Desde que Howard Carter topou com a tumba quase intacta de Tutancâmon, em novembro de 1922, o faraó-menino, que governou o Egito entre 1.336 a.C. a 1.327 a.C. e assumiu o trono quando tinha cerca de 8 anos, entrou para a história, mesmo que seu reinado não tenha sido especialmente marcante. Uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos está ganhando uma comemoração antecipada e em grande estilo para seu centenário: a exposição King Tut: Treasures of the Golden Pharaoh (“Rei Tut: Tesouros do faraó dourado”, em tradução livre), aberta no California Science Center, em Los Angeles, Estados Unidos, e promovida conjuntamente pelo museu, pelo Ministério de Antiguidades do Egito e pela empresa IMG.
É a primeira parada de uma turnê por dez cidades, com cerca de 150 peças, o triplo de exibições anteriores, 40% das quais deixam o Egito pela primeira vez. Ao final da jornada –prevista para durar até sete anos–, os objetos retornam definitivamente para seu país de origem, para serem dispostos no novo Grande Museu Egípcio, no Cairo, o qual deve ser inaugurado ainda em 2018. “Cada artefato da exposição é importante para a história do Rei Tut, nos ajudando a aprender como eles eram usados na vida cotidiana [do faraó] e na preparação para sua jornada rumo à vida após a morte”, disse o presidente do California Science Centre, Jeff Rudolph.
VEJA visitou a exposição, que procura instigar o espectador com pirotecnias reminiscentes dos parques da Disney: numa sala escura uma tela circular explica alguns dos fundamentos das crenças dos antigos egípcios, como, por exemplo, a ideia de que uma pessoa morria duas vezes — a primeira, quando a alma deixava seu corpo, e a segunda, quando seu nome era mencionado pela última vez. Na salas seguintes do terceiro andar, a iluminação dramática e o desenho de som envolvente mergulham o público naquele universo, usando também a tecnologia, como vídeos que exploram alguns dos objetos em três dimensões, para explicar o significado de cada um dos artefatos colocados na tumba de mais de 3.300 anos de idade.
Os antigos egípcios acreditavam que a pessoa necessitava de ajuda para fazer a travessia para a vida pós-morte. Sendo um faraó, Tutancâmon tinha desde “criados” — um para cada um dos dias do ano, representados por estátuas em miniatura que, por meio de mágica, dariam origem a pessoas em tamanho normal no outro plano — até objetos diversos, como um escudo de madeira com a imagem do faraó lutando contra leões, ou uma estátua do rei-menino jogando um arpão em um animal que supõe-se ser um hipopótamo.
No meio das camadas de linho envolvendo sua múmia, os arqueólogos encontraram também diversos amuletos para ajudá-lo na travessia, como colares que lhe confeririam poderes mágicos para enfrentar as dificuldades do além.
Uma das peças mais impressionantes é o caixão em miniatura, uma réplica do famoso sarcófago dourado. O mini-sarcófago é protegido pela deusa Ísis e por Imseti, um dos quatro filhos do deus Hórus. O pequeno sarcófago foi esculpido para abrigar o fígado de Tutancâmon — no processo de mumificação, o órgão era retirado, assim como o estômago, o intestino e os pulmões. Cada um era colocado num mini-sarcófago, que por sua vez era encaixado numa caixa de alabastro mantida num altar dourado.
Em outras salas, no primeiro andar, a exposição mostra como a catalogação feita por Carter serviu de modelo para descobertas arqueológicas posteriores e como a tecnologia tem ajudado a desvendar outros mistérios relacionados a Tutancâmon –como a causa de sua morte, aos 19 anos de idade– e ao Egito Antigo.
Por fim, King Tut convida o espectador a uma experiência interativa, seguindo as crenças dos antigos egípcios: repetir o nome de Tutancâmon para que ele nunca morra. Nada mau para um faraó que quase foi apagado dos registros, quando seus sucessores tomaram para si as obras do rei-menino ou simplesmente as destruíram. Tutancâmon foi resgatado graças a outro menino, que tropeçou num dos degraus da escada que levava à tumba ao escavar o chão para apoiar as garrafas de água que fornecia para os arqueólogos liderados por Howard Carter. E assim, quase cem anos atrás, Tutancâmon saiu da obscuridade para passar à história.
Serviço
A exposição King Tut: Treasures of the Golden Pharaoh está aberta ao público no California Science Center em Los Angeles, nos Estados Unidos desde o último dia 24 de março. Ela permanece no local até 6 de janeiro de 2019. Os ingressos custam entre 19,20 e 29,95 dólares (entre 65 e 100 reais aproximadamente). Informações oficiais para o publico podem ser encontradas em: www.kingtutexhibition.com
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