Por que anúncio com Reagan fez Trump parar negociação de tarifa com o Canadá

Um anúncio de aproximadamente um minuto, financiado pela província canadense de Ontário e exibido na televisão dos Estados Unidos, levou o presidente Donald Trump a finalizar as negociações sobre as tarifas comerciais impostas ao Canadá.

O vídeo apresenta excertos de um discurso de 1987 do ex-presidente americano Ronald Reagan, no qual ele argumenta que, embora as tarifas de importação possam parecer uma ação patriótica, a longo prazo, essas barreiras comerciais acabam prejudicando tanto os trabalhadores quanto os consumidores dos EUA.

O anúncio foi uma crítica direta à administração de Trump, que aplicou uma tarifa de 35% sobre produtos canadenses, além de impostos adicionais para setores específicos, como indústria automobilística e siderúrgica. Tais tarifas impactam severamente Ontário, que é a principal região industrial do Canadá.

Em resposta, na quinta-feira (23), Trump publicou em sua rede social Truth Social, classificando o uso do anúncio como “fraudulento” e seu conteúdo como “falso”, afirmando que Reagan era a favor de tarifas. O presidente defendeu a importância das tarifas para a segurança econômica e nacional dos EUA e anunciou o fim das negociações comerciais com o Canadá.

Embora o anúncio não apresente o discurso de forma completa, os trechos utilizados são autênticos. O vídeo indica claramente que se trata de um pronunciamento antigo, exibindo a data e a imagem do ex-presidente no final.

No dia seguinte (24), o primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, informou que o comercial seria retirado do ar na televisão americana a partir da segunda-feira seguinte, com objetivo de reabrir as negociações comerciais. Esta decisão veio após diálogos com o primeiro-ministro canadense Mark Carney.

A Fundação e Instituto Presidencial Ronald Reagan criticou a seleção e montagem do áudio e vídeo pela propaganda, alegando que distorce o discurso original e reclamou da falta de autorização para o uso do material, indicando a possibilidade de medidas legais contra o governo canadense.

O gabinete de Ford defendeu o anúncio, alegando que os trechos foram exibidos sem alterações e que o discurso está em domínio público, conforme informado pela emissora pública canadense CBC.

O que Reagan disse?

O discurso de 1987 surgiu em um momento delicado nas relações comerciais entre os EUA e o Japão, quando o governo Reagan havia imposto tarifas de 100% sobre produtos eletrônicos japoneses, em resposta ao não cumprimento de um acordo bilateral.

Embora o ex-presidente fosse um defensor do livre comércio em sua retórica, justificava as medidas tarifárias excepcionais em certas situações. No pronunciamento, ele ressaltava que a imposição de tarifas pode parecer uma ação patriótica para proteger empregos e produtos americanos, mas que esse efeito é temporário.

A longo prazo, segundo Reagan, tais barreiras causam prejuízos a trabalhadores e consumidores, pois levam a retaliações comerciais, guerras tarifárias e, por fim, ao fechamento de empresas e perda de empregos em massa.

Ele ressaltava a importância de rejeitar políticas protecionistas e incentivar uma competição justa e livre para garantir o crescimento e a prosperidade das nações.

Em suas palavras:

“Quando alguém diz: ‘Vamos impor tarifas sobre importações estrangeiras’, parece estar fazendo algo patriótico ao proteger os produtos e empregos americanos. E, por vezes, funciona durante um curto período – mas só por um tempo limitado.

Mas, a longo prazo, tais barreiras comerciais prejudicam todos os trabalhadores e consumidores americanos. Tarifas altas levam inevitavelmente a retaliações por parte de países estrangeiros e ao desencadeamento de ferozes guerras comerciais.

Aí o pior acontece: os mercados encolhem e colapsam; empresas e indústrias fecham; e milhões de pessoas perdem os seus empregos.

Em todo o mundo, há uma crescente percepção de que o caminho para a prosperidade de todas as nações é rejeitar a legislação protecionista e promover a concorrência justa e livre.

Os empregos e o crescimento dos Estados Unidos estão em jogo.”