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Economia

Salário mínimo tem alta real, mas poder de compra seguirá estagnado até 2026, diz pesquisa

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Fatores como fortalecimento do dólar, desvalorização do real e aumento contínuo da inflação impedem que capacidade aquisitiva retorne a patamares acima da pandemia

Mesmo com reajustes acima da inflação, o poder de compra do salário mínimo não deve aumentar ou voltar ao nível pré-pandemia até o final de 2026, indica estudo da consultoria LCA 4intelligence

Em novembro de 2024, o salário mínimo tinha o poder de compra de 1,7 cestas básicas, nível em que segue desde outubro de 2020, quando atingiu a média de 1,75, se mantendo nesse patamar desde então. Antes deste período, entre 2010 e 2019, o poder era de, em média, duas cestas.

Fatores como fortalecimento do dólar, desvalorização do real e aumento contínuo da inflação impedem que capacidade aquisitiva retorne a patamares acima da atual “estabilidade”.

Apesar desses recuos temporários serem comuns após crises, declínio atual é agravado por série de eventos desencadeados após pandemia, de acordo com economistas consultados pela CNN.

No primeiro dia do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou decreto que define o novo valor do salário mínimo, que será de R$ 1.518 em 2025. O novo valor irá impactar remunerações recebidas pelos trabalhadores a partir de fevereiro.

O reajuste de 7,5% considera a inflação de 2024 e o crescimento da economia brasileira, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB).

No entanto, mesmo com aumento não deve haver um crescimento significativo do poder de compra do brasileiro em relação ao preço da cesta básica, aponta estudo.

O levantamento leva em consideração as séries mensais históricas desde 1998 da cesta básica da cidade de São Paulo do Dieese, rendimento médio habitual nominal da PNAD Contínua e salário mínimo nominal vigente.

Para Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence e responsável pela pesquisa, crescimento da inflação gera percepção de piora no cenário econômico mesmo com aquecimento do mercado de trabalho.

No entanto, a redução do poder do real foi aprofundada devido a fatores de níveis globais.

“Quando a gente olha para a série, momentos de crise, como a que aconteceu entre 2008 e 2009, mas que há recuperação. Em 2020 o que temos é uma crise de choques, como diversas ondas de Covid-19 que, em 2022 se juntam à Guerra na Ucrânia, afetando a cadeia de produção e preço de commodities concomitantemente”, explica.

A série de choques levou a um aumento no preço dos alimentos, principal grupo que pressiona atualmente a inflação.

A regra atual de valorização do salário mínimo considera a inflação de 12 meses medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.

Com INPC a 4,84% e PIB de 2023 a 3,2%, o salário mínimo seria de R$ 1.528 em 2025.

Matheus Dias, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), a parcela da população mais afetada pelo aumento de preço são as parcelas mais pobre da população.

“Em dez anos houve uma defasagem muito grande do poder de compra. Em 2014 um produto de R$ 100 hoje custaria R$ 184 corrigindo a inflação. Com isso, quem tem um poder já reduzido acaba sendo mais afetado”, afirma Dias.

O humor da população brasileira acaba sendo o mais influenciado pelo nível de preços,  já que a força da alta dos preços de alimentos prevalece em ambos os casos.

A percepção pessimista com a alta dos preços no país também é vista na opinião da população, de acordo com Datafolha. 67% acreditam que a inflação irá piorar em 2025. No ano anterior, o percentual era de 51%.

Dias ainda pontua que a questão cambial também interfere no poder de compra e no aumento da inflação. O pesquisador do Ibre explica que repasse do aumento cambial acaba nos preços inevitavelmente.

“Temos uma desvalorização contínua no câmbio desde o primeiro trimestre do ano passado que é repassada semestralmente e que hoje ainda pode estar defasado de outras altas do dólar”, explica.

A perspectiva é que o poder de compra do salário mínimo se mantenha até final de 2026, quando se aproximam as eleições, de acordo com a pesquisa.

“’Não voltaremos ao poder de compra pré-pandemia nas projeções para os próximos dois anos”, afirma Imaizumi.

De acordo com Datafolha, 61% dos brasileiros acham que a economia do País está no rumo errado. Apenas 32% dos entrevistados acreditam que ela está no caminho certo. Essa percepção é majoritária em todas as faixas etárias da pesquisa.

 

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