A pandemia do coronavírus que ameaça colapsar o sistema público de saúde também tem afetado a capacidade das unidades da rede particular. Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), a média de ocupação total na rede filiada já é de 80%. Já os hospitais públicos na cidade do Rio, somando as redes municipal, estadual e federal, chegaram a 92% de ocupação neste domingo quando o estado registrou 1.019 mortes e 11.139 casos confirmados da Covid-19. Para tentar solucionar – ou ao menos amenizar – o problema, um grupo de entidades lançou uma proposta para que as redes pública e privada trabalhem em conjunto.
“Hoje conseguimos absorver os pacientes, mas precisamos de todos os nossos recursos para dar conta. Estamos com mais de 90% de ocupação nas UTIs”, afirma Leandro Tavares, vice-presidente médico da Rede D’or São Luiz, que possui 13 unidades no estado. Segundo ele, a rede já conseguiu expandir o máximo possível da sua quantidade de leitos de UTI, desde o início da pandemia. Muitos respiradores foram buscados em unidades de outros estados que estão sofrendo menos com o coronavírus. Já a dificuldade de se contratar profissionais, característica da rede pública, começa a aparecer nos hospitais privados.
Assinada pela Confederação Nacional de Saúde, Federação Brasileira de Hospitais, Associação Brasileira de Planos de Saúde e Confederação das Misericórdias do Brasil, a proposta de enfrentamento ao Covid-19 fala em “planos regionais” e se sustenta em quatro pilares: ativação de leitos públicos ociosos, construção de hospitais de campanha, ampliação das testagens e editais públicos para a contratação de prestadores de serviço privados.
“A situação no Rio está muito ruim. Não há um nível de colapso na rede privada, mas está chegando próximo. E, nas próximas semanas, a demanda vai ser enorme. Estamos contando com a abertura de novos leitos”, avisa Bruno Sobral, secretário executivo da Confederação Nacional de Saúde. Sobral também destaca que, nos últimos 10 anos, o Rio foi o estado do país que mais perdeu hospitais privados, totalizando cerca de 10 mil leitos. Assim, a rede particular da região é a com menor folga para receber pacientes no país.
“Em vários estados da federação, existem leitos públicos fechados por demora de repasses, insuficiência de recursos humanos e, até mesmo, por falta de equipamentos básicos”, diz trecho do documento.
Ampliação dos testes
“Esses leitos, em muitos lugares, estão montados e disponíveis, sendo a superação de embaraços muito mais fácil e rápida do que a preparação de novos leitos”, aponta o relatório, citando levantamento do GLOBO que revelou que mais de 1.600 leitos da rede pública disponíveis estão fechados. “A ativação dessas unidades deve ser prioridade do poder público, que conta com novas regras de licitação – mais facilitadas e com mais recursos orçamentários”, pontua o documento.
Uma das alternativas apresentadas indica que as secretarias de Saúde devem buscar atendimento em cidades do interior para desafogar unidades das regiões metropolitanas, já abarrotadas. E também aponta como crucial a aceleração dos hospitais de campanha.
“Sua mobilidade, flexibilidade e adaptabilidade precisam estar à disposição dos gestores públicos e privados. Sozinhos (os hospitais de campanha) podem ser insuficientes, mas utilizados simultaneamente com outras ferramentas, compõem um conjunto poderoso de intervenção na assistência desta doença (…) desde a triagem dos pacientes, passando por estruturas diagnósticas ou até mesmo como estruturas de internação”, diz o estudo. No Rio, apenas um hospital de campanha foi inaugurado pelo município até o momento e um pelo estado.
Outro ponto tido como essencial é fazer com que a população tenha mais acesso aos testes para diagnóstico do coronavírus.
“É inquestionável que países com melhores desfechos nesta pandemia testaram mais do que países com piores desfechos. A limitação dos insumos diagnósticos no Brasil é um argumento incompleto. Aos poucos, os setores público e privado vêm aumentando suas capacidades de testagem”, aponta o documento.
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