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Polícia investiga venda de terreno a fundo caixa-preta da Faria Lima

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O Ministério Público de São Paulo (MPSP) determinou à Polícia Civil que apure possíveis irregularidades em uma operação que envolveu a venda de um terreno pertencente ao Jockey Club de São Vicente, localizado no litoral paulista, que acabou registrado em nome de um fundo financeiro controverso da Faria Lima, importante centro financeiro do país.

Um terreno valioso foi negociado pelo Jockey Club por um valor inferior ao estimado e acabou sendo adquirido por um fundo sob suspeita, gerenciado por uma das gestoras apontadas na investigação que associa a Faria Lima ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

A área, destinada à instalação de uma unidade da rede de atacarejo Roldão, tornou-se objeto de disputa judicial após alguns membros do clube suspeitarem de prejuízo ao patrimônio da entidade pela atual administração.

O caso ganhou visibilidade após a divulgação de reportagens sobre fundos financeiros opacos, usados para encobrir patrimônios de grandes devedores ou para esconder valores ligados a grupos ilícitos, políticos e empresários.

O fundo, denominado Jaffa, está ligado à gestora Reag, alvo da Operação Carbono Oculto lançada em agosto pelo MPSP. A ação judicial foi proposta por sócios do Jockey Clube contra a própria entidade, questionando a venda realizada em 2022 de um terreno de 22 mil metros quadrados. Os autores pedem a indisponibilidade dos bens do clube, alegando risco de prejuízo patrimonial grave.

Esses sócios baseiam suas suspeitas no preço de transação e no contexto da negociação, que corresponde a uma área semelhante a três campos de futebol, solicitando investigação sobre possíveis crimes patrimoniais e falsificação de documentos. O Ministério Público determinou apuração de eventuais crimes envolvendo dirigentes do Jockey Clube de São Vicente.

Conforme o processo, o terreno tinha valor venal de R$ 14,6 milhões, mas foi vendido por R$ 11,4 milhões para uma empresa criada apenas um mês antes. No mesmo dia, essa empresa revendeu o imóvel para a Reag por R$ 15 milhões.

Os acionistas alegam que o imóvel valeria aproximadamente R$ 100 milhões. Já o Jockey argumenta que nem sequer o valor venal da prefeitura reflete o preço justo de mercado.

Para os sócios críticos, o clube vendeu um ativo altamente valioso de forma opaca, permitindo que empresas privadas explorassem a região sem nenhum benefício para a associação.

No local, está previsto o estabelecimento do Roldão Atacadista. Embora o mercado não seja parte no processo, foi notificado extrajudicialmente pelos autores da ação, tendo informado que apenas aluga o imóvel, registrado em nome do fundo Jaffa.

De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fundo Jaffa, gerenciado pela Reag, aplica 98% dos seus recursos no próprio Roldão. Auditoria independente anexada à CVM também indicou falta de informações suficientes sobre o fundo, levando à impossibilidade de fornecer opinião sobre suas demonstrações financeiras.

O fundo Jaffa possui dois cotistas adicionais, ambos fundos de investimento, numa configuração em camadas que dificulta a identificação do beneficiário final. A reportagem também descobriu que o Jaffa recebe recursos de outro fundo, Kombi Azul, referência ao veículo usado no início da rede Roldão, quando os fundadores realizavam entregas em uma Kombi.

Posicionamento dos envolvidos

A reportagem consultou as empresas referentes à ação que levanta suspeitas sobre as transações.

O Roldão declarou não ter sido informado sobre a investigação, destacando que não é parte do processo e nunca foi proprietário do terreno. Ressaltou que apenas aluga o imóvel de um fundo exclusivo e independente, sem vínculos societários ou administrativos com os fundos acionistas da companhia.

O Jockey informou desconhecer a ação movida por sócios e defendeu a venda como legítima, aprovada por um amplo colegiado. Segundo o clube, associados dissidentes tentam lançar dúvidas sobre uma operação regular. O clube ainda afirmou que certidões judiciais desfavoráveis, decorrentes de dívidas elevadas, teriam limitado o número de interessados. Acrescentou que as transações subsequentes levaram o imóvel a um fundo imobiliário vinculado ao Roldão, cuja reputação é considerada íntegra e sólida.

Após ser alvo da Operação Carbono Oculto, a Reag declarou que não participa de esquemas de ocultação de patrimônio ou lavagem de dinheiro e que nunca teve ligação com organizações criminosas, incluindo o PCC. A gestora afirmou agir conforme as normas do mercado financeiro, ressaltando que vários fundos mencionados na operação não estão mais sob sua administração, tendo sido renunciados ou liquidados meses antes.

A empresa informou manter práticas rigorosas de governança e transparência, e continuará atuando com ética e diligência, cooperando com as autoridades e defendendo um mercado financeiro íntegro e seguro para clientes e investidores.

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