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Preço do cacau dispara e Páscoa no DF fica mais cara em 2025

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Segundo o IPCA, o preço do produto aumentou 11,99% nos últimos 12 meses. O Correio ouviu consumidores e confeiteiros para saber as alternativas para comprar chocolates sem sobrecarregar o bolso

Com a Páscoa se aproximando, mercados, lojas e consumidores já estão se preparando para celebrar a festividade. O feriado, marcado pelos sabores doces das iguarias feitas à base de cacau, vai ter um gosto salgado este ano. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), o cacau internacional registrou um aumento de 189% em seus preços, o que afetou o mercado brasileiro de chocolate. O levantamento realizado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou aumento de 11,99% em bombons e chocolates em barra.

A presidente executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Anna Paula Losi, explica que o Brasil não possui autossuficiência em cacau, o que foi influenciado pela crise na produção do continente africano. “Desde o início de 2024, em razão de uma oferta menor do que o consumo, a gente tem um deficit internacional de cacau. Isso acaba se refletindo no mercado brasileiro também, porque o Brasil não produz cacau suficiente para atender à indústria local”, afirma.

Peso no bolso

Os altos preços também foram sentidos pelos consumidores. “Já está mais caro. Semana passada, eu comprei uma barra por um preço razoável e esta semana estava mais cara”, afirma Ana Lúcia, de 53 anos. Ela costuma fazer ovos de páscoa recheados para os membros da família. Devido à alta de preços e para não diminuir a qualidade, ela pretende reduzir o tamanho dos ovos de Páscoa. Para evitar gastar ainda mais nas lembrancinhas, Ana Lúcia irá antecipar as compras. “Vou comprando pouco a pouco para economizar e conseguir fazer ovos para todo mundo”, conta.

A corretora de imóveis Magna Seixas, 57 anos, sabe que a tendência dos preços é subir. Mas, mesmo com os preços elevados, ela mantém a tradição de presentear as crianças da família, só que de forma mais econômica. “A caixa de chocolate Lacta tem me chamado mais a atenção, porque contém mais chocolate e dá para distribuir. No fim, para eles, o chocolate é só uma brincadeira.” Para os adultos, ela costuma escolher Ferrero Rocher, mas já notou que os valores também subiram. “Normalmente, gasto uns R$ 150 nessa época, mas este ano acho que vai dobrar.”

O casal Almir Gomes, 21, e Jennyfer Fernandes, 25, está de olho nos chocolates. “Está compensando bem mais a barra do que o ovo”, disse o jovem estudante de ciências contábeis. A mulher conta que, normalmente, gastava menos de R$ 100 nos doces, mas as coisas parecem estar prestes a mudar este ano. “A gente vai tirar do bolso uns R$ 150, provavelmente”, conta a pensionista.

Procurando economia na hora das compras, o casal já traçou a estratégia para pagar mais barato: procurar em atacadões e selecionar barras e caixas de chocolate. “Quanto maior a barra, menor o valor do quilo. Principalmente aqueles tijolões. Se alguém quer fazer muito doce, pode comprar barras maiores e usar a criatividade para fazer algo diferente em casa mesmo”, recomenda Almir.

Impacto comercial

Além dos consumidores, confeiteiros e chocolaterias sentiram o baque dos preços. Leandro Isaías, sócio fundador da LaBarr Chocolate de Origem, relata que realizaram algumas mudanças. “Tivemos um problema de produção de cacau na Bahia por conta de alterações climáticas. Buscamos produtores de cacau do Amazonas e do Pará”, afirma.

Dayane Oliveira, 37, trabalha há oito anos como confeiteira em sua loja, Sonho Doce, em Ceilândia. O ano de 2025 foi o único em que ela cogitou não fazer os produtos para a Páscoa. “Como eu vou fazer ovos de Páscoa de qualidade com esse preço do chocolate bem alto? E qual o valor que vai sair? Será que vou ter cliente? Então, eu continuo nesse receio”, ressalta.

Devido à alta dos preços desde o ano passado, Dayane teve que fazer algumas alterações em toda a sua produção. “Antes, eu trabalhava com produtos à pronta entrega. Porém, tive muito prejuízo, aí, mudei só para encomendas”, disse. Além da produção, ela também alterou o tamanho dos ovos de Páscoa. “Passei a trabalhar só com um tamanho de ovo, o de 350 gramas. Desse modo, consigo entregar o produto e não preciso reduzir a qualidade”, completa.

Juliano Lessa, confeiteiro há 19 anos, acredita que esta Páscoa vai ser de presentes reduzidos. “Vai exigir bastante criatividade dos confeiteiros. Será focada nos mimos, como ovos menores, kit de ovinhos de colher e ovos com inclusões crocantes. Todo mundo quer ao menos presentear com uma lembrancinha nessa época do ano”, afirma.

Assim como Dayane, Juliano teve que se adaptar à nova realidade. “Adaptei o cardápio à realidade. Reduzi a quantidade para manter um preço acessível. Acredito que isso vai ser quase uma regra, com o cardápio mais enxuto e opções de presenteáveis, mimos e kits”, completa.

Pensando no futuro

Mesmo com os altos preços, a confeiteira Dayane acredita que terá uma boa Páscoa. “Eu estava com a expectativa bem baixa para este ano e me surpreendi quando muitas pessoas vieram perguntar se o cardápio de Páscoa estava pronto. Acredito que vou vender uma quantidade boa”, comemora.

Juliano também olha o cenário de forma otimista, mas acredita que precisará de mais esforço por parte dos confeiteiros. “A venda vai continuar acontecendo, mas temos de ter mais criatividade para criar e oferecer mais opções interessantes para os clientes”, completa.

Segundo Anna Paula Losi, do IPCA, o cenário da produção nacional tende a melhorar a médio e longo prazo. “Estamos trabalhando para aumentar a oferta de cacau para que o Brasil possa produzir um volume maior do que 190 mil toneladas. Temos o Plano Inova Cacau 2030, que estabelece como meta a produção de 400 mil toneladas. Isso vai fazer com que o Brasil consiga ser autossuficiente na produção das amêndoas”, afirma.

Correio Braziliense

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