Reitor da USP propõe primeiro ano comum para cursos parecidos

Aluísio Segurado, futuro reitor da Universidade de São Paulo (USP), está familiarizado com a instituição há cinco décadas. Desde que ingressou no curso de medicina na década de 1970 até o momento antes de assumir o cargo máximo da universidade, ele acompanhou significativas mudanças nas aulas e na estrutura da USP.

Ele destaca que a USP atual é muito mais diversa e próxima da população paulista do que aquela em que entrou. Essa diversidade é um privilégio, mas também apresenta desafios que exigem revisão de práticas para aproveitamento pleno dessa pluralidade.

Reforma no primeiro ano dos cursos

Um foco importante da gestão de Aluísio será repensar o primeiro ano dos cursos. Ele acredita que essa etapa pode desmotivar estudantes e defende a criação de uma formação geral básica, agrupando disciplinas comuns entre cursos similares, especialmente nas ciências exatas, onde há maior evasão.

Essa mudança influenciaria o vestibular, permitindo ao aluno optar inicialmente por uma área de formação geral e só no segundo ano escolher uma graduação específica. A ideia é diminuir o abandono precoce dos cursos na USP.

Esse modelo funciona em outras instituições, como a Universidade Federal do ABC (UFABC), mas na USP seria aplicado somente a cursos com afinidades, como geofísica, meteorologia e astronomia. Aluísio questiona se um estudante conhece as diferenças profissionais entre tais áreas e sugere que uma base comum no início facilitaria a escolha futura.

Facilitar transferências entre cursos

Ele também defende facilitar a troca de carreiras dentro da universidade. Atualmente, o aluno precisa fazer exame de transferência com poucas vagas ou repetir o vestibular para mudar de curso, o que penaliza quem ainda está definindo seu caminho acadêmico.

Como exemplo, cita uma aluna que precisou desistir da engenharia química para buscar outro vestibular em química, situação evitável com mecanismos mais flexíveis.

Quem é Aluísio Segurado?

Com 68 anos, Aluísio Segurado é médico formado e professor titular da USP, onde também tem mestrado, doutorado e livre-docência em doenças infecciosas e parasitárias. Foi pró-reitor de Graduação e diretor do Instituto Central do Hospital das Clínicas durante a pandemia de covid-19. Ele e Liedi Légi Bariani Bernucci foram eleitos para a reitoria pela chapa USP pelas Pessoas.

Desafios da gestão

Além de reformas acadêmicas, sua gestão enfrentará debates sobre políticas afirmativas para pessoas trans e com deficiência (PCDs), com a posse marcada para 25 de janeiro. No caso das cotas para PCDs, a universidade precisará se adaptar à lei estadual que reserva vagas para esses estudantes.

Financiamento da USP

O maior desafio previsto é a garantia do financiamento da universidade após mudanças na arrecadação do ICMS, que é a principal fonte de recursos. O governador do estado assegurou que não haverá redução de verbas, mas é necessário definir a base legal para essa garantia junto ao governo estadual e legislativo.

Valorização da universidade e diálogo com a sociedade

Aluísio ressaltou que os ataques recentes à USP refletem um movimento global de polarização política e afetam a ciência como um todo. Ele defende a aproximação da universidade com a sociedade para evidenciar sua importância, destacando ações realizadas durante a pandemia, como o apoio do Hospital das Clínicas.

Ele enfatiza a necessidade de um ambiente democrático dentro da USP, com respeito e intolerância absoluta à violência e discriminação, promovendo a diversidade de opiniões de forma civilizada.