Centro-Oeste
R$ 2,6 bilhões do reajuste de servidores do GDF turbinam economia
A segunda parcela do reajuste negociado pelo GDF com os servidores públicos da administração direta será paga a partir deste mês. A expectativa é de que o acerto vai fomentar o consumo de bens e serviços na capital
A notícia do acerto do reajuste dos servidores públicos da administração direta do Governo do Distrito Federal (GDF) foi recebida com otimismo tanto pela categoria como por entidades que representam o comércio e o setor imobiliário na capital do país. O total pago a partir deste mês injetará R$ 2,6 bilhões na economia do DF. O valor é referente à segunda parcela do reajuste de 18%, acordado em 2023. A primeira foi paga no ano passado e a terceira, em 2025. De acordo com a Secretaria de Economia, na prática, o aumento na folha será maior do que 18%, porque cada nova parcela incide sobre o salário já reajustado com a anterior. É o maior reajuste linear já concedido na história do Distrito Federal e abarca cerca de 200 mil servidores ativos, aposentados e pensionistas.
A administração pública federal e distrital representa mais de 45% da economia do DF, o comércio em torno de 8%; e o setor serviços, 44%. Ou seja, um aumento na renda dos servidores tem impacto relevante. De acordo com projeção feita por José Luiz Pagnussat, do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF), a estimativa de mais R$ 2,6 bilhões equivale a quase 1% do Produto Interno Bruto do DF. “Só que o efeito final no crescimento do PIB do DF vai ser bem maior, dado o efeito multiplicador da economia”, explica o economista.
Segundo ele, o reflexo de salários mais altos para os servidores do GDF gera um acréscimo na demanda por bens e serviços. “Esse aumento resulta em mais produção, mais emprego e novo crescimento da renda”, destaca. “É o efeito multiplicador keynesiano, ou seja, uma injeção inicial de recursos desencadeia o efeito multiplicador na economia, acelerando o crescimento e o emprego. Mais gente empregada resulta em aumento da renda das famílias, provocando um novo aumento da demanda, repetindo o efeito positivo na economia”, detalha.
Pagnussat ressalta ainda que, com a economia turbinada, o governo acaba auferindo um retorno positivo também. “Com o crescimento do comércio e da produção de bens e serviços, o GDF tem uma elevação da arrecadação de impostos, recuperando parte do aumento de gastos”, calcula.
O economista e consultor econômico Carlos Eduardo de Freitas projeta que o impacto dos R$ 2,6 bilhões adicionais na despesa mensal do GDF em salários pode representar por volta de 20% de impacto imediato no consumo das famílias, exceto alimentação. “A projeção foi feita considerando a participação dos gastos das famílias no PIB do DF na faixa de 60% e despesas com alimentação de 17,5%”, elenca. “O GDF detém fontes de recursos para pagar esse reajuste salarial aos seus funcionários, ou seja, os bens públicos oferecidos pelo governo ficarão um pouco mais caros, mas esse aumento de preço não será cobrado dos contribuintes do DF. Não haverá elevação de carga tributária própria do DF para financiar este reajuste. E também não serão cortadas outras despesas para cobrir esse gasto”, analisa o especialista.
Valorização
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta (Sindireta-DF), Ibrahim Yusef, acredita que o cumprimento do reajuste é uma forma de reconhecimento ao trabalho e à dedicação do funcionalismo. “Isso também reflete uma política de valorização dos funcionários públicos. Esse reconhecimento é fundamental não apenas para garantir a motivação e o desempenho eficiente de nossas funções, mas também para aquecer a economia local”, afirma. “Sabemos que momentos econômicos desafiadores exigem esforços e sacrifícios de todas as partes. Portanto, é com grande alívio e gratidão que recebemos essa parcela, que não apenas alivia nossa situação financeira, mas nos motiva a continuar desempenhando nossas funções com excelência”, acrescenta.
Yusef lembra que o último aumento negociado entre o GDF e servidores da administração direta ocorreu em 2013. O combinado entre o governo e a categoria foi que o acerto seria feito em três parcelas anuais. No entanto, a última, que deveria ter sido paga em 2015, foi quitada somente sete anos depois. “Isso fez com que alguns servidores ficassem superendividados. Fizemos 33 dias de greve em protesto, mas o acordo só foi cumprido em 2022 pela atual administração”, comenta o presidente do Sindireta, que representa 80 mil funcionários públicos. “Espero que o diálogo entre servidores e governo continue sendo produtivo, sempre visando o bem-estar dos trabalhadores e a eficiência do serviço público”, conclui.
Expectativa
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Sebastião Abritta, o reajuste vai impactar diretamente no consumo. “Quando você aumenta o salário do funcionário público ou privado, você aumenta o poder de compra. O funcionário consegue colocar o crediário em dia, ou comprar com um valor maior da prestação”, observa. “Creio que aumentará o consumo de roupas, calçados e eletrodomésticos. Quando o consumidor está com a renda comprometida e tem um aumento, isso reflete diretamente no comércio, pois ele aumenta automaticamente o poder de compra tanto parcelada quanto à vista”, assinala.
O vice-presidente administrativo e financeiro da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Celestino Fracon Júnior, ressalta que o setor vê o reajuste com excelentes olhos. “Os servidores públicos são uma parte muito significativa da base de compradores do mercado imobiliário do DF”, enfatiza. “A gente vem tendo um desempenho muito satisfatório nos últimos meses e no último ano. Temos tido índices bastante expressivos de comercialização. É sempre importante a recomposição da renda para ajudar os futuros compradores a conseguirem uma faixa maior de financiamento para aquisição dos imóveis. Estamos otimistas e entendemos que vai fomentar o mercado”, complementa.
O retorno positivo também é observado pelo presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido Freire. “A massa salarial do setor público exerce papel determinante na economia do DF. Por isso, essa segunda parcela de reajuste dos servidores do GDF deverá impulsionar o setor de comércio, serviços e turismo, que já apresentou expansão no primeiro semestre como resultado da revisão de salários iniciada no ano passado pelo governo de Ibaneis Rocha”, afirma.
Planejamento
Realizar o sonho de comprar um carro com o dinheiro a mais é o plano da servidora pública do GDF Lívia Lima, 41 anos. “Vai me ajudar a pagar as prestações. Acho que poderia ser um pouco maior o valor, mas, para o que eu preciso neste momento, vai ajudar bastante”, antecipa a moradora de Taguatinga.
Eugênio de Moraes Carrero, 45, também servidor do GDF, disse que usará o reajuste para equalizar as contas. “Acho que ele é bom, mas sempre pode ser um pouco maior, porque demora muito para ter esses aumentos”, opina.
Para Marilise Carvalho, 47, o valor vem em boa hora. “É uma medida de valorização do servidor. Acho que foi uma excelente iniciativa que, com certeza, vai nos ajudar. Estou fazendo uma reservinha pra poder trocar de carro e fazer mais coisas”, contou.
Correio Braziliense
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