecologicamente corretas.  “Não acho justo você cobrar por uma sacolinha do seu cliente. Acho que ela tem que ser gratuita”.

Questionado se não tinha reio de ser multado, já que distribuía as sacolas plásticas, Valdrigue espera compreensão dos fiscais. “Eu acho que eles estão tendo uma certa coerência com a gente que não recebeu ainda”, afirmou.

Já o comerciante Vilmar de Souza, de 45 anos, que também trabalha na região do Brooklin, na Zona Sul, justificou o uso das sacolas plásticas por desconhecimento da nova lei. “Enquanto eu tiver a sacolinha eu vou manter. Como a gente é uma rede pequena e tudo é mais complicado, vamos manter.”

Quando for informado que a infração gera multa, ele disse que irá trocar. “Eu vou cobrar dos clientes, farei a mesma coisa que os supermercados grandes fazem, porque pra gente fica bem mais apertado do que pra eles. E a gente vai encontrar menos rejeição”, afirmou.

Bons exemplos
Alguns estabelecimentos visitados estavam funcionando dentro da lei. O comerciante Antônio Santos, de 62 anos, ressaltou que o valor das sacolas biodegradáveis será o dobro do valor das sacolas derivadas do petróleo, mas aprovou a medida. “A troca foi boa para conscientizar o povo a não utilizar muitas sacolas, por isso nós somos obrigados a comprar, se não o povo leva um monte. Assim leva só o essencial.”

José Osmar Tofoli, 57 anos, compartilha da mesma opinião que Santos. “A cobrança inibe a utilização das sacolas porque quando mexe no bolso do cliente, ele percebe que tem que cooperar”. O comerciante contou que não vai repassar o preço total da embalagem ao consumidor, já que cada unidade custa para ele R$ 0,12 e irá vender por R$ 0,10.

“Estou tendo ainda uma perda”, disse. Em dúvida se a lei irá prosperar, ele decidiu comprar poucas embalagens. “Ele [o fornecedor] está mandando aos poucos, pois se tiver alguma contestação, uma nova liminar, eu não perco”, disse.

Comerciante já de adequou às novas regras e vende sacolas por R$ 0,08 cada (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Sacolinhas
Pelas novas determinações, as sacolinhas derivadas de petróleo devem ser trocadas por modelos padronizados: nas cores verde e cinza, mais resistentes e com parte feita de material renovável.

As sacolas verdes devem ser usadas para descartar o lixo reciclável e as cinzas, para resíduos orgânicos e rejeitos. Tanto o comércio pode ser multado por não distribuir as sacolas corretas quanto o consumidor pode ser penalizado caso não faça a reutilização adequadas.

As multas mais altas são para o comércio: vão de R$ 500 a R$ 2 milhões. O valor será definido de acordo com a gravidade e o impacto do dano provocado ao meio ambiente. Já o cidadão que não cumprir a regra poderá receber advertências e multa de R$ 50 a R$ 500.

Segundo o prefeito Fernando Haddad (PT), o objetivo da lei não é multar. “Nossa intenção não é criar uma indústria de multa, não é esse o objetivo, nós sabemos que é uma mudança cultural que vai exigir um tempo”, explicou.

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