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Policial fardado com metralhadora entra em escola por desenho de orixá
Quatro policiais militares armados invadiram a Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Antônio Bento, localizada no bairro do Caxingui, na zona oeste de São Paulo, após o pai de uma aluna de quatro anos demonstrar desconforto com o conteúdo de uma atividade envolvendo orixás. Um dos agentes estava carregando uma metralhadora.
O homem chamou a Polícia Militar depois de perceber que sua filha havia feito um desenho da orixá Iansã. No dia anterior (11/11), ele já tinha expressado descontentamento com o trabalho, que faz parte do currículo antirracista da rede municipal de ensino, chegando inclusive a rasgar um mural com desenhos das crianças exposto na escola, conforme relato da mãe de outro estudante.
Após o ocorrido, a direção da escola sugeriu que o homem comparecesse à reunião do Conselho da Escola, programada para quarta-feira às 15h, mas ele não participou e, em vez disso, acionou a Polícia Militar.
Atividade sobre Orixás
O desenho integrava uma atividade com o livro infantil Ciranda em Aruanda, presente no acervo oficial da rede municipal de São Paulo. A obra, da autora Liu Olivina, apresenta ilustrações de 10 orixás, detalhando, em textos curtos, as características dessas divindades. Por exemplo, Oxóssi é descrito como “o grande guardião da floresta”.
A direção da escola explicou que, conforme as leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08, o ensino da história e cultura afro-brasileira é obrigatório em todo o Brasil, e ressaltou que a atividade não tinha objetivo doutrinário. As crianças ouviram a história do livro e, em seguida, fizeram um desenho.
O livro Ciranda em Aruanda foi reconhecido como altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e recebeu selo de Acervo Informativo de Qualidade da Cátedra UNESCO de Leitura – PUC – Rio 2021.
A ação dos policiais
Os policiais que foram até a escola, que não fazem parte da ronda escolar, chegaram por volta das 16h. Segundo relatos, eles afirmaram à direção que a atividade configurava “ensino religioso” e que a criança estava sendo obrigada a ter contato com conteúdo de uma religião diferente da de sua família. Testemunhas consideraram a abordagem hostil.
Uma mãe que preferiu não se identificar disse que os policiais abusaram do poder, assustando crianças e funcionários, e que a diretora da escola chegou a passar mal e precisou ser retirada do local. Os agentes permaneceram na Emei por pouco mais de uma hora, saindo somente após um grupo de pais conversar com eles. Os fatos foram registrados por câmeras corporais dos policiais e pelo sistema de segurança da escola.
Posicionamento da Secretaria da Segurança Pública
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou em nota que, ao atender a ocorrência, os policiais conversaram com ambas as partes — o pai e a diretora da instituição. Orientaram que, caso julgassem necessário, registrassem boletim de ocorrência. A Corregedoria da Polícia Militar está disponível para investigar possíveis denúncias sobre a conduta dos agentes.
A SSP também esclareceu que o uso do armamento, incluindo a metralhadora, é parte do Equipamento de Proteção Individual (EPI) dos policiais e é utilizado durante toda a jornada de serviço.
Esclarecimentos da Prefeitura de São Paulo
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), explicou que o pai da aluna recebeu informações de que o trabalho realizado por sua filha faz parte de uma produção coletiva do grupo.
Essa atividade é uma proposta pedagógica da escola, que inclui o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira e indígena conforme o Currículo da Cidade de São Paulo, buscando promover o conhecimento das diversas culturas entre os estudantes.

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