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SP: hidrômetros registram ar em vez de água e geram gastos inexistentes

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Como se não bastasse a situação crítica nos reservatórios de São Paulo, os moradores convivem agora com outra dor de cabeça: a cobrança por ar, isso mesmo, ar. Não sai uma gota sequer das torneiras, mas o hidrômetro – aquele aparelho que registra o consumo de água, continua girando e marcando um gasto que não existe. Parece até que nos canos corre uma espécie de “água fantasma”.

Consumidores fizeram vídeos mostrando o hidrômetro das casas em funcionamento mesmo sem correr água nas torneiras. E todos chegaram à conclusão que estavam pagando pelo ar que passa por dentro do encanamento.

O Fantástico foi testar. Na Zona Leste de São Paulo, fomos a casa do Abdias, que gravou um dos vídeos. Ele está pagando muito mais na conta de água e vive passando apuro.

“Amanhece sem água. Por volta de 10h30, 11h, chega. E de 17h até 19h acaba novamente. A gente tinha uma média de R$ 62,80. Neste mês de janeiro, ela deu um salto para R$ 158”, conta Abdias Almeida Alcântara, comerciante.

Na conta de fevereiro, veio um aviso: Abdias foi multado porque excedeu a sua média de consumo.

O Abdias disse que antes da água voltar, começa a passar muito ar pela tubulação. O Fantástico colocou uma pequena bexiga no local para ver se passa muito ar mesmo. O engenheiro hidráulico Antônio Giansante acompanhou a experiência. A bexiga encheu e estourou.

“Isso indiscutivelmente está mostrando que não tem água, está passando ar e que o hidrômetro está marcando essa passagem de ar”, afirmou o engenheiro hidráulico.

Hidrômetro registra diferença de 3 mil litros antes da água chegar

E após o Fantástico fechar a torneira, o relógio continuou a girar.

“Quando a torneira está fechada, por onde que o ar vai sair? Pela boia da caixa d’água, em cima da casa”, explica Antônio.

Quando o Fantástico começou a gravar, o hidrômetro registrava 141816. E quando a água chegou, quase uma hora e meia depois, o relógio marcava 142112. A quanto isso equivale? Cerca de 3 mil litros – de uma água fantasma.

Segundo a Sabesp, a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo, o Abdias não necessariamente vai pagar tudo isso. A empresa diz que o ar que passa pelo hidrômetro também pode voltar e fazer o aparelho girar ao contrário.

“Pode sim entrar ar e sair ar da rede”, diz Samanta Souza, gerente de relacionamento com clientes da Sabesp.

Para o engenheiro hidráulico, o retorno do ar pode contaminar a água: “Existe risco se a instalação predial estiver com algum problema”, ele explica.

“Nós não identificamos isso até o momento, nossos números de reclamações de qualidade de água continuam os mesmos”, afirma Samanta.

Na rua do Abdias, o Fantástico encontrou quatro moradores que também pagam mais na conta d’água.

“Em agosto, o meu consumo médio era de R$ 59,04. A conta de outubro foi R$ 1.199. E, daí por diante, todos os meses, esse valor exorbitante”, conta uma moradora.

“A minha subiu desde agosto, de R$ 33 a R$ 50 reais, para R$ 133, R$ 186”, conta a auxiliar de escritório Cintia Daniela dos Santos Ferreira.

O segundo teste foi na Zona Sul, na casa do Jurandir.  Às 5h45, a água já começava a voltar na casa dele. Ao fazermos o teste da bexiga, sai ar suficiente para enchê-la.

“Em síntese então, eu estou pagando pelo ar?”, questiona Jurandir.

“Sim. Uma parte você está pagando pelo ar”, explica o engenheiro hidráulico.

Consumidores utilizam luva para fechar a passagem de ar dos registros

O Clodomir, de São Bernardo do Campo, Região Metropolitana de São Paulo, que enviou um vídeo mostrando o funcionamento da torneira de casa para o Fantástico, também fez o teste da bexiga.

Outra moradora da Zona Oeste de São Paulo fez uma experiência parecida.

“Deixar fechado né, porque pagar vento não dá”, disse Vanessa.

É o que muita gente está fazendo: fechando o registro. Mas para o engenheiro hidráulico, não está certo.

“Não é o morador que precisa tomar uma providência. É a própria operadora do serviço de água, que tem meios, tem técnicas, colocando válvulas tipo ventosas na rede para evitar esse tipo de problema que efetivamente estamos vendo que está acontecendo”, destaca Antônio.

A Sabesp diz que tem cinco mil válvulas instaladas na Região Metropolitana de São Paulo.

O Ministério Público de São Paulo pediu esclarecimentos à Sabesp sobre a possível cobrança de ar nos hidrômetros. E abriu um inquérito.

Sabesp admite que o problema existe

O presidente de Defesa do Consumidor da OAB Marco Antônio Araújo diz que as pessoas prejudicadas devem filmar o problema, para ter provas e acionar a companhia de água.

“Além disso, nós aconselhamos que ele registre uma reclamação no Procon e também na Agência Nacional de Águas, que é a agência reguladora”, completa Marco Antônio Araújo.

A Sabesp admite que o problema existe, mas diz que são poucos os casos.

“Os hidrômetros são fabricados para trabalhar em uma pressão de estabilidade, em um momento de normalidade, momento pelo qual a Sabesp não está passando hoje. De 25 mil reclamações no mês de janeiro, 20 clientes tinham sido impactados, em um universo de 4,8 milhões de ligações da Região Metropolitana de São Paulo. É mais fácil você ganhar na Quina do que você ser impactado na conta – fazendo uma proporção estatística”, a gerente da Sabesp.

A companhia afirma que revisou as contas do Abdias e do Jurandir. E que está analisando os casos.

“Eu quero que a Sabesp resolva esse problema. Não vou pagar por uma água que eu não utilizei e não estou utilizando”, reclama Abdias.

Fonte: G1

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