A noite de quinta-feira coroou uma eleição sui generis. Tradicionalmente a miríade de partidos brasileiros duelou por alianças que lhes rendessem segundos extras de campanha no rádio e na televisão. Romper as barreiras legais para participar de debates era tido com condição sine qua non para uma candidatura competitiva.
Eis que na noite de ontem, Jair Bolsonaro (PSL), candidato líder com 39% dos votos válidos, segundo o Datafolha, se escorou numa recomendação médica para faltar ao debate decisivo na TV Globo e, numa atitude sem precedentes, aproveitar para conceder uma entrevista no mesmo horário à Rede Record.
O privilégio foi contestado pelo PT e por juristas especializados em direito eleitoral, citam uma provável infração à isonomia do processo eleitoral. A postura de Bolsonaro já havia sido criticada na véspera por Ciro Gomes (PDT), que afirmou que o atestado médico o proibindo de participar de debates era “tão válido quanto uma nota de três reais”.
Ainda assim, a estratégia do capitão reformado do exército é das mais certeiras. Seu eleitorado só fez crescer apesar de seus míseros oito segundo de propaganda eleitoral e de sua contradição em questões cruciais da gestão pública, como impostos, direitos sociais e segurança. Para Bolsonaro, quanto menos exposição fora do conforto de suas redes sociais, melhor.
A singularidade de sua campanha nos leva ao mote com que tenta arrematar os últimos eleitores: o da vitória no primeiro turno. A ideia, antes apenas um golpe midiático do PSL, passou a ser considerada uma possibilidade real após o Datafolha de ontem. Ainda assim, conforme mostrou reportagem de EXAME, Bolsonaro precisaria de uma arrancada mais espetacular que a de João Doria para levar a prefeitura paulistana em 2016, quando encerrou a campanha com 44% de votos válidos.
“É possível, mas pouco provável que Bolsonaro vença no primeiro turno. Também acho pouco provável que haja uma união entre os candidatos de centro”, afirma Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria. Uma nova leva de pesquisas começa às 10h30 desta sexta-feira, com levantamento da XP/Ipespe.
A intensa campanha de Bolsonaro e seus aliados pela vitória no primeiro turno, e sua não participação no debate decisivo, revelam um novo foco de atenção para sua campanha: o que fazer com metade do tempo de propaganda a que teria direito no segundo turno. Seria, claro, uma oportunidade de detalhar propostas de campanha — desde de que fossem elas a explicação para sua espetacular arrancada. Não são.
Segundo o Datafolha de ontem, os candidatos do PT e do PSL estão empatados no segundo turno. Bolsonaro chega, portanto, a uma situação inusitada: uma semana a mais de primeiro turno lhe faria muito bem, mas as três semanas do segundo turno o colocam num terreno pantanoso, duelando, desta vez, na propagando televisiva, mídia que o PT domina como ninguém.
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