Mundo
Sistema de saúde em Ibiza sofre com aumento de emergências em boates devido a drogas

As chamadas para emergências acontecem a qualquer momento, principalmente durante o verão. Pablo Roig dirige sua ambulância entre o trânsito pesado e as praias cheias. Ele se depara cada vez mais com uma situação comum em Ibiza, a famosa ilha das festas na Espanha: emergências relacionadas ao uso de drogas em casas noturnas.
— Há dias em que estamos tão atarefados que mal conseguimos fazer uma pausa para comer ou tomar um café — afirmou Pablo Roig, técnico de ambulância com 47 anos.
O número de emergências envolvendo frequentadores de festas em boates se tornou tão alto que o serviço público de ambulâncias está quase no limite, segundo o sindicato local dos profissionais de saúde.
Durante os meses de pico, mais de 25% das chamadas são para boates — muitas vezes com turistas estrangeiros — o que pressiona os recursos destinados aos 160 mil residentes permanentes da ilha, diz o sindicato.
— Em algumas noites, precisamos visitar a mesma boate três ou quatro vezes — comentou José Manuel Maroto, representante do sindicato. — Existem lugares onde nós retiramos pacientes intoxicados diariamente.
Ibiza, um importante destino turístico com cerca de 3,3 milhões de visitantes no ano anterior, exemplifica o desafio que o turismo traz para a infraestrutura local. Protestos contra o turismo de massa têm crescido em várias partes da Europa, onde moradores reclamam que o excesso de pessoas sobrecarrega os serviços públicos e aumenta o custo de vida.
Conhecida pela vida noturna desde os anos 1970, Ibiza sempre teve um vínculo com o consumo de drogas nas festas. Maroto, com mais de três décadas de experiência em socorro, aponta que o aumento dos preços das superboates e a maior oferta de drogas experimentais acessíveis agravaram a situação.
Os ingressos para esses grandes locais, que podem comportar até 10 mil pessoas, custam mais de 100 euros, e bebidas chegam a 25 euros cada. As drogas têm se tornado uma alternativa mais barata ao álcool em noites que já são caras.
Apesar de ilegais, drogas como ecstasy, cocaína, tusi, anfetaminas e psicodélicos são amplamente usadas, e as tendências mudam com o tempo, atualmente a ketamina está em alta, contou Maroto.
Antes da temporada de festas, os profissionais de saúde tentam prever quais substâncias estarão mais presentes para se prepararem com os tratamentos adequados.
— É uma constante tentativa de acompanhar — comentou Maroto. — Eles sempre estão um passo à frente, e nós tentamos encontrar maneiras de tratar os casos.
Oito ambulâncias e unidades móveis de terapia intensiva operam normalmente todas as noites, atendendo em média 70 chamadas, de acordo com Maroto.
Os casos relacionados a drogas são particularmente complexos, pois muitas vezes envolvem pessoas inconscientes, o que exige uma prioridade máxima devido ao risco de parada cardíaca ou morte.
No entanto, ao atender esses pacientes, os socorristas nem sempre são bem recebidos, já que os frequentadores temem ser denunciados, explicou Pablo Roig.
— Às vezes enfrentamos agressões verbais e físicas — relatou Pablo Roig.
Um atendimento típico ligado a drogas pode durar de uma a uma hora e meia, pois o paciente precisa ser tratado e estabilizado antes do transporte aos hospitais da ilha. Moradores frequentemente reclamam do tempo de espera durante o verão.
Reportagens recentes mostraram que a falta de ambulâncias disponíveis é uma queixa comum entre os residentes.
O serviço de saúde regional não comentou sobre a situação.
O sistema de saúde na Espanha é gratuito para residentes, e estrangeiros geralmente recebem atendimento sem custo.
As boates são obrigadas a ter profissionais de saúde no local, como enfermeiros. Agora, o sindicato pede que casas noturnas também contratem ambulâncias privadas para aliviar a demanda no sistema público.
— É injusto que locais que lucram milhões de dólares repassem essa responsabilidade ao serviço público de saúde — afirmou Maroto. — No final das contas, os moradores são os que arcam com os custos.
Boates tradicionais como a Amnesia Ibiza, com capacidade para 5.000 pessoas, afirmam ter equipes de saúde preparadas para emergências, e que chamadas ao serviço público são raras.
A Pacha, com capacidade para 3.000 pessoas, relatou apenas dois casos que exigiram ambulância pública neste verão, e disse estar comprometida em reduzir a pressão sobre os serviços públicos.
Pablo Roig simplificou a diferença entre emergências envolvendo drogas e outras: — Uma delas pode ser evitada com prevenção e responsabilidade — concluiu.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login