Manifestantes seguram cartazes com os dizeres: “parem de usar a quarentena para roubar o país”, durante ato contra a estatização da exportadora argentina Vicentín e contra as medidas de quarentena em função da covid019. Buenos Aires, Argentina, em 20 de junho de 2020. (Agustin Marcarian/Reuters)
Multidões foram às ruas neste sábado, 20, em Buenos Aires e outras cidades argentinas para protestar contra os planos do presidente Alberto Fernández de estatizar a Vicentín. A empresa é uma das maiores exportadoras de grãos do país, e o presidente acabou recuando no domingo (21).
O evento foi organizado pelas redes sociais pelo setor do agronegócio. Segundo a polícia, havia milhares de pessoas em volta do Obelisco, em Buenos Aires (veja foto). Regiões como Córdoba (centro), Resistência e Salta também registraram atos.
Eles se manifestaram portando máscaras e bandeiras do país. Gritos de ordem em defesa da empresa e da propriedade privada deram o tom. Muitos foram vistos também com cartazes e gritando palavras de ordem contra o endurecimento das medidas de isolamento social contra a pandemia de covid-19.
O governo Fernández teve uma reação rápida e intensa contra a doença, que foi inicialmente bem-sucedida e turbinou sua taxa de aprovação.
O número de casos, porém, vem aumentando significativamente nas últimas semanas e já são 37.510 casos confirmados e cerca de mil mortos, o que levou a um endurecimento da quarentena.
O impacto da epidemia, porém, segue baixo em comparação com países vizinhos como Chile e Peru e é uma fração dos dados do Brasil, o segundo maior epicentro da epidemia no mundo.
Estatização
A Vicentín decretou falência em dezembro do ano passado após sofrer com fortes oscilações cambiais e uma dívida bilionária.
Em 9 de junho, o governo argentino anunciou, por decreto, uma intervenção na empresa por 60 dias. com o objetivo declarado de evitar a falência. A intenção era enviar projeto de lei para o Congresso visando declarar a exportadora como empresa de interesse nacional e estatizá-la em caráter definitivo.
A intenção foi considerada inconstitucional pela oposição, assustou líderes agrícolas locais e evocou o governo da ex-presidente e atual vice, Cristina Kirchner, reacendendo o temor de uma política de estado mais intervencionista e hostil ao mercado.
Pressionado, Fernández recuou e disse que vai seguir o plano do governador de Santa Fé, região de origem da Vicentín, o peronista Omar Perotti. Isso significa ajudar a empresa com um resgate e trocar sua direção, mas sem estatizá-la. O presidente alertou, porém, que, se o modelo de intervenção falhar, volta a considerar a expropriação da companhia.
A escalada da tensão acontece enquanto a Argentina passa por um difícil processo de renegociação de sua dívida estrangeira, que soma US$ 65 bilhões.
A despeito do sinal ruim, a decisão inicial de Fernández sobre a Vicentín não representava uma tendência de expropriações generalizadas pelo governo, escreve Gabriel Brasil, analista de riscos políticos da consultoria Control Risks, em post no Twitter.
“Foi tratada como situação extraordinária – e em alguma medida o próprio Fernández era antipático a ela. Recuo reforça isso. Decisão reforça característica de Fernández que se sobressai a todas a outras: pragmatismo”, acrescenta. Quando a pandemia surgiu, a Argentina já completava quase dois anos de recessão.
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