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Trump sanciona o Brasil com tarifa alta e mira os Brics

A tarifa comercial de 50% imposta pelos Estados Unidos (EUA) ao Brasil, prevista para começar em 1º de agosto, é vista como uma sanção econômica com motivações políticas, principalmente visando o grupo dos Brics e protegendo as grandes empresas de tecnologia americanas, conhecidas como big techs. Além disso, a medida busca interferir no processo político e judicial brasileiro.
O Professor Doutor Pedro Linhares Rossi, do Instituto de Economia da Unicamp, aponta que a decisão do presidente americano carece de racionalidade econômica.
Especialistas consultados pela Agência Brasil enfatizam que a justificativa comercial para essa sanção não se sustenta, especialmente porque o Brasil não contribui de forma significativa para o déficit comercial dos EUA, contrariamente à alegação do ex-presidente Trump. O impacto do Brasil na economia americana é relativamente pequeno.
Para Pedro Rossi, a medida é mais uma ação política do que comercial: “Do ponto de vista comercial, não há propósito claro. O Brasil não é crucial para a economia americana, embora seja importante em alguns setores. São arroubos políticos usando um instrumento comercial para outros fins, tentando ameaçar e chantagear o país.”
Dados oficiais dos EUA indicam que o superávit comercial com o Brasil aumentou 31,9% em 2024, alcançando US$ 7,4 bilhões a favor de Washington, valor bastante superior ao registrado pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, que calculou um superávit americano de US$ 284 milhões em 2023.
Sobre o grupo dos Brics, Rossi acredita que a pressão visa responder à posição do Brasil dentro desse bloco: “Trump viu o Brasil como um país para ameaçar sem grandes consequências econômicas para os EUA, uma reação direta à participação brasileira na cúpula dos Brics.”
Camila Feix Vidal, professora de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina, ressalta que a decisão veio logo após a cúpula do Brics e tem uma clara motivação política, tentando interferir no sistema jurídico brasileiro.
A carta de Trump também defende o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado, com aliados buscando apoio norte-americano para contestar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Luiz Carlos Delorme Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ, destaca que o direito internacional não permite o uso unilateral de tarifas para fins políticos, classificando o ato dos EUA como abusivo e ilegítimo. Segundo ele, esse tipo de conflito deveria ser tratado pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Prado menciona que, desde o governo Obama, os EUA vêm enfraquecendo a OMC ao não indicar juízes para resolver disputas comerciais.
Trump justifica a tarifa como necessária para corrigir uma relação comercial injusta devido a barreiras tarifárias e não tarifárias brasileiras, mas especialistas explicam que essas tarifas são fruto de negociações comerciais e distintas realidades econômicas entre os países.
Pedro Rossi reforça que é natural haver déficits ou superávits comerciais e que eles não configuram por si só uma relação injusta, pois refletem a especialização econômica e complementaridade entre os países.
Em resposta às ações americanas, os analistas concordam que o Brasil deve aplicar a Lei de Reciprocidade. Prado afirma que o Brasil não tem outra alternativa a não ser responder com os meios disponíveis, sempre aberto à negociação, mas ciente da grande assimetria de poder entre os dois países.
Camila Vidal aponta que a estratégia de Trump pode unir forças políticas brasileiras em defesa da soberania nacional, evidenciando que interesses estrangeiros não coincidem com os nacionais.
Pedro Rossi observa que a situação pode incentivar o Brasil a diversificar suas parcerias comerciais, fortalecer relações com Europa, Ásia, África e os próprios Brics, além de impulsionar a indústria nacional, gerando emprego e renda, e afastando o país da dependência dos Estados Unidos.

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