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Economia

‘Risco de estagnação é visível a olho nu’, diz presidente do IBGE

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Para Paulo Rabello de Castro, mesmo que o país saia estatisticamente da recessão em 2017, desafios na economia ainda são enormes

Segundo o economista Paulo Rabello de Castro, a crise política prejudica a recuperação econômica, mas saída de Temer não é solução (Heitor Feitosa/VEJA.com)

Segundo o economista Paulo Rabello de Castro, a crise política prejudica a recuperação econômica, mas saída de Temer não é solução (Heitor Feitosa/VEJA.com)

Mesmo que a previsão de crescimento de 1% para a economia em 2017 se concretize, e estatisticamente o Brasil saia da recessão, esse avanço será insuficiente para sair da crise. E é possível que o país enfrente um período de estagnação em vez de recuperação, pois os desafios são enormes. A avaliação é do presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), o economista Paulo Rabello de Castro, em entrevista concedida à Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira.

Segundo Castro, o momento atual ainda é de piora das projeções, que estão menos otimistas do que as feitas na metade do ano, e a recuperação, sobretudo a do emprego, demorará mais que o previsto anteriormente para vir.

Um dos fatores de dificuldade é o desarranjo no setor produtivo, diz ele. “Algo há de errado na disposição desse time. As empresas entram mal em campo, as pessoas são desempregadas. Todos ficam desesperançados, a produtividade geral cai e o governo gasta demais, cobrando de todos para cobrir a gastança”, avalia.

Outro elemento problemático, na visão do economista, é a alta taxa básica de juros (Selic). Na última semana, o Copom reduziu esta taxa em 0,25 ponto porcentual, para 13,75% ao ano. Para Castro, manter os juros altos é uma medida que deveria ser usada por um período curto, não durante décadas seguidas. “O resultado é que, de 1999 até hoje, a dívida pública está quase duas vezes superior ao que poderia estar se estivéssemos praticando uma taxa de juros neutra. Isso sustenta um rentismo financeiro e faz com que a sociedade precise ser reeducada para o compromisso de trabalhar. Trabalho, no Brasil, é opção de último caso”, explica.

O presidente do IBGE considera também que a instabilidade política é um agravante na situação econômica, e que a saída do presidente da Michel Temer não é uma solução para esse tipo de problema. “Não temos tempo a perder”, diz. Entre as medidas necessárias apontadas por Castro estão a criação de um conselho fiscal e as reformas tributária e da Previdência. Em relação à última, a demora no processo e a falta de clareza nas propostas que estão sendo debatidas são prejudiciais. “No IBGE, vamos perder mais de 300 funcionários no próximo ano, devido à aposentadoria. Eles estão virando 400 em razão do lero-lero de uma Previdência que vai machucar o interesse dos aposentados. É uma dúvida que se instalou no coração das pessoas, porque ninguém sabe qual o teor da reforma. Até a minha secretária anunciou que vai se aposentar”, diz Castro.

Em relação ao IBGE, com o limite do crescimento de gastos a que se sujeitaria o governo federal com a aprovação da PEC do Teto, o instituto teria que reavaliar se os estudos feitos dão o retorno desejado. “Muitas das pesquisas são ancoradas apenas na tradição de fazer porque se fazia no passado”, revela.

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