Até por ser médico, participo de reuniões e eventos da área de saúde em condição privilegiada e percebo o incômodo dos meus colegas quando o tema é a inflação médica. Isso porque entendemos corretamente que honorários não são os fatores mais relevantes nesta conta e que deveríamos ser muito melhor remunerados. Isso dito, é fundamental entendermos a responsabilidade do ato médico e suas escolhas, no contexto da segurança e qualidade na prestação de serviços em saúde e que não é ele o vilão da inflação do custo médico-assistencial.
Medicina é equipe, é processo e é estrutura. E todo contexto importa para os resultados da assistência. A partir de 2006, iniciou-se em todo o mundo uma marcha para se evitarem mortes por inconformidades e erros que acontecem numa prática assistencial sem rigor métrico e sem ser pautada pelas melhores evidências. Nesse momento nasce o Institute for Health Improvement (IHI). Todo esse movimento tem como objetivo aprimorar os resultados clínicos, reduzir os desperdícios e, o mais importante, aperfeiçoar a experiência dos pacientes.
Melhor atendimento
A busca por maior qualidade na assistência médica, com estabelecimento de uma série de métricas e a realização de suas avaliações, desenvolve enormemente a capacidade de gestão do setor de saúde em vários aspectos. Ela permite uma comparabilidade com transparência e gera a possibilidade de que se confrontem índices de infecção de hospitais, causas de reinternações e dados sobre úlcera de pressão, por exemplo, o que dá melhor poder de escolha ao paciente no momento de decidir onde buscará atendimento e garante um certo protagonismo durante os cuidados com a sua saúde.
Também é possível se questionar se muitos dos avanços que foram alcançados pela medicina nos últimos anos realmente ocorreriam sem uma procura constante por melhor qualidade de atendimento e por mais segurança para o paciente. Em outras palavras: tecnologia não é só aparelho. Deixando essas questões de lado, seria possível trabalhar e alcançar os últimos resultados da redução de úlcera de pressão? E o que falar de diminuição de infecções por Staphylococcus resistente e por pós-ventilação assistida, além de readmissões por insuficiência cardíaca congestiva? E, ainda, de prevenção de dano por uso de medicações de alto risco?
Estima-se que o número de mortes evitadas nos Estados Unidos nos últimos 10 anos somou alguns milhões com o fortalecimento do trabalho focado na medicina baseada em evidências e em valor em saúde com práticas de qualidade. Sistemas de compliance são importantes e times cujos pontos centrais de trabalho são a qualidade e a segurança do cuidado são absolutamente fundamentais. Até porque a experiência do paciente demanda justamente isso.
Sem desperdícios
O que temos de concreto é: a inflação de fato não é somente médica, ela é principalmente assistencial, com contribuição de vários agentes que trabalham em busca de tornar o serviço médico melhor e mais eficiente. E sem esse suporte, acredito que não teríamos evoluído como conseguimos. Mas a inflação médico-assistencial também é fruto de uso abusivo e desnecessário, e isso, sim, que é condenável.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Eduardo Rauen, nutrólogo
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
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