Não é de hoje que se desconfia da capacidade de os probióticos livrarem nossa pele de espinhas. Essa história começou em 1930, quando dois dermatologistas americanos, John Stokes (1885-1961) e Donald Pillsbury (1902-1980), notaram que a microbiota intestinal – o conjunto de bactérias que habitam parte do sistema digestivo – e a saúde da derme estão intimamente entrelaçadas. A partir daí, sugeriram que povoar o intestino com bichinhos do bem poderia afastar problemas no tecido cutâneo.
Em 1961, foi realizado o primeiro estudo formal sobre o assunto no Union Memorial Hospital de Baltimore, nos Estados Unidos. Na ocasião, 300 indivíduos com acne tomaram suplementos recheados de probióticos e apresentaram 80% de melhora na aparência da superfície corporal.
“De lá pra cá, a tendência em analisar o papel da flora intestinal sobre a pele cresceu bastante”, conta a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo. Trabalhos recentes conduzidos em paralelo na Rússia e na Itália, por exemplo, mostram que esses benfeitores microscópicos incrementam a eficácia do tratamento e aceleram o desaparecimento das lesões.
Outra pesquisa, esta publicada no periódico americano Nutrition, revelou que os participantes que ingeriram leite fermentado por 12 semanas produziram menos sebo e, por tabela, tiveram menos erupções cutâneas.
Tantas evidências fizeram com que o assunto se tornasse tema de destaque em congressos científicos. Entre as vantagens apontadas pelos especialistas está o fato de que as fontes de probióticos oferecem pouquíssimos efeitos colaterais – principalmente se as compararmos com a isotretinoína, droga empregada em casos graves de acne que deixa a pele e as mucosas extremamente secas, além de alterar o colesterol.
Uma notícia e tanto para os 70 a 90% de jovens que sofrem com as espinhas e para os vários adultos que ainda carregam essas marcas da adolescência. “A princípio, a ideia seria utilizar os probióticos em parceria com os tratamentos convencionais”, já adianta a dermatologista Flávia Addor, da capital paulista.
O mecanismo que leva os probióticos a rechaçarem a acne não foi totalmente esclarecido, mas algumas pistas vêm sendo desvendadas. “Sabemos que há um forte elo entre o problema na pele e a constipação, que é combatida com a ingestão desse tipo de micro-organismo”, afirma Denise.
A nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, de São Paulo, vai além: “O desequilíbrio das bactérias do intestino, que resulta em uma maior concentração das ruins, aumenta a permeabilidade do órgão”. É como se ele ficasse poroso demais e, então, facilitasse a migração de toxinas para a circulação sanguínea. Essas substâncias, por sua vez, viajam até a derme, onde favorecem o surgimento dos indesejados pontos vermelhos.
“Os probióticos ainda reduzem a liberação de fatores inflamatórios que pioram o quadro e, pelo que parece, até diminuiriam a fabricação de sebo na pele”, complementa Denise.
Apesar de todas as evidências, não há uma recomendação fechada sobre a quantidade e os tipos de probióticos que devem ser engolidos para afastar a acne. Segundo alguns levantamentos, o consumo regular de iogurte e leite fermentado pode amenizar a chateação, até porque eles ofertam diferentes bactérias do bem para regular o sistema gastrointestinal.
Entretanto, os especialistas acreditam que o mais indicado seria lançar mão de fórmulas manipuladas. “Para que proporcionem os efeitos esperados, esses micro-organismos precisam estar bem conservados e em uma concentração adequada, o que é mais facilmente alcançado com pílulas ou sachês”, afirma Flávia Addor.
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