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Taxa de mortalidade indica que coronavírus pode ter feito mais vítimas

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Excesso de mortes durante determinado período de tempo ou onde a comunicação não é transparente apontam que balanço de mortos pode ser subestimado

Coronavírus: Segundo dados de 24 países coletados por epidemiologistas do projeto Euromomo, um pico de mortalidade foi observado na Europa a partir de março de 2020, em comparação com anos anteriores. (Aaron Chown/Getty Images)

Qual é o verdadeiro balanço do coronavírus no mundo? Segundo as estatísticas oficiais, a pandemia provocou mais de 300.000 mortes, mas se o número total de óbitos em um país for comparado com o dos anos anteriores, tudo indica que o saldo real pode ser muito maior.

Oficialmente, 12.428 pessoas morreram na Itália em decorrência da covid-19 entre 20 de fevereiro e 31 de março. Porém, no mesmo período, as autoridades constataram 25.354 mortes a mais do que a média dos últimos cinco anos.

As 12.900 pessoas mortas “sem explicação” são vítimas invisíveis do novo coronavírus?

Nos Estados Unidos, a diferença é ainda maior. Em março, mês em que o país ainda não havia sido fortemente afetado pelo vírus, a diferença entre as mortes oficiais por covid-19 (1.890) e a sobremortalidade (6.000) é três vezes maior.

E como explicar as 3.706 mortes a mais registradas na Alemanha nesse mesmo período? Oficialmente, 2.218 foram atribuídas ao coronavírus.

De acordo com a professora Yvonne Doyle, diretora de saúde pública do Reino Unido, o excesso de mortes durante um determinado período de tempo é o melhor indicador do verdadeiro impacto do coronavírus. Pelo menos em países que publicam dados confiáveis.

Esses números permitem conhecer o impacto real e também é uma medida comparável internacionalmente, explica.

“Efeito direto do vírus”

A sobremortalidade serviria para distinguir bons e maus alunos quando se trata de contar o número de mortes do coronavírus? Sim e não, segundo os especialistas.

Embora provável, é impossível afirmar com certeza que essas dezenas de milhares de mortes adicionais são todas vítimas do vírus.

“São aumentos estatísticos que precisam estar associados a uma causa e não podemos dizer a que se devem esses aumentos”, diz o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências em Saúde do Ministério da Saúde espanhol, Fernando Simón.

“Não sabemos se eles se devem a um enorme acidente de trânsito, se causados por um aumento na mortalidade por ataques cardíacos, por um aumento na mortalidade por coronavírus ou por outra doença”, acrescenta.

Para Michel Guillot, diretor de pesquisa do Instituto Francês de Estudos Demográficos (INED), esse “excesso de mortalidade é uma consequência da crise do coronavírus como um todo. Pode haver efeitos indiretos, como o aumento de outros tipos de mortes, porque as pessoas vão menos ao hospital”.

As autoridades de saúde italianas estimam que o excesso de mortalidade pode ser explicado pelo fato de haver vítimas do coronavírus que não foram identificadas, mas também por pacientes que morreram devido à saturação dos hospitais.

Mas esse peso deve ser baixo, segundo Guillot, que estima que esse excesso de mortalidade mostra claramente um “efeito direto do vírus”.

Segundo dados de 24 países europeus coletados por epidemiologistas dinamarqueses do projeto Euromomo, um pico de mortalidade foi claramente observado na Europa a partir de março de 2020, em comparação com anos anteriores.

“Não há mais nada que possa explicar esse excesso de mortalidade. Não houve uma erupção vulcânica, um terremoto na Europa… Se tivesse sido em janeiro, a gripe poderia ter sido responsabilizada, mas não é o caso”, disse à AFP Lasse Vestergaard, coordenador do Euromomo.

Os números falam por si nas áreas mais atingidas pela COVID-19. Por exemplo, o número de mortos dobrou em Paris e na província de Guayas, no Equador. O aumento chega a +568% em Bergamo, um dos principais epicentros da epidemia na Itália.

“Primeiro quadro da situação”

Os especialistas dinamarqueses no projeto Euromomo também usam outro indicador: o z-score, que é mais preciso do que uma simples comparação.

E as conclusões são evidentes. Espanha, Itália, França e Reino Unido mostram “sobremortalidade significativa” em março e abril, enquanto outros países menos afetados pela pandemia, como Noruega e Finlândia, não mostram “excesso”.

“Esses resultados são apenas um primeiro quadro da situação”, diz Vestergaard, que recomenda esperar os dados definitivos quando a pandemia recuar.

Também existem muitos países onde a comunicação sobre o assunto não é muito transparente.
Por exemplo, é impossível encontrar um balanço confiável no Irã, um país afetado pelo coronavírus desde fevereiro, pois as autoridades não publicam números sobre a mortalidade global no país desde dezembro de 2019.

Outro exemplo é a Rússia, onde o vírus matou oficialmente muito poucas pessoas, mas, de acordo com vários testemunhos, muitas mortes são classificadas como “pneumonia”, apesar dos testes positivos para covid-19. E na China, berço da pandemia, a controvérsia sobre os números reais continua.

Em abril, muitos especialistas consideravam que o número de mortos era subestimado, baseando-se, entre outros, no número incomumente alto de famílias que vieram coletar urnas funerárias quando o confinamento em Wuhan foi suspenso.

 

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