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Sem água e luz, grupo entra no 3º dia de resistência à desocupação de hotel
Arredores do Torre Palace permanecem com bloqueio em raio de 150 m. Eixo Monumental e três vias do Setor Hoteleiro Norte estão fechados.
Mesmo com o fornecimento de energia elétrica e água interrompido, invasores entram nesta sexta-feira (3) no terceiro dia de resistência à reintegração de posse do hotel Torre Palace, no centro de Brasília. Após reunião no Palácio do Buriti, a Secretaria de Segurança Pública decidiu permanecer tentando negociar com o grupo, até que eles “deixem espontaneamente o prédio”. Não há informações sobre a duração do estoque de comida.
Por causa da operação de desocupação, a Polícia Militar mantém os arredores do prédio isolados desde as 9h de quarta-feira (1º). O bloqueio ocorre em um raio de 150 metros, incluindo seis faixas do Eixo Monumental e três pistas internas do Setor Hoteleiro Norte.
Levantamento feito pelo governo aponta que seis dos dez adultos que evitam deixar o local respondem a processos judiciais. Há ainda três crianças. A Vara da Infância e da Juventude também acompanha o caso.
Entre os seis está o líder do Movimento de Resistência Popular, Edson Silva, preso em dezembro do ano passado por suspeita de extorquir dinheiro de integrantes de movimentos sociais. O homem está em liberdade provisória. Ele sempre negou as acusações.
O homem é apontado pela polícia como o responsável por forçar um grupo de 80 pessoas, filiadas ao movimento, a pagar entre R$ 50 e R$ 300 aos líderes do MRP. O movimento ocupa o hotel desde outubro do ano passado.
Na época da prisão, a polícia tinha informado que Edson Silva levava uma vida confortável de classe média. Com o dinheiro supostamente conseguido com o esquema, ele teria comprado um carro avaliado em R$ 85 mil e morava com a mulher em um apartamento em um edifício com área de lazer completa e junto a um parque em Taguatinga. Silva tinha sido preso com outras seis pessoas, incluindo a mulher, Ylka Carvalho.
Para o delegado Luís Henrique Sampaio, titular da delegacia de Repressão ao Crime Organizado, o patrimônio dos suspeitos não condizia com a realidade deles, que diziam militar por moradia. “O líder ocultava essa riqueza. Quando ele ia para o acampamento, passava com o carro longe, porque tinha medo de chamar a atenção.”
Para cobrar o dinheiro, que vinha do recebimento do auxílio-aluguel (de R$ 600) e que era pago pelo governo do DF, os líderes do MRP lançavam mão da violência, disse o investigador. “Era um grupo de jagunços que não media esforços. Ameaçavam as pessoas, inclusive com armas, para que pagassem”, afirmou o delegado. Ele informou que o esquema funcionava havia pelo menos cinco meses.
Com o grupo, a polícia apreendeu quatro armas de fogo, uma espada e R$ 26 mil. Três pessoas ainda estão sendo procuradas. Segundo o delegado, o vice-líder do movimento ainda está foragido.
Ainda segundo o delegado, um dos presos tinha passagem por homicídio e outro já cumpria pena em regime aberto.
Paralelamente à cobrança de dinheiro de integrantes do MRP, os suspeitos ainda vendiam drogas, complementou o delegado. A investigação da polícia partiu de uma integrante do movimento que teria se sentido coagida.
O grupo é o mesmo que ocupou o hotel Saint Peter em setembro – que ofereceu emprego de gerente com salário de R$ 20 mil ao ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, condenado no mensalão, e foi palco para o sequestro de um funcionário do ano passado. “[De lá] Foram subtraídos muitos objetos. Os melhores, como televisores e chuveiros, ficavam com a liderança”, disse o investigador.
“Eles devem ter recebido R$ 150 mil [com o esquema]”, estimou. Os suspeitos vão responder por organização criminosa armada, furto e extorsão. Eles podem pegar até 30 anos de prisão. Mesmo com a prisão dos líderes, a polícia diz que cerca de 100 integrantes do movimento permanecem no hotel Torre Palace, ocupado desde 23 de outubro.
Negociação
Deputados federais do PT, representantes do GDF e da Polícia Militar ainda se reuniram com os invasores na área interna do hotel, em uma tentativa de acordo, na quarta. O grupo disse que só deixaria o local, conhecido como “hotel do crack” quando o governo oferecesse uma opção permanente de moradia.
Pelo menos quatro pessoas foram detidas por xingarem PMs, desobedecerem a ordem de deixar o prédio e tentar invadir o perímetro de isolamento nesta quarta. No fim da tarde do primeiro dia da operação, bombas de fabricação caseira foram lançadas de cima do prédio em direção aos militares. Os artefatos, conhecidos como “cabeção”, estouraram perto dos carros do Corpo de Bombeiros e da PM. Ninguém ficou ferido.
Devido à operação da polícia, era possível ver integrantes do MRP carregando pneus e botijões de gás até a cobertura do prédio na tarde desta quarta. Um grupo de manifestantes chegou a queimar objetos em um dos andares do edifício.
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