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Polícia apura suspeita de desvio de R$ 875 milhões em Cajamar (SP)
A Polícia Civil do Estado de São Paulo está investigando um possível esquema de desvio de verbas públicas no município de Cajamar, localizado na Região Metropolitana de São Paulo, envolvendo contratos que totalizam R$ 875 milhões.
O inquérito policial foi instaurado em agosto deste ano, após denúncias indicarem suspeitas de corrupção durante as administrações do ex-prefeito Danilo Joan (PSD), no período de 2020 a 2024, e do atual prefeito Kauan Berto (PSD), que são políticos aliados.
De acordo com a polícia, as evidências sugerem a existência de um grupo criminoso composto por agentes públicos e empresários que teriam se beneficiado de recursos públicos por meio de diversos mecanismos fraudulentos e corrupção institucionalizada.
Danilo Joan e a Prefeitura de Cajamar negam as acusações feitas contra eles.
Aspectos investigados
Entre os principais pontos da investigação está a suspeita de desapropriações irregulares de imóveis, com valores que poderiam ultrapassar R$ 165 milhões. Outro foco apura supostos desvios de recursos realizados por meio de entidades que mantêm convênios com o município, que possui cerca de 93 mil habitantes e orçamento anual da ordem de R$ 1,3 bilhão.
Além disso, foram identificados indícios de depósitos associados a apoio político, existência de empresas de fachada com grandes valores recebidos, nomeações de parentes e aliados em cargos estratégicos, bem como potenciais mecanismos de lavagem de dinheiro através dessas entidades.
Investigação em sigilo
O inquérito está sob segredo de Justiça e é conduzido pelo Setor Especializado de Combate à Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro, vinculado à Delegacia Seccional de Franco da Rocha.
Até o momento, a polícia afirmou ter confirmado em bases oficiais alguns elementos relatados nas denúncias, que seguem uma sequência lógica e coerente com os fatos apurados.
O Ministério Público do Estado também aponta que o esquema investigado envolveria vereadores, políticos do passado, empresas, amigos, agentes públicos e entidades beneficiárias dos recursos desviados.
Relações e vínculos
Investigações indicam que a empresa A2W Tecnologia Ltda, cujo sócio é amigo próximo do ex-prefeito Danilo Joan, recebeu mais de R$ 33 milhões oriundos da prefeitura para serviços na área de tecnologia da informação. Familiares dos sócios foram nomeados em cargos comissionados durante a gestão de Danilo Joan.
Além disso, uma loja de veículos de luxo, dos mesmos proprietários da A2W, é apontada como possível instrumento para lavagem de dinheiro, com aquisição e uso de veículos por agentes públicos, inclusive um irmão do ex-prefeito.
Uma denúncia adicional relata que um servidor que foi nomeado secretário-adjunto de Modernização, Tecnologia e Inovação da Prefeitura em maio de 2022 ocupou posição de liderança técnica na A2W antes da nomeação, assinando documentos técnicos em nome da empresa.
Danilo Joan defende que as contratações foram feitas por meio de processos licitatórios legítimos, com aprovação do Tribunal de Contas, e que os valores acumulados ao longo do tempo foram mal interpretados nas denúncias.
Conexões empresariais
A investigação também aponta contratação, sem licitação ou com processos irregulares, de mais de R$ 50 milhões por parte da prefeitura com empresas ligadas a parentes diretos de Danilo Joan. Uma empresa do ramo da construção civil teria recebido R$ 47 milhões entre 2021 e 2023, com sócios familiares do ex-prefeito.
Servidores próximos a ele foram nomeados para cargos de confiança relacionados à aprovação de pagamentos para essas empresas, incluindo um amigo de infância conhecido como Miltinho e um primo do ex-prefeito, cuja esposa também ocupou cargo na administração municipal.
Danilo Joan afirma que essas denúncias são antigas, que parte delas já resultou na prisão de um ex-funcionário por extorsão, e que todas as relações comerciais foram feitas mediante processos licitatórios regulares.
Núcleo de Barueri e desapropriações
A Polícia Civil identifica também um possível cartel de empresas situadas em Barueri, que teriam obtido contratos públicos da prefeitura somando R$ 206 milhões. São citadas ao menos quatro empresas, duas compartilhando os mesmos sócios, com vínculos ao ex-prefeito e com práticas irregulares como conflito de interesses e serviços contratados não realizados.
A investigação aponta que contratos com essas empresas e desapropriações milionárias foram iniciados na gestão de Danilo Joan e mantidos na atual administração de Kauan Berto, com indícios de direcionamento político eleitoral dos recursos.
O relatório também menciona o envolvimento de um secretário municipal atual, parentesco com um ex-prefeito afastado e conexões que reforçam a necessidade de apuração aprofundada.
Posicionamentos oficiais
Danilo Joan nega as acusações, alegando motivação política para as denúncias, apresentando decisões do Tribunal de Contas que aprovam suas gestões e afirmando inexistência de processos contra si depois do término do mandato.
A Prefeitura de Cajamar declara que os fatos mencionados foram analisados anteriormente e arquivados por falta de provas, ressaltando que o inquérito está em fase preliminar sem nenhuma acusação formal e que todas as ações da gestão seguem a legislação vigente, com transparência e colaboração com as autoridades competentes.

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