Economia
Queda inédita nos preços dos alimentos pelo terceiro mês consecutivo

Os preços dos alimentos no país registram uma queda incomum, mantendo-se em retração pelo terceiro mês seguido em agosto, algo que não acontecia desde 2023, quando os valores diminuíram entre junho e setembro devido a uma super safra e à valorização cambial.
Nos últimos três meses, de junho a agosto, os alimentos acumularam uma redução aproximada de 1%, com uma queda de 0,91%, conforme dados divulgados pelo IBGE.
Especialistas explicam que longos períodos de queda nos preços são raros, pois geralmente os custos de produção tendem a subir e a oferta de alimentos sofre variações climáticas e sazonais significativas. Atualmente, contudo, um cenário favorável tem contribuído para a diminuição dos valores.
Algumas mercadorias têm restabelecido seu fornecimento após períodos de escassez que elevaram seus preços de forma expressiva. Além disso, a desvalorização de commodities agrícolas e a valorização do real em relação ao dólar têm reduzido os custos.
O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, ressalta que os aumentos acentuados em 2024 decorreram de eventos climáticos excepcionais, como a combinação de El Niño e La Niña, que afetaram as lavouras de forma incomum. Em 2025, não houve impacto desses fenômenos, favorecendo as colheitas.
Segundo Leal, a queda dos preços resulta da reversão do forte aumento ocorrido entre 2024 e 2025 e de uma safra excepcionalmente boa neste ano. Ele projeta uma inflação de alimentos em torno de 5% para este ano, abaixo da média histórica de 7,5% do século.
O café, por exemplo, teve sua segunda queda mensal consecutiva após mais de um ano de alta. Embora ainda registre alta acumulada de 60% em 12 meses, o pico de 82% em maio já foi superado, e o crescimento está em seu menor ritmo desde janeiro.
Fernando Gonçalves, analista do IBGE, destaca que a melhoria na oferta de grãos tem impactado diretamente os preços ao consumidor final. A colheita do café, em fase final, está sendo robusta, o que contribui para esta tendência.
Historicamente, essa época do ano apresenta maior oferta de certos alimentos, levando à queda nos preços de frutas, tubérculos, legumes e verduras. Exemplos incluem o tomate, que caiu 13,39%, a cebola com recuo de 8,69%, e a batata-inglesa, que registrou queda de 8,59%. O mamão também teve declínio de 10,90% em agosto devido à maior disponibilidade.
O analista do IBGE também aponta que fatores adicionais podem influenciar os preços, como a imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, que pode ter afetado itens como o café e a manga, esta última com queda de 18,40% em agosto.
Quanto ao futuro, a expectativa dos economistas é de deflação nos preços ao consumidor em setembro, com alimentos em queda pelo quarto mês consecutivo. No entanto, essa tendência deve se inverter em outubro, quando a demanda tradicionalmente aumenta no último trimestre do ano.
Leal prevê que o preço do café pode cair cerca de 1% em setembro, mas espera alta de aproximadamente 0,5% a partir de outubro, ressaltando que o produto provavelmente absorverá a deflação observada este ano.
Os preços das carnes, que também recuaram após aumentos expressivos no final do ano passado, devem se recuperar apenas no próximo ano, uma vez que o rebanho ainda se encontra abaixo da média histórica.
De acordo com o economista, o desconforto sentido pelos consumidores no último ano será atenuado neste ano, embora o final do ano mantenha pressões típicas de entressafra e das festividades, que costumam elevar os custos.

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