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Posição de Lula sobre conflito em Gaza mina capacidade de intermediação, diz diplomata de Israel
‘[Postura de Lula] significa que o Brasil, que diz ser, pretende ser potência regional, talvez uma potência global, não pode desempenhar tal papel se tomar partido contra qualquer dos lados’, afirmou em Jerusalém
O vice-diretor da divisão de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Jonathan Peled, criticou nesta quarta-feira a postura do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao Estado judeu, avaliando que ela minava a capacidade de Brasília de ter algum papel na resolução do conflito em na Faixa de Gaza.
— Para nós [a postura de Lula] significa que o Brasil, que diz ser, finge ser uma potência regional, talvez uma potência global, não pode desempenhar tal papel se tomar partido contra qualquer dos lados — disse durante um encontro com jornalistas brasileiros na sede da Chancelaria, em Jerusalém. — Se você isola Israel ou aposta contra Israel, você não pode se considerar uma potência regional ou global que possa ter qualquer papel na negociação ou intermediação do que seja.Em viagem à Etiópia no mês passado, Lula descreveu o que está acontecendo em Gaza como “genocídio”, afirmando que não existia nada parecido em nenhum outro momento histórico, apenas “quando Hitler resolveu matar os judeus”. Desde então, o presidente reiterou publicamente a acusação de genocídio contra a ação militar de Israel em Gaza e reforçou seu apoio à causa palestina. Na segunda-feira, ele posou para foto com uma bandeira palestina na Conferência Nacional da Cultura, em Brasília, quando afirmou que “o tempo vai provar” que está certo sobre sua posição. Nesta quarta-feira,
— Quando é uma declaração antissemita como a do presidente Lula, ou quando nossa existência é posta em questão, trata-se de uma linha vermelha. Lula não disse nada sobre a existência de Israel, mas comparar as atividades de Israel aos nazistas de Hitler, para nós, é também uma declaração inaceitável — afirmou Peled.
Pouco após a fala comparando o conflito em Gaza, Israel declarou o presidente como persona non grata, com o chanceler israelense, Israel Katz, afirmando que a fala do presidente não seria perdoada ou esquecida até que o presidente se retratasse publicamente.
Peled também acusou outros presidentes latino-americanos, como o colombiano Gustavo Petro e chileno Gabriel Boric, de fazer declarações antissemitas, mas ressaltou que, no caso brasileiro, os comentários de Lula surgiram após uma colaboração para a retirada de um grupo do Brasil e de seus familiares de Israel e de Gaza — e em um momento em que um brasileiro, Michel Nisembaum, de 59 anos, ainda é mantido em cativeiro pelo Hamas.
— O que recebemos em troca? Declarações antissemitas do presidente Lula — afirmou.
Apesar das críticas à posição de Lula, Peled afirmou que o governo de Israel está disposto a acalmar a situação com o Brasil, afirmando que a expectativa da Chancelaria israelense é de que as autoridades brasileiras também estejam dispostas a uma retomada rumo à normalização.
— Estamos tentando acalmar as coisas. Esperamos que o lado brasileiro também. No fim, palavras e declarações têm consequências. Tomamos decisões e pagamos por elas — afirmou o diplomata.
Para Peled, ainda que os dois países não tenham rompido relações, chegou-se ao momento de uma iniciativa mais intensa para retomar o nível anterior de tratativas.
— Não vou dar conselhos ao Brasil, mas primeiro vamos parar de falar pela opinião pública e vamos voltar aos canais diplomáticos — disse, completando mais a frente na conversa com os jornalistas: — Esperamos que o presidente Lula encontre um caminho para refazer ou recuar de sua declaração. Novamente, não vou dar nenhum conselho ao presidente. Ele não precisa do meu conselho. Ele tem que manter em mente os interesses desta relação [com Israel], diminuir a temperatura e retomar os negócios como sempre.
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