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Rios da noite vira terra sem lei na Amazônia, diz pesquisador

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Cesar Mello, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), destaca os desafios enfrentados para conter o crime organizado na Amazônia. Segundo ele, a falta de coordenação entre as Forças Armadas, Polícia Federal e Polícia Militar dificulta o patrulhamento efetivo dos rios, que são usados como rotas para o contrabando de drogas, especialmente no Rio Solimões.

A Marinha realiza apenas fiscalização administrativa nas embarcações, enquanto o Exército e a Polícia Federal afirmam que o patrulhamento dos rios na fronteira não é de sua competência. Assim, cabe à Polícia Militar realizar abordagens em vastas áreas de cursos d’água, numa tarefa difícil e onerosa.

De acordo com estimativas citadas por Mello, apenas 2% a 3% da cocaína produzida nos países vizinhos é apreendida na rota do Solimões, que tem mais de 6.000 km de cursos d’água. As poucas bases de fiscalização ficam localizadas em pontos estratégicos, mas os inúmeros igarapés e atalhos facilitam o desvio das mercadorias ilícitas.

Cesar Mello explica que a complexidade do uso das águas amazônicas para o tráfico inclui esconder a droga em meio à carga legal, bagagens pessoais e mesmo em tanques de combustível. A fiscalização de toda essa movimentação torna-se praticamente impossível, mesmo com tecnologia.

Além da dificuldade geográfica, a permeabilidade da fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, que frequentemente muda de curso pelos rios, contribui para a baixa fiscalização, pois impede o policiamento eficaz quando as embarcações mudam de lado. A ausência de postos policiais permanentes e de patrulhamento das Forças Armadas nestas áreas reforça a vulnerabilidade.

Segundo Mello, investir em segurança na Amazônia exige um esforço conjunto e interdisciplinar, incluindo o uso de tecnologia, políticas públicas para criar empregos locais e fixar agentes públicos na região. Ele enfatiza que é necessário definir claramente quais órgãos são responsáveis pelo patrulhamento contínuo das águas e ouvir as pessoas que trabalham no terreno para criar estratégias eficazes.

Apesar dos desafios, o professor afirma que fazer segurança pública na Amazônia é mais seguro e eficiente do que na maioria dos grandes centros urbanos, mas alerta que à noite os rios tornam-se “terra sem lei”, necessitando de ação coordenada e investimentos contínuos para proteger a soberania e a população local.

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