Rodrigo Paz assume presidência da Bolívia em momento de crise

Rodrigo Paz, senador do Partido Democrata Cristão, conquistou a vitória no segundo turno das eleições na Bolívia, encerrando quase vinte anos de governos do Movimento ao Socialismo (MAS). Com 54,5% dos votos, ele superou o adversário Jorge “Tuto” Quiroga, que recebeu 45,5%, segundo dados do tribunal eleitoral boliviano.

Mesmo assim, seu partido não alcançou a maioria no legislativo, exigindo que ele forme alianças para governar com estabilidade. Durante seu discurso em La Paz, Rodrigo Paz destacou a importância de abrir a Bolívia ao mundo, vislumbrando um futuro de crescimento econômico e cooperação internacional.

Rodrigo Paz Pereira nasceu em 1967 na Espanha, em Santiago de Compostela, durante o exílio da família em meio ao período de ditaduras militares no país. Ele é filho do ex-presidente boliviano Jaime Paz Zamora, que governou entre 1989 e 1993 e foi favorável à privatização e ao uso comercial e medicinal da coca, apesar das controvérsias em torno de sua gestão.

A chegada de Rodrigo Paz à presidência representa uma transformação política significativa, já que o MAS esteve no poder por quase duas décadas, mesmo contando com o apoio da maioria indígena da Bolívia. A nova administração adota uma postura mais moderada, prometendo preservar programas sociais e fomentar o setor privado.

Os eleitores, especialmente os de esquerda, parecem haver optado por uma mudança gradual, rejeitando tanto os cortes severos quanto o resgate pelo FMI propostos pelo adversário Quiroga. Paz propõe incentivos fiscais para pequenas empresas e promove autonomia fiscal regional.

Em entrevista pouco antes da eleição, Paz afirmou que o próximo governo buscará construir uma economia centrada na população, com o Estado desempenhando papel menos dominante. Ele também sinaliza a intenção de fortalecer relações diplomáticas com países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, após anos de alinhamento com Rússia e China.

O apoio popular a Rodrigo Paz foi impulsionado pelo seu companheiro de chapa, Edman Lara, ex-policial que ganhou notoriedade nas redes sociais por denunciar corrupção. Apesar de polêmica, esse fator ajudou a cativar eleitores jovens e da classe trabalhadora.

Além disso, o principal sindicato do país, a Central de Trabalhadores da Bolívia (COB), declarou que resistirá a qualquer tentativa que ameace os direitos sociais e econômicos conquistados. O novo governo terá que demonstrar habilidade política para evitar conflitos sociais.

Paz iniciou sua carreira política em 2002 como representante do departamento de Tarija. Entre 2010 e 2020, foi vereador e prefeito de sua cidade, onde enfrentou questionamentos sobre supostos irregularidades em obras públicas. Nos últimos anos, atuou como senador pela aliança Comunidade Cidadã, com atuação crítica, mas construtiva, em relação ao governo do presidente Luis Arce.

Além disso, Rodrigo Paz participou ativamente da Coordenadoria para a Defesa da Democracia em 2019, que teve papel relevante na crise política do país, contribuindo para o segundo turno das eleições e denunciando supostas fraudes.

Seu mandato, que começa em 8 de novembro, é visto como um momento decisivo para o país, que busca estabilidade e desenvolvimento após anos de instabilidade e polarização política.